Em muitas das áreas dominantes, os dois candidatos têm propostas semelhantes e, sobretudo, objetivos. Distanciam-se especialmente em assuntos da vida interna do partido.
Com as moções de estratégia entregues, já é possível identificar as principais diferenças e semelhanças no que seria um PSD liderado por Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva, sobretudo no que respeita às soluções que apresentam para um Portugal cuja economia está estagnada à conta das políticas socialistas, defendem ambos.
Sobre a vertente interna, os dois aproximam-se na necessidade de reformar o partido. De acordo com o jornal Público, a maior divergência entre os dois candidatos diz respeito às alianças com o Chega, uma possibilidade que Montenegro não rejeita, ao contrário do seu adversário.
No que diz respeito à corrupção, o antigo ministro do Ambiente, pretende “definir novas obrigações declarativas para os cidadãos em geral até porque a corrupção não se limita à esfera política”, utilizando para tal mecanismos tecnológicos para detetar “incongruências”.
Do lado de Luís Montenegro, é proposta a criação de uma agência anticorrupção “altamente especializada e com poderes efetivos de investigação e coordenação, prossecução e sensibilização”.
Outro dos temas fortes das moções é relativo à natalidade, um dos problemas demográficos que o país enfrenta e continuará a enfrentar nos próximos anos.
Neste âmbito, Jorge Moreira da Silva defende uma maior conciliação entre a vida profissional e da vida familiar, mas também o alargamento das disposições sobre licenças parentais, trabalho parcial e teletrabalho, a oferta de ensino pré-escolar gratuito em todo o território nacional”.
No seu documento, o antigo líder parlamentar do PSD apresenta soluções idênticas. Destaque ainda para a necessidade de “abertura para discutir, sobretudo a nível europeu, a semana laboral de quatro dias, avaliando modelos diferenciados por setores e atividades”.
Na área da saúde, os dois candidatos apresentam a mesma linha de soluções, sublinhando a necessidade de um sistema em que os vários prestadores de serviços existam em simultâneo para garantir “liberdade de escolha” e “acesso a serviços de qualidade”. Montegero, por sua vez, ressuscita uma promessa antiga da política portuguesa: um médico de família para cada português.
No âmbito da economia e da energia, uma área que o antigo ministro naturalmente domina, é destacada por este a importância do “cumprimento e reforço do Acordo de Paris” como “última oportunidade” para “enfrentar a mudança climática”.
Luís Montenegro, por sua vez, pretende “antecipar a data prevista para atingir a neutralidade carbónica (2050)”, propondo um “pacto nacional” com objetivos a “médio e longo prazo” nos processos de transição digital, energético e climático.
Precisamente no que respeita à transição digital, o antigo líder parlamentar defende um “amplo programa de requalificação da população portuguesa”, com adaptação do sistema educativo.
Já Jorge Moreira da Silva sugere uma “nova geração de políticas publicas na educação, preparando as crianças para exercer funções que, em 65% dos casos, ainda não foram inventadas e para o desenvolvimento da criatividade e do pensamento crítico”.
Num dos temas mais importantes para os portugueses, o dos salários e impostos, Luís Montenegro avança com uma proposta para a fixação de uma taxa máxima de 15% nos salários dos indivíduos até aos 35 anos, fixando o objetivo de um “esforço sensato e sustentável de melhoria dos salários para a classe média.
Já o antigo dirigente da OCDE defende uma “política orçamental que compatibilize a redução da dívida com a redução da carga fiscal”, estabelecendo a necessidade de uma reforma fiscal orientada para ser “potenciador do crescimento sustentável“.
Finalmente, os dois candidatos admitem a importância de dar atenção ao sistema de segurança social mais atenção.
Luís Montenegro, de forma esclarecedora, diz que “não é possível adiar mais a sua reforma”, ao passo que o antigo ministro do Ambiente é mais exaustivo na sua explicação. Defende “uma maior articulação entre as contribuições para a segurança social e o sistema fiscal” como forma de acautelar que a progressiva criação de riqueza em empresas tecnologicamente mais desenvolvidas “não deixe de se traduzir, através do sistema fiscal, no adequado contributo para o financiamento da segurança social”.
Montenegro é muito mais objetivo e pragmático. A questão do Chega, posta habilidosamente na praça política por António Costa, só tem que ter uma resposta: os deputados do Chega têm o mesmo valor que qualquer outro deputado (são eleitos pelo povo). Logo, se forem necessários (como necessários foram os deputados do radicalismo de esquerda, que salvaram António Costa), devem ser sondados para qualquer estratégia política, como defende Montenegro. Moreira da Silva é um homem hesitante, aliás na linha de Rio Rio.
O Montenegro é advogado e isso já diz tudo…