Montenegro é “mentiroso”, Ventura “não tem cura”: a discussão entre os dois foi dura

José Sena Goulão / LUSA

André Ventura e Luís Montenegro no Parlamento

O caso Hernâni Dias originou uma fase inicial “quente”. Primeiro-ministro e líder do Chega irritaram-se. Os “bandidos” voltaram a ser assunto.

O debate quinzenal na Assembleia da República, que contou com o primeiro-ministro, teve dois protagonistas: Luís Montenegro e André Ventura.

O caso Hernâni Dias originou uma fase inicial “quente”. Primeiro-ministro e líder do Chega irritaram-se.

Questionado por André Ventura sobre o caso do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, que se demitiu em 28 de janeiro depois de ter sido noticiado pela RTP que criou duas empresas imobiliárias já enquanto governante e responsável pelo recém-publicado decreto que altera o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, a polémica lei dos solos, Luís Montenegro considerou não ser correto falar em “incompatibilidades ou negócios” uma vez que “a atividade dessas empresas foi zero”.

Mas Montenegro admitiu que Hernâni Dias foi imprudente: “A participação em duas empresas que foram criadas foi uma imprudência do senhor secretário de Estado, claro que foi, e foi por isso que ele assumiu a dimensão política”.

André Ventura insistiu e perguntou “olhos nos olhos” ao primeiro-ministro porque não demitiu o agora ex-secretário de Estado. “É muito simples: porque não foi preciso. Ele tomou a iniciativa e acho que fez bem”, respondeu o líder do Governo.

Acusações

O presidente do Chega acusou o primeiro-ministro de mentir e sugeriu que pode “ir embora”, com Luís Montenegro a responder-lhe que “está para dar e durar”.

A troca de argumentos entre os dois começou na fase do debate quinzenal das perguntas do Chega e prolongou-se pela do PSD, depois de, quer o primeiro-ministro, quer o líder parlamentar social-democrata, Hugo Soares, terem acusado o presidente do Chega de já ter sido condenado pela justiça.

Na abertura do debate, André Ventura referiu o caso do ex-secretário de Estado Hernâni Dias e defendeu que “ser sério é dizer a quem comete crimes que a porta da rua é a serventia da casa”.

“Se eu fosse como o senhor deputado, responder-lhe-ia assim ‘por essa ordem de razão, a porta estava aberta para si, que já foi acusado e até condenado’”, ripostou o primeiro-ministro.

André Ventura pediu uma interpelação à mesa e desafiou o primeiro-ministro a concretizar quando que é que foi “condenado criminalmente” e em que processo.

Luís Montenegro assinalou que o líder do Chega tem essa informação e que “foi no exercício de funções políticas quando se dirigiu a determinados cidadãos e foi condenado pelo Tribunal na componente cível…” – e aqui foi interrompido por sorrisos e gritos da bancada do Chega e do próprio Ventura. “O senhor deputado fica satisfeito por ter sido condenado – mas afinal foi só cívelmente, não foi criminalmente?“.

“Não vale a pena invocar de forma mais uma vez gratuita a sua postura em comparação com a minha postura, […] até porque joga em seu desfavor”, afirmou, recomendando que Ventura: “não seja masoquista”.

André Ventura disse que o primeiro-ministro mentiu: “O senhor primeiro-ministro é um mentiroso nesta casa e eu tenho de dizer isto assim”.

Luís Montenegro disse que André Ventura “não tem mesmo cura e nós temos de lidar consigo assim”.

Ventura acusou Montenegro de “ser o político mais baixo dos últimos anos desta casa” e deixou-lhe um conselho: “Se levar tudo como um ataque pessoal, então, senhor primeiro-ministro, está na hora de ir embora”, afirmou, depois de ter exigido respostas ao chefe de Governo sobre o número de cidadãos imigrantes em Portugal.

“Não confunda o seu desejo com a realidade. Eu estou aqui para dar e durar, ao contrário do sr. deputado: está aqui porque queria ser primeiro-ministro e assim se apresentou ao eleitorado. Depois, quis ser ministro. E agora quer ser Presidente da República. Quem está com vontade de ir embora não sou eu, é o senhor deputado”, criticou o primeiro-ministro.

Montenegro considerou que o líder do Chega tem “uma forma de estar que não indicia seriedade, honestidade, bom senso, moderação espírito de respeito pelas instituições, pelas pessoas, que é aquilo que deve marcar a ação política” e acusou Ventura de ser “altamente contraditório com os princípios que invoca e exige aos outros”.

Em seguida, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, retomou o tema da condenação ao presidente do Chega: “Foi efetivamente condenado pela prática de um crime no exercício de funções políticas. O senhor primeiro-ministro não mentiu e, pelo seu critério, já não estava a liderar a bancada do partido Chega”, acusou.

André Ventura fez uma interpelação à mesa para que fosse distribuída a sentença da sua condenação, que salientou ter sido cível e não criminal.

Montenegro falava do caso de 2021 quando, na campanha para as eleições presidenciais, foi condenado por ter ofendido a honra e o bom nome de uma família do Bairro da Jamaica, no Seixal, por afirmações feitas, em 2021, durante um debate televisivo durante a campanha para as presidenciais que realizou com Marcelo Rebelo de Sousa.

Chamou “bandidos” a essa família – e agora, quatro anos depois, André Ventura disse o mesmo no Parlamento, nesta quinta-feira: “Sabem que mais? Repito isso aqui e agora, no Parlamento”.

ZAP // Lusa

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