No meio da tempestade, a França tem um grande guarda-chuva nuclear. Macron quer abrigar-nos com ele

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Stephanie Lecocq/EPA

Emmanuel Macron

Macron divide opiniões em França: alargar estrategicamente a sua capacidade de defesa com a Europa é uma “partilha”, ou pode trazer vantagens? Até agora, a Europa nem queria a proteção francesa. Mas, agora, tudo mudou, e há uma nova “ameaça”.

Esta quarta-feira, o Presidente Emmanuel Macron lançou a ideia de que a “força de dissuasão” da França (“force de frappe”) podia ser alargada a outros países europeus.

Como cita o Le Monde, o presidente francês descreveu a Rússia como uma “ameaça para a França e a Europa”, e sabe que a França tem um poder inigualável na Europa: 290 ogivas nucleares, prontas a serem detonadas.

Quando comparadas com a capacidade armamentista da Rússia (5889 armas desse tipo) ou dos EUA (5244), podem parecer pouco, mas a única potência europeia que lhe chega aos calcanhares é o reino Unido, com 225. O problema: o Reino Unido depende dos EUA para as detonar, e a França não: o seu arsenal é soberano.

As bases dessa independência estratégica foram, na verdade, lançadas já na década de 60 por Charles de Gaulle.

Mas, agora, Macron sugere (e quer agendar essa discussão com os parceiros europeus) estender a proteção nuclear à Europa, “abrigando-nos” no seu poderoso “guarda-chuva”.

“Quero acreditar que os Estados Unidos vão ficar do nosso lado, mas temos de estar preparados para que não seja esse o caso”, disse, de forma direta. “O futuro da Europa não tem de ser decidido em Washington ou em Moscovo”.

A extrema-direita e a esquerda do país é que não ficaram contentes. Segundo avança a BBC, as críticas internas dizem que é errado “partilhar” o arsenal nuclear francês.

Por outro lado, os membros do governo afirmam que “partilhar” não é a palavra certa: o dispositivo de dissuasão nuclear “é francês e continuará a sê-lo, desde a sua conceção, passando pela sua produção, até à sua exploração, por decisão do Presidente”, diz o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu.  Trata-se, sim, de um alinhamento estratégico com a Europa.

“No passado, quando a França fez propostas para alargar a proteção nuclear, os outros países mostraram-se relutantes em responder“, diz o analista Pierre Haroche. “Não queriam enviar o sinal de que não tinham total confiança nos Estados Unidos e na NATO. Agora, são os países a pedir, numa altura em que a Europa está cada vez mais focada na sua auto-proteção.

“A credibilidade da dissuasão nuclear dos EUA já não é o que era. Isso abriu o debate e levou os alemães a verem com mais bons olhos a ideia de ficarem sob um guarda-chuva francês e/ou britânico.”

“Se os Estados Unidos estiverem menos presentes, os países europeus dependerão muito mais uns dos outros. O nosso mundo estratégico torna-se mais horizontal”, afirma. “Neste novo mundo, é importante criar confiança e segurança entre nós. O facto de a França dar sinais de que está preparada para assumir riscos em apoio de outros ajuda a criar uma frente sólida.”

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

2 Comments

  1. Muito bem deixar-nos de ser os coitados , mas sim fortes em todos os aspetos para nossa defesa e não para atacar, se os outros poderosos fora da europa têm para ameaçar e humilhar os outros, porque não nós europeus? viva o Macron que admiro jovem e vê melhore as coisas do que a velhada.

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