Morreu Odete Santos, a deputada que suou muitas vezes

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Miguel A. Lopes / Lusa

A antiga deputada e dirigente comunista Maria Odete Santos faleceu hoje aos 82 anos, anunciou o Secretariado do Comité Central do PCP, partido que integrou logo a seguir ao 25 de Abril e do qual se tornou figura emblemática.

Nascida em 26 de abril de 1941, na freguesia de Pêga, concelho da Guarda, Odete Santos foi uma figura emblemática na política portuguesa e na luta pelos direitos das mulheres e dos trabalhadores.

“É com profundo pesar que o Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português cumpre o doloroso dever de informar o falecimento de Odete Santos aos 82 anos de idade e transmite à família as suas condolências”, refere o PCP em nota enviada às redações.

Mulher de Abril, destacada deputada e dirigente comunista, Odete Santos foi uma figura marcante na construção do Portugal de Abril e na afirmação dos direitos que a Constituição da República Portuguesa consagra, em particular sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a igualdade e a emancipação da mulher”, acrescenta a nota do PCP.

Odete Santos foi “uma presença constante na acção de solidariedade com os povos de todo o mundo, uma incansável participante na concretização do ideal e projeto do Partido Comunista Português”, conclui o comunicado.

Licenciada em Direito pela Universidade de Lisboa, Odete Santos tornou-se advogada e aderiu ao PCP em 1974. Foi deputada à Assembleia da República entre 1980 e 2007, desempenhando um papel crucial na luta pelo combate ao aborto clandestino e pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez.

Conhecida pelo seu sentido de humor, ficou famoso um episódio em que o mesmo lhe falhou por instantes após uma atuação no programa Dança Comigo. A deputada comunista não gostou de ouvir Ricardo Araújo Pereira dizer que “assistimos a um momento raro, vimos um deputado a suar“.

“Ali nos bastidores, vaiei essa frase. Uh uh uh uh. Não se pode generalizar, eu já suei muitas vezes como deputada, a estudar coisas para as quais não tinha adquirido conhecimentos, como a procriação medicamente assistida”, disse a ex-deputada, no seu timbre característico.

Eu sou um palerma, pergunte a quem quiser”, diz Ricardo Araújo Pereira, para encerrar o assunto, “A piada não era para si, era para aquele deputado que parecia o Nuno Melo”.

Além da sua carreira política, Odete Santos teve uma presença ativa na cultura e no teatro. Foi membro do Conselho Nacional do Movimento Democrático de Mulheres (MDM) e da Associação de Amizade Portugal-Cuba.

Como atriz amadora, representou obras de Gil Vicente, Edward Albee e Molière, incluindo atuações na Assembleia da República.

Reconhecida pelo seu trabalho, em 1998, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Jorge Sampaio. Escreveu vários livros, incluindo “Em Maio há cerejas” (2003), “A Bruxa Hipátia – o cérebro tem sexo?” (2010), e a coletânea de poesia “A argamassa dos poemas”.

No âmbito partidário, foi membro do Comité Central do PCP de 2000 a 2012 e integrou a comissão da concelhia de Setúbal e a direção da Organização Regional de Setúbal.

A sua atuação também se estendeu ao nível autárquico, onde foi membro da Assembleia Municipal de Setúbal de 1979 a 2009, a que presidiu de 2002 a 2009.

ZAP //

4 Comments

  1. O Alentejo sempre foi nosso: os grandes latifúndios sempre foram de quem os recebeu de heranças ou do Estado e que ainda hoje recebem subsídios da Europa para nada produzirem… Também tiveram sempre fieis “cães de fila” a proteger os senhores desses domínios…

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