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NFT. Os “tokens não fungíveis” custam milhões (e às vezes “desaparecem” após a compra)

Jason Szenes / EPA

Galeria de arte digital NFT, em Nova Iorque.

Os NFT ganharam uma grande popularidade nos últimos tempos, sendo que podem custar milhões de euros. Há denúncia na internet de que alguns “desaparecem” após a compra.

Um token não fungível (NFT, em inglês) é um tipo especial de token criptográfico que representa algo único. Trocado por miúdos, é uma tecnologia que permite verificar a titularidade de um ficheiro digital.

Tipicamente, uma imagem de computador pode ser copiada e colada infinitamente, gerando várias cópias de um original desconhecido. Um ficheiro que seja associado a um NFT permite saber qual o ficheiro original e quem é o seu dono.

Os NFT ganharam especial relevância quando, este mês, uma “colagem digital” do artista Beeple foi vendida em leilão através da internet por 69,4 milhões de dólares (58,4 milhões de euros), um valor recorde para obras não físicas.

A obra chama-se “Todos os dias: os primeiros 5.000 dias”, uma colagem de fotografias tiradas pelo artista desde maio de 2007 ao longo de 5.000 dias.

Até a robô Sophia pintou um autorretrato e vendeu-o por quase 700 mil dólares.

Desde então, a “febre” dos NFTs tem-se intensificado, com cada vez mais obras a serem vendidas e por preços mais elevados. E há um outro fenómeno que tem acompanhado este frenesim: após a compra, alguns NFTs estão a desaparecer.

No mês passado, Tom Kuennen desembolsou 500 dólares em criptomoedas por um ficheiro JPEG de um “Moon Ticket” de Elon Musk, obra da DarpaLabs. Ele comprou-o através do mercado OpenSea, um dos maiores fornecedores de NFTs, na esperança de revendê-lo com lucro, escreve a VICE.

Uma semana depois, ele abriu a sua “carteira” digital, onde a obra de arte supostamente estaria disponível, e deparou-se com o seguinte aviso: “Não conseguimos encontrar a página que está a procurar”. A imagem tinha desaparecido.

“Não há registo da minha compra ou posse”, disse Kuennen. “Agora não há nada. O meu dinheiro foi-se”.

Nos últimos meses, várias pessoas reclamaram nas redes sociais que os seus NFTs tinham “desaparecido”, ou estavam de outra forma indisponíveis.

A verdade é que as suas preciosas obras de arte não foram roubadas ou misteriosamente eliminadas. A resposta, ao que parece, aponta para o funcionamento complexo dos NFTs, que muitas vezes são mal compreendidos – até mesmo por pessoas dispostas a desembolsar milhões de euros por eles.

Quando se compra um NFT, não estamos propriamente a comprar um ficheiro de uma imagem. Em vez disso, compramos um bocado de código que faz referência a uma media localizada noutro lugar da internet. É aqui que o problema começa para muitos.

Na realidade, ao comprar o NFT, estamos a “cunhar” uma nova assinatura criptográfica que, quando descodificada, aponta para uma imagem hospedada noutro lugar.

Assim, quando Kuennen comprou o “Moon Ticket”, não havia ficheiro JPEG no site, mas sim um certificado que levava a um URL. Este pode ser suprimido por uma série de razões, incluindo violação de direitos de autor e obras de arte roubadas.

Kuennen não se mostrou satisfeito com a explicação, já que não entende como é que o seu NFT pode ter violado os termos e condições do mercado onde o comprou. Além disso, também não recebeu qualquer tipo de aviso aquando da remoção do NFT.

No final, descobriu-se que o caso do NFT desaparecido de Kuennen resumia-se a duas causas: uma violação dos termos de serviço no OpenSea que resultou na supressão da imagem e um padrão ERC-1155 ilegível que o tornou inacessível no Etherscan.

Bastou ao canadiano associar a sua carteira a um mercado diferente, onde o NFT não foi retirado, para conseguir abri-lo e vê-lo.

Daniel Costa, ZAP //

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