“Não se pode classificar o Estado Novo como fascista”

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ZAP // Desassossego / Wikipedia

Segundo o autor de uma tese de doutoramento sobre a ideologia de líderes de movimentos fascistas europeus, todo o fascismo é condenável, mas nem tudo o que é condenável é fascismo — e o Estado Novo não pode ser classificado como “fascismo”.

Em entrevista ao Diário de Notícias, Carlos Martins, doutorado em Política Comparada pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sustenta que não se pode classificar o Estado Novo como fascista.

De acordo com o investigador, o Estado Novo foi um fenómeno político de características únicas, que, apesar das semelhanças, é distinto “de outras ideologias antidemocráticas habitualmente colocadas no extremo direito do espetro político”.

Carlos Martins, autor do livroFascismos para além de Hitler e Mussolini“, explica ao DN que, para compreender o fenómeno, é necessário que se use o conceito de fascismo “de forma rigorosa e precisa”.

Segundo o investigador, o Estado Novo foi um regime conservador, que, “numa época em que o conservadorismo se deixava influenciar pelo fascismo, integrou elementos vincadamente fascistas que, não sendo suficientes para modificar o regime, lhe dão ali um cunho fascizante — que não é o mesmo que ser fascista”.

O investigador considera necessário clarificar os perigos concretos que o fascismo representa, “em particular numa altura em que novos atores políticos [a direita radical populista, por exemplo], com propostas questionáveis”, se procuram legitimar dizendo-se “distintos do fascismo histórico”.

Mas, alerta, também não se pode conceder legitimidade a regimes como os de Salazar ou Franco, por exemplo, apenas por não deverem dever ser “incluídos no universo do fascismo”.

O fascismo puro, diz Carlos Martins, “não teve um impacto duradouro em Portugal, o que não quer dizer que não tenha havido uma fase do regime do Estado Novo que não tenha tido uma aproximação” — que considera ter acontecido na segunda metade dos Anos 30.

O Estado Novo foi, resume o investigador, um “regime conservador fascizante”.

O mais longo regime autoritário na Europa

O Estado Novo foi um regime autoritário, conservador, nacionalista, corporativista de Estado de inspiração fascista, parcialmente católica e tradicionalista, de cariz antiliberal, antiparlamentarista, anticomunista, e colonialista, que vigorou em Portugal sob a Segunda República durante 41 anos ininterruptos, de 1933 até ao seu derrube pela Revolução de 25 de Abril de 1974.

Como regime político, o regime foi também chamado de salazarismo, em referência a António de Oliveira Salazar, seu fundador e líder.

A Ditadura Nacional (1926-1933) e o Estado Novo de Salazar e Marcello Caetano (1933-1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o séc. XX, estendendo-se por um período de 48 anos.

O regime criou a sua própria estrutura de Estado e um aparelho repressivo sustentado na polícia política PIDE, característico dos chamados Estados policiais, apoiando-se na censura, na propaganda, em organizações paramilitares (Legião Portuguesa), nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa), no culto do líder e na Igreja Católica.

Para muitos historiadores e politólogos, parece não haver dúvida de que se tratou de um regime fascista, de um fascismo catedrático, de um quase fascismo ou, até, segundo o politólogo Manuel de Lucena, de um “fascismo sem movimento fascista”.

Após 41 anos de vida, o regime caiu no dia 25 de Abril de 1974, após um golpe militar que contou com o apoio de uma população cansada da repressão, da censura, da guerra colonial e do abrandamento económico — e sem ter quase quem o defendesse.

Armando Batista, ZAP //

19 Comments

    • O «25 de Abril» de 1974 foi um golpe de Estado realizado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não foi nenhuma revolução mas uma mudança de regime, visto que o Estado Novo pugnava pela Soberania de Portugal e a manutenção das Províncias Ultramarinas na sua esfera.

      • Bem observado!
        Além disso, quem o fez, cometeu um acto de TRAIÇÃO, pois cuspiu no juramento de bandeira que fez VOLUNTARIAMENTE! O resto é conversa para encher ocas cabeças.

      • Enfim, o amigo tem dificuldade em distinguir o trigo do joio. Não vai longe assim. Se uma mudança de regime não é uma revolução, é o quê? E não falo em revolução de andar tudo aos tiros. No dicionário da Língua Portuguesa: Revolução = Reforma, transformação, mudança completa.
        Centre-se no essencial e não tente ser mais esperto ou culto do que é.

  1. J. Galvao, deveria ser uma fu fura falar desse conturbado período, tivemos a dias o falecimento de um homem que fez parte dos dois tempos o antes e o depois, havera alguns mais, mas no momento elegíveis, caberá a história ir difundindo, mas o que sabemos é que este homem a dada altura foi chamado ao poder para executar o que andava a reclamar na vida social e política, compareceu criou gabinete, correu / visitou as colónias e o território português e três anos depois deixou o lugar ou foi dispensado por ausência de soluçoes, o pais continuou a labuta, vivia-se uma azafama foi iniciada a construção da A1, a ponte do tejo, a ponte do Douro , a ramada ferroviária, a construção de navios e petroleiros em estaleiros nossos, a fabrica de Automóveis, os silos de cereais, as Zonas têxteis, a agricultura , as escolas onde houvesse crianças, os externatos que deram oportunidade a dar entrada nas universidades, a RTP, o INATEL, num apos guerra mundial e sem a ajuda da OTAN nem da ONU, ( que ajudaram alguns / outros paises da europa ) alias estes organismos criaram problemas sérios a nossa liberdade de progresso , provocando embargos (de que poucos falam) e foram os causadores das guerras coloniais, DERAM armas aos turras e venderam outras ao nosso pais, na altura diziam que eramos os últimos colonizadores, quando hoje verificamos que ainda existem dezenas ou centenas de Países a ser colonizados, entao tivemos de abandonar o nosso progresso e dedicarmo-nos a defesa da Nação, os decisores daqueles organismos vendo que nao conseguiam vergar o nosso poder, convidaram uns graduados fofinhos a revoltarem-se, deram armas a alguns civis para que de seguida pudessem dominar alguns dos cabecilhas e assim com os fofinhos presos chamou-se os democratas a praça , entregamos as colonias e voltamos a miséria nós e os colonos, alias aqueles paises ainda hoje e ja passados 47 anos solicitam a nossa ajuda para sobreviver

  2. Salazar não era “Nazi” mas impunha a saudação Nazi (Mocidade Portuguesa entre outras ), uma Ditadura de inspiração Nazi Deportações , Detenções e Tortura e Assassinato de Opositores Políticos (Tarrafal por ex: ) , em suma Salazar era un Santo , para os Saudosistas ! . Que as novas gerações nunca venham a provar este tipo de regime !

  3. Ai, ai quanta confusão por aí vai!…
    Felicito-te, Carlos Martins (autor), pelo essencial das formulações e conclusões. Mas não poderemos estar de acordo em tudo.
    Aos comentadores eu digo, com o conhecimento próximo de um descendente de quem foi retirado, no último instante, da frente de um pelotão de fuzilamento, mas mesmo assim não tendo sido poupado às prisões e torturas que antecederam e ao drama de ver ali mesmo cair os que não tiveram quem intercedesse por eles no momento fatal; de quem é sobrinho neto de um daqueles raríssimos que, não se vergando a Francisco Franco, ao auto designado Caudillo de España por la Gracia de Diós, conseguiram sobreviver a todo o curso da guerra civil de Espanha e, depois, tendo militado, do lado francês, contra as investidas do Adolf Hitler, rápido virou “residente” dos piores campos de extermínio nazis, aos quais milagrosamente também sobreviveu, mas pesando apenas 32Kg um mês após a libertação, ocorrida no final da 2ª GGM; etc., etc., etc., …. eu só lhes digo que se quiserem atribuir uma classificação comparativa à alegada “maldade” do António de Oliveira Salazar, investiguem bem antes o que se passou mesmo aqui ao lado, en la tierra de nuestros hermanos. E que só falem depois, mas com verdadeiro conhecimento de causa. Pois algo me diz que, diante de certas revelações concretas, muitos opinadores de sofá iriam não só perder o pio, como passariam a ser visitantes regulares de clínicas e hospitais. Especialmente das alas psiquiátricas.

  4. J. Galvao, os fofinhos poderão tomar nota da ausência de pontos, ou das saudações, mas nao das intenções do diálogo transcrito, quanto as novas gerações será de estar ATENTO e procurar que tenham educação, respeito, saude, e trabalho, para que os dois milhoes e meio dos sem emprego (HOJE) desapareçam, os sem abrigo, centenas ou até milhares, desapareçam das ruas, isso sim é que será pensar nas gerações futuras, as saudações continuam a acontecer os partidos políticos tem as suas formas de saudação, dedos encolhidos, punho cerrado, um dedo em riste, dois dedos de vitoria, o EL de liberdade, o polegar arriba ou para baixo, ou dedo ereto, etc, mas todos eles de braço esticado, algumas seitas de bem adultos ( em Portugal também ) ainda hoje 2022 fazem a saudação da referida mocidade portuguesa, as detenções e as oposições politicas continuam a acontecer ai perto de vossa casa, portanto fofinhos apesar de terem lido bem a lição, nao tiraram proveito para a vossa geração, dai os vossos pensamentos erráticos.

    • Para o esclarecer , a “Saudação a Bandeira ” faze-se de braço direito a Horizontal , quanto a apelidar tudo e todos de “Fofinho” , fique sabendo que não ando de dedo mendinho levantado !

  5. J. Galvao, os fofinhos preocupam se com os pontos e com as saudações? pois é a ausência de pontos nao terá impedido de perceber a mensagem, as saudações, bem essas ainda estão presentes em 2022 os partidos e as seitas usam e abusam do braço esticado, ora com os dedos fechados, ou em forma de V, ou L ou até o dedo ereto, ou o polegar em espiral ou para baixo, quanto as detenções políticas é só ler e ouvir as notícias, saudosismo todos deveríamos ter, da educação, da saude, do trabalho, HOJE temos dois milhoes e meio de desempregados e umas quantas centenas de sem abrigo, temos a ausência de Fabricas têxteis, metalomecânicas, calçado, agricultura , temos os celeiros vazios e a terra por trabalhar, sim era penosa a vida, mas onde nao era??? hoje os nossos catedráticos migram apos terem um curso que deveria servir o seu próprio pais, quanto nos custaram as universidades e a sua logística!!! e foram dar o litro para outros países, os fofinhos deveriam se preocupar de fato hoje para o bem-estar das futuras gerações, considerando os feitos do passado no projeto de qualidade de vida no vosso Pais,

      • Ó fofinho… isso é algo complicado. São tantas as calinadas que teria de refazer o texto todo. Mas pelo menos revela uma coisa: não vive por cá.

      • J. Galvao, o fofinho nao precisa de se esconder no desconhecimento, a nao ser que use o tempo só para achincalhar este espaço, mas isso será a santa ignorançia sobretudo para quem manifesta ausência de liberdade mental, o fofinho terá de se soltar e ser mais sociável, mas sem ma intenção, se nao tem que dizer remeta-se ao silencio da sua mente inculta e deixe o mundo ser uma fofura.

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