Investigadores do Centro de Regulação Genómica (CRG) em Barcelona descobriram que, no mesmo indivíduo, coexistem várias “idades biológicas” e diferentes processos de envelhecimento.
A idade é apenas um número, e os cientistas duvidam cada vez que esse número corresponda realmente ao estado das nossas células.
Não é apenas uma questão de alguém parecer mais novo ou mais velho do que aquilo que o cartão de cidadão indica, mas sim o facto de a “idade biológica” dos tecidos ser independente da data de nascimento.
Além disso, embora fatores como a dieta e o exercício influenciem a esperança de vida, os processos que conduzem ao envelhecimento permanecem um mistério.
Como medimos a idade biológica dos seres vivos? Seriam necessários bio-marcadores que, em teoria, também mostrariam o estado geral de saúde de uma pessoa e poderiam mesmo ser utilizados para analisar se a mudança de dieta e estilo de vida ou o consumo de certos medicamentos tem um efeito positivo, retardando o processo de envelhecimento.
De certa forma, encontrar esses indicadores tornaria possível prevenir e tratar a própria velhice. O problema é que nem sequer sabemos o que causa esta deterioração ao longo do tempo. Será que alguma vez seremos capazes de a travar?
Um projeto de investigação no CRG, cujos resultados foram publicados na bioXRiv a 29 de setembro, dá agora novas pistas para responder a esta questão.
Nos últimos anos, uma equipa liderada pelo biólogo Nicholas Stroustrup criou um dispositivo chamado “máquina da vida”.
A ideia era monitorizar a vida e morte de dezenas de milhares de vermes da espécie Caenorhabditis elegans de cada vez. Este pequeno organismo de um milímetro é um dos modelos mais importantes na ciência para o estudo de processos biológicos que têm sido conservados em todas as espécies animais, apesar da evolução.
Os nematódeos, colocados numa placa de Petri, têm sido monitorizados por um scanner durante a sua vida toda — a vantagem é que vivem apenas duas semanas.
O estudo envolveu a geração de imagens uma vez por hora durante meses, para que o dispositivo recolhesse dados com uma resolução estatística sem precedentes.
Ao analisar toda esta informação, os investigadores concluíram que C. elegans tem pelo menos dois processos de envelhecimento parcialmente independentes, ou seja, duas idades biológicas diferentes, segundo noticia o El Confidencial.
Os nematódeos, colocados numa placa de Petri, têm sido monitorizados por um scanner durante toda a sua vida (a vantagem é que vivem apenas duas semanas).
O estudo envolveu a geração de imagens uma vez por hora durante meses, para que o dispositivo recolhesse dados com uma resolução estatística sem precedentes.
Ao analisar toda esta informação, os investigadores concluíram que C. elegans tem pelo menos dois processos de envelhecimento parcialmente independentes, ou seja, duas idades biológicas distintas.
Um destes processos determina uma fase comportamental já conhecida, chamada “cessação do movimento vigoroso” (conhecida pelos cientistas como VMC).
À medida que chegam à idade adulta, estes vermes exploram muito vigorosamente o seu ambiente, daí o nome, mas esta atividade desaparece num momento que é considerado um marcador do envelhecimento.
O outro processo determina a morte de C. elegans. Os cientistas do CRG descobriram que as duas formas de envelhecimento são distintas, mas de alguma forma relacionadas.
Ou seja, quando o VMC acelera, o mesmo acontece com a hora da morte e vice-versa. Isto significa que, embora cada indivíduo tenha idades biológicas diferentes, existe uma hierarquia “invisível” que regula o envelhecimento como um todo.
Stroustrup e os restantes investigadores utilizaram uma ferramenta genética que funciona através da marcação de RNA polimerase II, a enzima que produz RNA mensageiro, com uma pequena molécula.
Os cientistas alimentaram os vermes com diferentes quantidades da hormona que controla precisamente a atividade da RNA polimerase II. Assim, controlaram a longevidade dos nemátodos, tornando possível variar entre duas semanas (a sua duração média de vida) e alguns dias.
Um dos aspetos mais interessantes do estudo é que, independentemente de estas intervenções terem alterado a longevidade de C. elegans, a correlação entre as idades biológicas permaneceu constante. Por outras palavras, deve haver alguma estrutura ainda por descobrir que ligue os processos de envelhecimento.
A grande questão é saber até que ponto podemos transferir estas conclusões para os seres humanos. Dado que os vermes têm pelo menos duas idades biológicas, os peritos do CRG em Barcelona acreditam que é muito provável que as pessoas tenham muito mais, porque o seu organismo é bem mais complexo.
Se os processos de envelhecimento funcionam em conjunto, mas são independentes, é possível que diferentes partes do corpo humano ou outros animais envelheçam a ritmos diferentes, o que tem várias implicações para os cuidados de saúde.
Os C. elegans partilham connosco “genes evolutivamente conservados, tipos de células e tipos de tecidos”, relata Stroustrup, “e são também semelhantes na forma como envelhecem”, porque “perdem gradualmente o músculo e a função“.
Para Stroustrup, o novo estudo mostra que as intervenções de prolongamento da vida não atuam necessariamente de forma proporcional ao “tempo de vida”. Por outras palavras, “motivar um gene que lhe dá uma longa duração, não lhe dá necessariamente uma quantidade proporcional de vigor juvenil”.
Descubram lá isso depressa que quero chegar aos 150.