Netanyahu está chateado com o “fracassado” Exército, que lhe escondeu dados cruciais sobre o Hamas

Abir Sultan / EPA

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou o Exército de lhe esconder os resultados das investigações sobre os ataques Hamas de 7 de outubro de 2023, que desencadearam a guerra na Faixa de Gaza.

O Exército israelita terá ocultado a Netanyahu investigações das FDI [Forças de Defesa de Israel] sobre ataques do grupo palestiniano Hamas, que desencadearam a Guerra no Médio Oriente.

“Estas investigações foram apresentadas ao ministro da Defesa, à liderança das FDI e a vários jornalistas. Surpreendentemente, apenas uma parte não recebeu as investigações: o primeiro-ministro”, escreveu o gabinete de Netanyahu, numa carta dirigida às autoridades militares, citada pela agência France-Presse (AFP).

O chefe de gabinete do primeiro-ministro israelita, Tzachi Braverman, argumentou que Netanyahu deveria receber estes relatórios sem ter de os solicitar.

O ministro da Defesa israelita Israel Katz ordenou ao chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi, que envie todas as investigações militares internas sobre o 7 de outubro até fevereiro de 2025 e disse que não aprovará a nomeação de novos oficiais generais até lá.

As investigações militares dizem apenas respeito às FDI e não cobrem todas as razões e áreas que poderiam impedir a repetição destes eventos”, disse, na altura, Halevi, que anunciou a sua intenção de se demitir em meados de janeiro e deverá deixar o cargo no dia 6 de março.

Exército israelita admite “fracasso total”

O Exército israelita reconheceu o “fracasso total” para impedir os ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023.

O relatório, divulgado esta quinta-feira, conclui que o Hamas fez o ataque mais mortífero da história de Israel, porque o Exército avaliou mal as intenções do grupo islamita palestiniano e subestimou as suas capacidades.

Um equívoco central era de que o Hamas, que tomou o controlo da Faixa de Gaza em 2007, estava mais interessado em manter o território do que em lutar contra Israel.

Os analistas militares previram que, na pior das hipóteses, o Hamas poderia organizar uma invasão terrestre no máximo de oito pontos fronteiriços, segundo uma autoridade do Exército citada pela agência AP, quando, na verdade, o grupo armado palestiniano tinha mais de 60 rotas de ataque.

Dados dos serviços de informações israelitas obtidos após os ataques mostraram que o Hamas esteve perto de organizar a ofensiva em três ocasiões anteriores, mas adiou-a por razões desconhecidas, referiu também a autoridade.

A mesma fonte assinalou que, nas horas que antecederam a invasão terrestre, houve sinais de que algo estava errado, como a introdução de cartões SIM israelitas nos telemóveis dos combatentes palestinianos.

Muitos israelitas culpam Netanyahu

Muitos israelitas acreditam que os fracassos de 7 de outubro de 2023 vão além do Exército e culpam Netanyahu por uma política falhada de dissuasão e contenção nos anos que antecederam os ataques.

Esta abordagem, sustentam estas posições, permitiu que o Qatar enviasse malas de dinheiro para a Faixa de Gaza e a marginalização do rival do Hamas, a Autoridade Palestiniana, que é reconhecida internacionalmente.

A perceção de que o Hamas não queria a guerra fez com que os decisores políticos evitassem tomar medidas que pudessem ter frustrado os ataques.

O responsável militar israelita realçou que as informações mostram que Yahya Sinwar, um dos mentores do 7 de outubro e que foi morto em outubro passado, começou a planear a ofensiva em 2017.

Netanyahu não assumiu responsabilidades, dizendo que só responderá a perguntas difíceis depois da atual guerra na Faixa de Gaza.

Os ataques sem precedentes do Hamas no sul do território israelita em 7 de outubro de 2023 fizeram cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala, que provocou mais de 48 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais, e destruiu o enclave palestiniano.

As partes chegaram a um acordo de cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro, mas a dois dias do término da primeira de três fases ainda não foram negociados os termos da segunda, que deveria pôr termo à guerra.

ZAP // Lusa

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