Um documento expôs recentemente a maior petrolífera dos EUA, a Exxon Mobil, acusada de enganar os seus acionistas sobre o seu impacto. Agora, sabe-se que não foi a única.
A Exxon Mobil, empresa multinacional de petróleo e gás, conhecia as mudanças climáticas provocadas pelo homem e os perigos da queima de combustíveis fósseis desde a década de 1970, mas trabalhou ativamente para minimizar as advertências dos seus cientistas. Acontece, porém, que não eram apenas as gigantes do petróleo que sabiam do seu impacto. Aliás, a indústria do carvão estava ciente do problema ainda mais cedo.
Um artigo redescoberto revelou que figuras influentes da indústria do carvão estavam cientes do seu papel na mudança climática e na poluição do ar em meados da década de 1960. Chris Cherry, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade do Tennessee, desenterrou uma cópia de 1966 do Mining Congress Journal e encontrou um artigo escrito por James Garvey, então presidente da Bituminous Coal Research Inc.
No artigo com 53 anos, Garvey escreveu: “Há evidências de que a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera da Terra está a aumentar rapidamente como resultado da combustão de combustíveis fósseis. Se a taxa futura de aumento continuar como está no presente, foi previsto que a temperatura da atmosfera da Terra aumentará e resultarão vastas mudanças nos climas da Terra”.
“Tais mudanças na temperatura causarão o derretimento das calotas polares, o que, por sua vez, resultaria na inundação de muitas cidades costeiras, incluindo Nova York e Londres”, concluiu.
Em declarações ao HuffPost, que avança a notícia, Cherry explicou que o artigo “descreveu muito bem uma versão do que conhecemos hoje como mudança climática. Aumentos nas temperaturas médias do ar, derretimento das calotas polares, aumento do nível do mar. Está tudo lá”.
Em resposta ao artigo de Garvey, James Jones, um engenheiro de combustão da Peabody Coal, reconheceu que a indústria do carvão está a contribuir para a poluição do ar, mas permaneceu calado na questão das mudanças climáticas. No entanto, observou que estamos “a ganhar tempo” quando se trata de resolver o problema, descrevendo a situação como “urgente”.
O artigo de Garvey sugere que as ideias sobre a mudança climática estavam a começar a circular entre a ciência e os grandes negócios.
O ScienceAlert recorda que os perigos da mudança climática chegaram às primeiras páginas dos jornais, há mais de 100 anos, em 1912, e foram escritos na imprensa popular já em meados do século XIX. Embora a nossa compreensão científica de muitos dos processos envolvidos nas mudanças climáticas tenha evoluído nos últimos 150 anos, já se sabia há muito tempo que a queima de carvão produz dióxido de carbono que retém o calor na atmosfera e aquece o planeta.