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“Violência artística”. Música polémica entrou na campanha em França (Le Pen não gostou nada)

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Mohammed Badra / EPA

O presidente do Rassemblement National, Jordan Bardella, e a anterior líder Marine Le Pen.

Um grupo de dez rappers franceses lançou uma música contra o Rassemblement National (RN), a União Nacional de Marine Le Pen, apelando ao voto na Nova Frente Popular. A polémica está na letra violenta, com teses conspirativas à mistura.

Intitulada “No pasarán”, a música de quase dez minutos inclui um colectivo de rappers bem conhecidos dos franceses, como Fianso, Akhenaton, Mac Tyer, Seth Gueko, Zola, Soso Maness e Costa, cuja mãe é portuguesa, que assumem o “ódio” ao RN como “violência artística”, apelando ao voto na Nova Frente Popular da esquerda.

“Jordan estás morto” é uma tirada que se pode ouvir, por três vezes, no início da música. O presidente do RN é Jordan Bardella, o pupilo de Marine Le Pen que cedeu a liderança do partido.

“F**er a mãe de Bardella” ou “Que se f*** o RN” são outras frases polémicas da música que ainda se refere a Marine Le Pen e à sobrinha Marion que integra outro partido de extrema-direita, como “p****” e salienta que é preciso dar com “um pau nestas cadelas no cio”.

“Se os fachos passarem, saio com um grande calibre”, canta-se também neste rap polémico que celebra a “Palestina do Sena ao Jordão”.

Outras frases controversas são “O interior das suas almas está desbotado, merecem morrer”; “A França somos nós, não estes desgraçados”; “Devemos tomar medidas contra os fascistas”; ou “Votamos contra os porcos”.

“Levanta-te, vai votar, não fiques sentado enquanto somos nós e a França”, apela-se ainda na música que inclui referências conspirativas, nomeadamente aos “iluminados” que “controlam” o mundo, que “manipulam as estatísticas”, e aos “franco-maçons” que “fazem mal às nossas crianças” e querem “injectar-nos uma pulga no sangue”.

“O melhor do rap contra o pior da política”

Sob a coordenação do produtor musical Djamel Fezari, mais conhecido por DJ Kore, e do director artístico Ramdane Touhami, a intenção foi reunir “o melhor do rap contra o pior da política”, como se escreve no YouTube no vídeo onde a música foi divulgada.

“Para grandes males, grandes meios”, sublinham ainda os autores da iniciativa, justificando-a com a “dissolução catastrófica” do Parlamento decretada pelo presidente Emmanuel Macron, com a “triste constatação de ver o RN ficar em primeiro lugar entre os jovens nas eleições europeias” e com o seu “resultado aterrador na primeira volta das eleições legislativas”.

O RN venceu a primeira volta das legislativas e espera conseguir a maioria absoluta na segunda volta que se avizinha. Mas DJ Kore e Touhami “fizeram o impossível” para “mobilizar a juventude contra os fascistas e evitar uma segunda volta apocalíptica”, destaca-se ainda no YouTube.

Marine Le Pen classifica o rap como “abjecção”

A música gerou muitas críticas, nomeadamente no RN que já anunciou que vai apresentar queixa por ameaças de morte, injúrias e provocação à violência.

“A Nova Frente Popular. É desejável, não é? Espero que o Ministério Público tome conta desta abjecção“, escreveu Marine Le Pen no X, o antigo Twitter, divulgando uma publicação com frases da música que define como “apelos ao ódio, à violência, às drogas, aos insultos contra as mulheres, a polícia e o país”.

Jordan Bardella referiu-se às “famosas ‘piadas incisivas’: apelos ao assassinato, ao misoginismo violento, ao anti-semitismo grosseiro e à conspiração”, notando que “o universo mental da extrema-esquerda é cada vez mais tóxico“.

Mas Bardella aproveita a controvérsia para fazer campanha a favor do RN, salientando que, tal como estes rappers, “quem quer que a França mantenha no seu território delinquentes e criminosos estrangeiros que destroem vidas, vote na extrema-esquerda”. Mas quem é “pela firmeza e controlo sobre a imigração, pode escolher o RN e os seus aliados”, conclui.

“A ideia não é dar abraços aos fascistas”

Touhami defende o projecto com a ideia de que é uma “forma de fazer lobby” contra a extrema-direita. “Quando soubemos que o principal partido da juventude é o RN, se não reagíssemos, seria um erro grave da nossa parte”, salienta citado pelo Le Figaro.

Quanto à violência das palavras, Touhami realça que “é uma luta contra os fascistas, a ideia não é dar-lhes abraços”, conforme declarações ao Le Parisien.

“Quando dizemos Jordan, estás morto, é uma referência ao momento em que Cédric Doumbé, campeão de MMA, ganhou o combate contra Jordan Zebo e todo o estádio, incluindo Mbappé, gritou Jordan, estás morto”, explica, garantindo que é uma brincadeira e não uma ameaça directa a Bardella.

Mas o colectivo de rappers assume a intenção de “espalhar a ideia” entre os mais novos, e entre quem gosta de rap, de que Bardellla “não é um tipo fixe”.

Antes da primeira volta das legislativas francesas, houve outras músicas controversas, mas eram de apoio ao RN e à extrema-direita. Algumas foram mesmo retiradas de plataformas como o YouTube e o TikTok devido ao conteúdo considerado racista e xenófobo.

Susana Valente, ZAP //

3 Comments

  1. E notícias sobre os desacatos em França porque a extrema-direita vai à frente? A democracia da esquerda é assim: se ganham, fez-se democracia; se perdem, destroem tudo. Mas os fascistas são os da direita.

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  2. Devido a exemplos como este (da extrema-esquerda), a maioria dos votantes tende a apoiar, cada vez mais, a extrema-direita…. Em democracia, não há que contestar quaisquer resultados…

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