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Ninguém sabe quem é a mulher na primeira nota emitida pelo Banco do México

(dr) Banco do México

A mulher estampada na primeira nota de cinco pesos emitida pelo Banco do México alimentou um mistério que, para muitos mexicanos, dura até hoje.

Com os olhos grandes e claros, feições delicadas, brincos grandes e jóias em volta da cabeça e do colo, a sua imagem circulou durante quase meio século, de 1925 a 1970. Porém, a nota não tem nem uma linha sobre a sua biografia.

Desde que a cédula entrou em circulação, há um rumor de que a mulher – conhecida popularmente como “a cigana” – seria amante do secretário de Fazenda da época, Alberto J. Pani, que ocupou o cargo entre 1923 e 1927.

O seu suposto romance com uma atriz catalã chamada Gloria Faure, pivô de um escândalo que quase abalou as relações entre México e Estados Unidos, só reforçou a lenda. Para alguns, inclusive, a rapariga que estampa a nota é “Gloria, a cigana”.

Pani levou a atriz Gloria Faure como sua acompanhante a uma viagem que fez a Nova Iorque como ministro de Estado em setembro de 1925 com o objetivo de fechar acordos com banqueiros de Wall Street. Sabia-se, na época, que tinham um caso, como mostra a investigação de Mariana Saucedo, especialista em numismática do Banco do México e autora de Extraordinárias Mulheres nas notas do México.

A informação também aparece no livro Behind the Throne: Servants of Power to Imperial Presidents, 1898-1968, de Robert Freeman Smith.

Ambos os especialistas ressaltam que a presença de Faure e a sua relação com o titular da pasta passou a ser um problema durante as negociações com os banqueiros, entre eles Thomas W. Lamont. “Em Nova Iorque, os ultraconservadores contrataram detetives privados para seguir o ministro da Fazenda. Os relatos das suas idas e vindas com Gloria Faure foram enviados a Lamont”, destaca Freeman Smith.

Ainda que os banqueiros não tenham dado muita atenção às denúncias de adultério, passaram o que sabiam à imprensa, de acordo com a BBC. Na edição de 14 de outubro daquele ano, o jornal New York Daily Mirror destacava “uma fotografia de uma bela mulher de cabelos pretos com um vestido provocativo com comprimento acima dos joelhos intitulada ‘O senhor Pani é um amante encantador'”, disse Freeman Smith.

A notícia virou um escândalo e o ministro chegou a ser acusado de tráfico de pessoas. “Pani foi detido no quarto de hotel e colocado à disposição das autoridades. Foi um papelão: o ministro esteve a ponto de se demitir e as relações entre os dois países quase foram rompidas”, explica a especialista.

As notícias chegaram ao México e, no Congresso, os deputados criticaram duramente a postura de Pani durante a missão oficial em Nova Iorque.

O rumor sobre as relações extraconjugais de Pani e a mulher da nota de 5 pesos surgiu a partir desse episódio. “Conforme a lenda numismática, Pani, envergonhado pela humilhação que sofreu no país vizinho, teria entregue a foto da sua amante à American Bank Norte Company para que estampassem as primeiras notas emitidas pelo Banco do México”, afirma Saucedo.

Isto porque a empresa americana foi responsável pelo desenho e impressão das notas, contou o diretor geral de emissões do Banco do México, Alejandro Alegre. O Banco Central do México foi criado em 1925, mas apenas a partir de 1969 passou a imprimir a própria moeda internamente. Até então, era produzida fora do país. A primeira nota foi de 5 pesos, sendo depois emitidas notas de 10, 20, 50, 100, 500 e 1.000 pesos.

“A American Bank Note Company propunha, a pedido do banco, os desenhos que estampariam frente e verso das notas”, pontua.

O responsável pelo desenho da mulher foi Robert Savage, considerado um dos artistas de gravuras de maior destaque dos Estados Unidos do século XX. A gravura estampada com buril (ferramenta de aço para gravação em madeira e ferro) foi criada em 1910 – 15 anos antes, portanto, da impressão da nota – pelo artista e está registada com o nome “cabeça ideal de uma jovem argelina” com o código C-1031.

“Dentro das propostas apresentadas havia o retrato da jovem argelina. Com certeza, a imagem caiu no gosto de quem tinha o poder de decidir como as notas seriam adornadas”, resume Alegre. Ainda assim, nem os especialistas em numismática do México nem os dos Estados Unidos conseguiram determinar quem foi a mulher imortalizada por Savage.

ZAP //

 

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