“Não estou para esta porcaria”. O último almoço entre Costa e Lacerda Machado

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André Kosters / Lusa

O ex-administrador da TAP, Diogo Lacerda Machado.

Lacerda Machado afirma que apenas abordou o impacto do centro de dados no mercado habitacional em Sines. Costa rejeita alguma vez ter tido qualquer conversa sobre o centro de dados da Start Campus com o melhor amigo.

No dia 20 de março de 2023, António Costa e Diogo Lacerda Machado, seu amigo de longa data, tiveram o que parece ser o seu último almoço juntos. Durante décadas, a vida de Costa, Lacerda Machado e o advogado Manuel Magalhães e Silva, que agora está a defender Lacerda Machado, têm estado interligadas de maneiras complexas, revelando uma intrincada teia de relações pessoais e políticas.

A refeição incluiu uma discussão sobre o impacto demográfico dos projetos em Sines, onde a empresa Start Campus planeava criar um centro de dados. Lacerda Machado, que trabalhou para a Start Campus, expressou a necessidade de se encontrar soluções habitacionais para a crescente população na região, sem mencionar especificamente o investimento da empresa.

No entanto, Lacerda Machado quis também frisar que seria a última vez que falavam sobre assuntos daquela natureza, sobretudo depois da polémica Comissão de Inquérito à TAP, onde Lacerda seria ouvido. “Nunca mais falamos de questões económicas, porque não estou para esta porcaria”, terá dito o advogado ao primeiro-ministro, segundo o Expresso.

Esta conversa ocorreu num contexto onde Lacerda Machado, padrinho de casamento de Costa, enfrenta acusações de tráfico de influência e foi libertado sob fiança. O encontro ganha relevância dada a sua posição como intermediário em várias negociações importantes, incluindo as relacionadas com a TAP e os lesados do BES.

Segundo Magalhães e Silva, o seu cliente queria apenas alertar o primeiro-ministro para a crise habitacional que seria criada com a chegada de 5000 pessoas a Sines para trabalharem no centro de dados. O amigo do primeiro-ministro ter-lhe-á falado da necessidade de se encontrar “uma via institucional, à semelhança da Parque Expo”.

António Costa, por sua vez, negou qualquer discussão sobre o projeto do centro de dados com Lacerda Machado, garantindo que este não tinha mandato para representá-lo em nenhum assunto.

A relação de Costa com Lacerda Machado ganhou destaque após o primeiro-ministro se referir a ele como o seu “melhor amigo” em várias ocasiões, levantando questões sobre a mistura de amizade e política.

Lacerda Machado chegou até a dizer que este comentário público de Costa sobre a amizade o tem prejudicado mais do que beneficiado. “Provavelmente perdi a minha identidade”, disse numa entrevista à “Sábado”.

Recentemente, no entanto, Costa pareceu também distanciar-se dessa descrição. “Apesar de eu, num momento de infelicidade, ter dito que ele era o meu melhor amigo, a realidade é que um primeiro-ministro não tem amigos“, disse recentemente.

ZAP //

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