Muçulmano cumpriu promessa de joelhos em Fátima

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EPA / Lusa / Paulo Cunha

O muçulmano Sami Aoun a pagar uma promessa de joelhos em Fátima.

O muçulmano Sami Aoun a pagar uma promessa de joelhos em Fátima.

O muçulmano Sami Aoun, do Líbano, cumpriu uma promessa de joelhos logo que chegou ao santuário de Fátima. A chuva e as dores não abalaram o jovem que pede uma maior união entre as diferentes fés e crenças.

O jovem, que vive em Beirute, parecia que ia sucumbir a cada passo dado de joelhos já doridos e molhados. Parava, olhava para a frente, depois para o chão, e prosseguia, quase esgotado, enquanto peregrinos procuravam ajudá-lo, fosse com um guarda-chuva para o abrigar do mau tempo, ou oferecendo umas joelheiras, que recusou sempre.

“É uma grande sensação. Se calhar sente-se 0,001% do que Jesus sentiu na sua última hora quando foi levado para a cruz”, disse à Lusa Sami Aoun, ainda a recuperar o fôlego, no final da promessa.

O jovem de 29 anos já tinha ouvido, na sua terra natal, que “a Virgem Maria tinha aparecido em Fátima” e decidiu deslocar-se ao Santuário, aproveitando umas férias em Madrid. “Mesmo sendo longe, é merecida a visita a este lugar abençoado.”

No percurso, rezou pela mulher, pelo filho que deverá nascer “daqui a dois meses” e por uma maior “união entre cristãos e muçulmanos”.

Para Sami, o retrato feito dos muçulmanos pelos “media’ é errado. “O muçulmano tem que acreditar primeiro no cristianismo e só depois no islamismo. Porque o cristianismo veio antes e abriu o caminho para todas as pessoas acreditarem em Deus”, frisou.

“Eu acredito na Virgem Maria. Acredito que ela tenha aparecido aqui aos três meninos. Quando vim aqui visitar Fátima e vi as pessoas a fazerem isto [as promessas de joelhos], eu também fiz, pela Virgem Maria e por Jesus Cristo. Como muçulmano, acredito em Jesus Cristo e amo-o muito. Nós, muçulmanos, amamo-lo muito, não é como dizem os ‘media'”, vincou Sami, enquanto fazia a promessa de joelhos que se transformou num momento carregado de simbolismo.

Durante o caminho sofrido, uma peregrina asiática parou junto ao jovem libanês para rezar por ele e uma mulher ajoelhou-se ao seu lado e deu-lhe forças para continuar.

EPA / Lusa / Paulo Cunha

O muçulmano Sami Aoun a pagar uma promessa de joelhos em Fátima.

O muçulmano Sami Aoun a pagar uma promessa de joelhos em Fátima.

“Agora já está quase. Força”, disse uma portuguesa, quando Sami já circundava de joelhos a Capelinha das Aparições, com dois amigos do Líbano a segurarem-lhe nos braços para continuar.

Sentada à beira da Capelinha das Aparições a ouvir o terço, Maria Isabel estava impressionada com o rapaz muçulmano a cumprir os últimos passos em esforço.

“Que Nossa Senhora de Fátima o ajude, a ele e aos amigos, que eles são filhos de Deus como a gente”, desabafou a mulher de 86 anos, natural de Fátima.

Quando a promessa ia a meio, Sami explicava à Lusa que o que fazia era também “um gesto” para mostrar que todos podem “viver juntos”.

Na sua terra natal, no sul do Líbano, há uma mesquita e uma igreja “separadas por 60 metros”, notou.

“No nosso país também já houve uma grande divisão, que é a vergonha da história do Líbano – a guerra civil entre muçulmanos e cristãos. Mas o país sempre recebeu todos: de arménios a curdos, até palestinos. É muito importante a união entre povos”, contou Mohammad, que ajudava Sami na promessa.

Num momento em que o mundo parece tão dividido, é preciso mostrar que todos são “irmãos, com o mesmo sangue”, disse à Lusa Hassam, que também acompanhava o jovem libanês na sua promessa. “Nós viemos todos de Adão. Qual é a diferença?”

// Lusa

4 Comments

  1. Infelizmente as religiões à mistura com a política têm servido mais para dividir do que unir chegando ao ponto de se tornar impossível a convivência pacífica entre todas, a ideia deste jovem será justa mas parece-me a mim impossível de concretizar sobretudo devido ao extremismo de muitos responsáveis religiosos.

  2. No fundo, no fundo, ele não será um muçulmano mas sim um cristão… Os muçulmanos “a sério” não acreditam em Jesus Cristo nem adoram figuras como os cristãos… Mas o que ele diz é verdade: devemos saber viver todos como irmãos… É pena que nem todos pensem como ele, sejam eles muçulmanos ou cristãos… E Fátima, infelizmente, já não é para mim um local de culto. Tornou-se apenas num grande negócio… Fátima deveria de ser um local simples, sem grandes “pompas e circunstâncias”, pois era isso que Jesus Cristo e Sua Mãe gostariam de ver… Alguém se lembra da passagem bíblica que retrata o que Jesus Cristo fez quando encontrou o templo do Seu Pai transformado num local de comércio? Exactamente, expulsou todos do templo… A Igreja Católica ainda tem que mudar muito para dar o exemplo…

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