Netanyahu admite que pode ser culpado por “falhas” no ataque do Hamas

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Abir Sultan / EPA

Benjamin Netanyahu, antigo primeiro-ministro de Israel

“Todos serão responsabilizados, inclusive eu”. Biden diz não ter exigido adiamento da ofensiva terrestre a Gaza, onde “nenhum lugar é seguro.”

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, admitiu que também deverá ser responsabilizado pelas falhas de segurança que permitiram o ataque do movimento islamita palestiniano Hamas em Israel, em 07 de outubro… mas só depois da guerra.

“Examinaremos detalhadamente até ao fim o que aconteceu, as falhas serão examinadas e todos serão responsabilizados, inclusive eu. Mas tudo isso acontecerá depois da guerra”, disse Netanyahu num discurso à nação esta noite.

A confiança dos cidadãos israelitas no seu Governo encontra-se no nível mais baixo dos últimos 20 anos, segundo uma sondagem divulgada na segunda-feira. Depois do início da guerra com o Hamas, desencadeada após o ataque surpresa efetuado a 07 de outubro pelo grupo islamita ao território de Israel, só 20,5% dos israelitas inquiridos afirmam continuar a confiar no Governo de Benjamin Netanyahu para gerir a atual crise.

O diário israelita Yedioth Ahronoth noticiou na segunda-feira que três membros do executivo, cujos nomes não foram indicados, estão a ponderar demitir-se, em resposta à incapacidade do Governo e do sistema de segurança para impedir ataques como o ocorrido a 07 de outubro e lidar com as suas consequências.

Ofensiva israelita tem dois objetivos

No seu discurso, o primeiro-ministro israelita abordou também a ofensiva terrestre em preparação na Faixa de Gaza.

“Estabelecemos dois objetivos: eliminar o Hamas e fazer todos os possíveis para devolver as pessoas sequestradas a casa. Estamos a preparar-nos para uma entrada por terra. Não especificarei quando ou as razões que serão levadas em conta”, afirmou.

Esta declaração surge após vários jornais norte-americanos, incluindo o The Wall Street Journal, terem relatado que Israel concordou em adiar o ataque para que os EUA pudessem implantar novos sistemas de defesa aérea com vista a proteger as suas tropas destacadas no Médio Oriente.

Segundo fontes citadas pelo WSJ, o Pentágono quer implantar quase uma dúzia de sistemas de defesa aérea na região, inclusive para proteger militares norte-americanos destacados no Iraque, Síria, Kuwait, Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. As autoridades norte-americanas esperam conseguir instalar essas defesas no terreno até ao final desta semana.

Oficiais norte-americanos consideram extremamente preocupantes as ameaças contra as suas tropas, acreditando que estas serão alvo de vários grupos militantes quando a incursão começar. Até agora, no Iraque e na Síria, ocorreram pelo menos 13 ataques deste tipo, utilizando ‘drones’ e mísseis.

No entanto, outra fonte do Pentágono negou esta versão à rede de televisão Al-Jazeera e sublinhou que não só não teve conhecimento de qualquer pedido relacionado com estas operações, mas também que Washington não determina a hora ou a forma das operações israelitas.

Os EUA já confirmaram que há um cenário que os colocará na guerra em Gaza, avisou Ariel Bulstein, representante oficial do Governo de Israel.

No Canal 24, Ariel Bulstein começou por contextualizar: o Holocausto, na II Guerra Mundial, ensinou os EUA a defender-se e a combater qualquer agressor que queira destruir Israel.

E, continua, os EUA estão prontos para responder se a situação no Médio Oriente se agravar.

A Casa Branca deixou ordens expressas: dar sinal ao Irão de que não haverá tolerância caso os iranianos se aproveitem desta situação para atacar Israel a partir de outras frentes.

“Joe Biden e os representantes dos EUA deixaram claro que não ficarão de braços cruzados nesse cenário”.

“As palavras do presidente dos EUA avisam: se o Irão se envolver abertamente num confronto militar ao lado do Hamas, então os EUA não vão continuar longe desta batalha entre o bem e o mal“, analisou Bulstein.

Biden diz não ter exigido adiamento da ofensiva

O Presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou esta quinta-feira não ter exigido a Netanyahu que adiasse uma eventual ofensiva terrestre à Faixa de Gaza até à libertação dos reféns do Hamas.

“Não. A decisão foi deles, eu não a exigi”, declarou Biden em resposta a uma pergunta em conferência de imprensa.

“O que eu lhe disse (a Netanyahu) foi que se for possível retirar essas pessoas em segurança, é isso que ele deve fazer”, precisou.

Reiterando que Israel tem não só o direito mas também “o dever” de se defender, Biden acrescentou que o país deve fazer “tudo o que estiver ao seu alcance para poupar os civis” palestinianos.

Observou, contudo, que não “tem confiança” nos balanços de mortos na Faixa de Gaza fornecidos pelos palestinianos.

O chefe de Estado norte-americano apelou igualmente para que os ataques de colonos israelitas a palestinianos na Cisjordânia “parem de imediato”.

Israel mostra vídeo de operação com tanques em Gaza

As Forças de Defesa de Israel (IDF) publicaram esta quinta-feira a operação tática da última madrugada no Norte da Faixa de Gaza com tanques israelitas.

Foram atingidas infra-estruturas ligadas ao Hamas e outros pontos estratégicos, uma “parte da preparação para as próximas etapas do combate”. Após a conclusão da operação, os tanques e soldados regressaram a território israelita.

No anúncio feito por Israel nas redes sociais, descreve-se o ataque contra infra-estruturas terroristas e trabalhos de organização da área.

“Nenhum lugar é seguro em Gaza”. Irão fala em descontrolo

A coordenadora dos assuntos humanitários da ONU para os territórios palestinianos alertou que “nenhum lugar é seguro em Gaza”.

Lynn Hastings afirmou em comunicado que os “avisos prévios” emitidos pelo exército israelita para que as pessoas se retirem das zonas que pretende atingir “não fazem qualquer diferença”. “Nenhum sítio é seguro em Gaza”, afirmou, citada pela agência francesa AFP.

Já o chefe da diplomacia iraniana alertou para um possível descontrolo na guerra entre Israel e o Hamas.

“O apoio total e cego dos EUA e de alguns países europeus ao regime israelita atingiu um ponto preocupante e existe a possibilidade de se perder o controlo da situação”, disse Hossein Amir Abdollahian à agência iraniana IRNA.

Abdollahian disse que o Irão quer a cessação imediata dos “crimes de guerra e genocídio” na Faixa de Gaza, a entrega de ajuda humanitária e o fim da deslocação forçada da população do enclave palestiniano.

“Isso pode ser incluído em qualquer resolução” da ONU, afirmou, segundo a agência espanhola EFE.

O diplomata elogiou o grupo islamita palestiniano Hamas, que o Irão apoia e financia, como um “movimento de libertação palestiniano” que tem agido contra a ocupação israelita, o que, segundo Abdollahian, é aceite pelo direito internacional.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão disse ainda à IRNA que tenciona apresentar as posições da República Islâmica sobre a questão palestiniana na Assembleia Geral e manter conversações com o secretário-geral da ONU, António Guterres.

O exército israelita acusou o Irão de ter ajudado o Hamas no ataque de 07 de outubro contra Israel, em que foram mortas 1.400 pessoas e raptadas duas centenas de pessoas mantidas como reféns em Gaza, segundo Telavive.

ZAP // Lusa

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