O ex-dirigente socialista português António Vitorino garantiu esta quinta-feira à agência Lusa que o seu envolvimento num caso de branqueamento de capitais é “totalmente infundada, difamatória e merecerá a correspondente reação pelas vias judiciárias apropriadas”.
“Perante a profusão de notícias que visam pôr em causa a minha integridade pessoal e as minhas atividades profissionais acionarei os mecanismos adequados para a defesa da minha reputação e do meu bom nome”, assegurou numa declaração enviada à Lusa.
Nos últimos dias, a imprensa e portuguesa e espanhola tem noticiado que a Audiência Nacional de Espanha está a investigar um caso de suspeita de corrupção de um ex-embaixador na Venezuela que, segundo várias informações, poderia envolver o ex-dirigente socialista português.
António Vitorino reitera “integralmente” a declaração que fez em 21 de janeiro passado quando refutou “veementemente as insinuações” que o envolvem neste caso.
O atual diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações reconhece que entre 2011 e 2016 prestou “serviços de consultadoria às empresas espanholas referidas” no caso, primeiro a título pessoal e depois no quadro da EMAB, a empresa de consultadoria entretanto constituída e de que foi sócio-gerente até 2017.
“Em momento algum a consultadoria em causa teve qualquer ligação com a Venezuela ou com qualquer acordo entre empresas portuguesas e venezuelanas”, sublinha António.
Em ambos os casos essa consultadoria versou, segundo a declaração, “exclusivamente assuntos relacionados com a União Europeia e as relações entre Portugal e Espanha, como explicitamente consta dos documentos de cobrança emitidos”.
“De igual modo, nunca a EMAB ou eu próprio tivemos, direta ou indiretamente, qualquer relação, operação ou transação com empresas sedeadas em ‘offshores’”, afirma o ex-dirigente socialista, sendo “a insinuação de qualquer tipo de ligação, seja a que título for, com eventuais cadeias de branqueamento” de capitais “totalmente infundada, difamatória e merecerá a correspondente reação pelas vias judiciárias apropriadas”.
António Vitorino assegura que, assim como já afirmou em 21 de janeiro último, a EMAB declarou a cessação de atividade em 31 de dezembro de 2018, conforme pode ser comprovado no portal oficial. “Confirmo que em momento algum recebi das autoridades espanholas qualquer indicação sobre uma investigação que envolvesse a EMAB”, garante.
Quatro pessoas detidas em maio
A polícia espanhola deteve em maio passado quatro pessoas no quadro de uma investigação ao ex-embaixador da Espanha na Venezuela Raul Morodo, suspeito de lavagem de capitais relacionados com a empresa estatal Petróleos da Venezuela.
Como a Lusa noticiou na altura, um dos detidos pelo departamento de luta contra a criminalidade económica e fiscal (UDEF) foi Alejo Morodo, filho do ex-embaixador.
A investigação tinha sido iniciada a partir de uma denúncia do gabinete do procurador-geral contra a corrupção que quantificou em 4,5 milhões de euros o dinheiro cobrado de forma irregular à petrolífera venezuelana por Raul Morodo.
Segundo a imprensa espanhola o ex-embaixador na Venezuela e o filho “fizeram vários pagamentos no total de 325.200 euros a um político socialista e ex-ministro da Defesa português, António Vitorino, depois de receberem 4,4 milhões de euros da companhia petrolífera estatal PDVSA, que na época era controlada pelo governo de Hugo Chávez.
Nos relatórios ao juiz Santiago Pedraz da Audiência Nacional, a UDEF “indica que estes pagamentos poderiam ter sido realizados pelo facto de tanto os Morodos como o socialista Vitorino terem mediado a conclusão de um negócio, pelo qual a empresa portuguesa Galp se comprometia a construir quatro parques eólicos na Venezuela e a comprar petróleo bruto da petroleira PDVSA”.
Fonte da Audiência Nacional, tribunal que trata, entre outros, dos delitos mais graves de corrupção contra o Estado espanhol, disse na segunda-feira à agência Lusa que o caso ainda está na fase inicial de inquérito/instrução, não podendo ser prestadas informações sobre o andamento das várias diligências em curso.
Em 21 de janeiro, em resposta a uma notícia do jornal El Mundo sobre o mesmo caso, António Vitorino já tinha afirmado que “em momento algum” recebeu das autoridades espanholas qualquer indicação sobre uma investigação que envolvesse uma empresa de consultadoria de que foi sócio-gerente “e que se encontra suspensa e sem qualquer atividade desde 2018”.
// Lusa
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