Montenegro foi ao “Goucha” explicar-se e fazer um anúncio

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Rodrigo Antunes / Lusa

Luís Montenegro, primeiro-ministro

O primeiro-ministro Luís Montenegro foi ao programa de Manuel Luís Goucha na TVI, falar da vida e de política, e fez algumas revelações.

Foi em modo de campanha eleitoral que Montenegro foi ao programa “Goucha”, na TVI, nesta terça-feira, para sublinhar que apesar de não ter desejado eleições antecipadas, estas são mais desejáveis do que o clima de “degradação das condições do Governo” que se instalaria, por iniciativa da oposição.

O primeiro-ministro notou que a moção de confiança que derrubou o seu Governo visou perguntar aos deputados se este Executivo tinha ou não “a confiança do Parlamento para executar o seu programa”.

Foi o Parlamento que disse que não“, apontou sem referir-se ao facto de o seu Executivo ter tentado usar a retirada da moção de confiança como moeda de troca para o PS desistir da Comissão Parlamentar de Inquérito à empresa da sua família, a Spinumviva.

A moção de confiança, segundo Montenegro, serviu para “trazer a verdade à tona” depois de moções de censura que definiu como “hipócritas”, por não estarem “a consubstanciar a verdade política que estávamos a viver”.

“Assumo esta responsabilidade”, realçou, assumindo assim, também, a responsabilidade pelas legislativas antecipadas.

Prefiro dois meses para clarificarmos a situação do que um ano para estragarmos tudo o que está a ser feito”, sublinhou. “Não posso temer o juízo dos portugueses”, concluiu.

Montenegro aproveitou também para fazer auto-elogios ao seu Governo, destacando o “desempenho financeiro” do país “como um dos melhores da Europa”, e elencando algumas das medidas de apoio aos cidadãos, designadamente aos jovens, aos reformados e à Função Pública.

“Esta é a última missão que quero na vida política”

Mas o momento mais surpreendente da entrevista foi quando Montenegro fez um anúncio a Manuel Luís Goucha sobre a sua saída do mundo da política.

Esta é a última missão que eu quero desempenhar na vida política e pública. Já não quero mais”, realçou. “Comecei cedo e também acho que tenho o direito de acabar um bocadinho mais cedo”, acrescentou.

Contudo, Montenegro fez questão de notar que ainda estará por aqui “por mais alguns anos”. “Não estou a fazer uma despedida”, realçou.

Porém, é legítimo perguntar, perante esta posição, se uma derrota nas legislativas ditará o adeus de Montenegro à política…

Montenegro exaltou-se a falar do cartaz do Chega

Houve um outro momento marcante na entrevista de Montenegro, quando este se exaltou a propósito do cartaz do Chega que o junta a José Sócrates e que fala em “50 anos de corrupção”.

“Não posso ser associado a nenhum comportamento de corrupção, porque nunca tive nenhum acto de corrupção“, vincou o primeiro-ministro de forma convicta.

“Nunca fui suspeito, nem posso ser”, atirou ainda num tom mais duro.

O PSD já interpôs uma providência cautelar para o Chega retirar os cartazes.

“Sou acusado de ter trabalhado”

Na mesma entrevista, Montenegro voltou a defender a sua posição quanto à Spinumviva, assumindo que “uma ou outra coisa poderia ter sido enquadrada de uma maneira diferente”.

Mas “não cometi nenhuma conduta ilícita”, sublinhou, referindo que existe um “um manto de insinuação e de aproveitamento político que não tem correspondência com os factos”.

“Fiz tudo de boa fé”, assegurou ainda o primeiro-ministro, notando que é “acusado de ter trabalhado”. “Não me envergonho disso”, constatou.

Montenegro assumiu que “a melhor opção” teria sido transmitir a empresa da família directamente para os filhos, em 2020, quando chegou à presidência do PSD. E referiu que a passou à mulher porque não se lembrou de que era casado em comunhão de adquiridos, o que é estranho, considerando que é advogado.

“Fiz o que qualquer português faria no meu lugar”, reforçou também, confessando que nunca perspectivou que “isto pudesse ser mal entendido”.

À margem das questões políticas, o primeiro-ministro falou da família, de Espinho, a sua terra natal, e da “profunda admiração” por Cavaco Silva, que foi “um primeiro-ministro exemplar, transformador”, num “período em que o país se desenvolveu de forma significativa” e “deu um salto enorme”, realçou.

ZAP //

7 Comments

  1. Precisamente o que o Costa fez, deu o dinheiro dos Portugueses a uma certa Imprensa…, e depois, durante a sua campanha Eleitoral foi convidado para vários programas televisivos da TV, este está a fazer o mesmo…, depois de ter dado á Imprensa 50 Milhões de Euros dos contribuintes!!!, assim vai a Democracia em Portugal, essa mesma Democracia que já foi considerada uma Democracia plena, mas que os Socialistas transformaram em Democracia com falhas!!!.

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  2. Os Primeiros Ministros vitaminizam-se e não são responsáveis, nem em ultima instância pelos pecados originais. Faço descontos e pago impostos há 44 anos, mas como disse José Saramago para estes “salafrários da esquerda à direita”, também como disse Francisco de Sousa Tavares nesta”República das Bananas”…

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  3. A tentativa de Montenegro de manter-se no poder revela várias falhas éticas. Desde o uso de uma moção de confiança para fins pessoais, passando pela falta de transparência no caso Spinumviva, até à incapacidade de reconhecer erros, tudo contribui para a percepção de um líder mais preocupado consigo do que com o país.

    A ética política exige que os líderes coloquem o interesse público acima do pessoal, assumam responsabilidades e mantenham a transparência. Infelizmente, Montenegro falhou nestes aspetos fundamentais.

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  4. António Costa apresentou a sua demissão logo após a abertura da investigação pela Procuradoria-Geral da República, sem sequer ter sido formalmente acusado. Fê-lo alegando que o cargo de primeiro-ministro exige um nível de integridade que não deve ser posto em causa, ainda que de forma indireta.

    Já Luís Montenegro, mesmo com um desgaste político evidente e com suspeitas que envolvem a empresa da sua família, resistiu até ao limite, tentando manobrar a situação ao seu favor. O uso da moção de confiança como “moeda de troca” para evitar a comissão parlamentar de inquérito à Spinumviva demonstra essa estratégia.

    A diferença na abordagem dos dois líderes políticos mostra não apenas diferentes personalidades, mas também diferentes visões sobre ética política. Enquanto Costa tentou preservar a estabilidade governativa e a imagem da função, Montenegro mostrou uma resistência quase obstinada, agarrando-se ao poder até que fosse inevitável convocar eleições.

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    • Costa foi ético ao demitir-se? Ele demonstrou é grande oportunismo. Estava na hora dele se pirar e saltar para a Europa. Ainda não percebeste isso?

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    • Só falta referir que o seu acessor directo tinha quase 80k escondidos na estante dentro de livros. A meu ver, esse terá sido o verdadeiro e legitimo motivo da demissão de AC.

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