“Momento Pearl Harbor” está a chegar. Só há uma forma de travar a Rússia a tempo

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Augustas Didžgalvis/Wikimedia Commons

Gabrielius Landsbergis, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia

Mais um país alerta para a ameaça russa à segurança da Europa. “O despertador tocou, mas nós ainda não saímos da cama”.

Mais um dia passou, mais um aviso chegou. Desta vez, foi o chefe da diplomacia da Lituânia a alertar para um possível ataque surpresa russo aos países da NATO — “o momento Pearl Harbor” europeu.

Fazendo referência ao ataque surpresa à frota dos EUA orquestrado pelo Japão em Pearl Harbor, no Havai, a 7 de dezembro de 1941 — que abriu caminho para o Pacífico à Segunda Guerra Mundial — Gabrielius Landsbergis foi o mais recente ministro a pedir mais apoio à Ucrânia para travar a ameaça do Kremlin.

Temos um vizinho muito agressivo que quer testar a NATO e temos de nos preparar para isso”, começou por dizer o Ministro dos Negócios Estrangeiros do país báltico, que pertence à União Europeia e à NATO, ao jornal lituano ZDF: “Não podemos esperar nem por um segundo pelo nosso momento Pearl Harbor. Não podemos esperar que cada país europeu seja realmente atacado pela Rússia — a sul, norte, este e oeste.”

Landsbergis instou a mais ajuda ocidental, nomeadamente na entrega de mais mísseis de cruzeiro Taurus de longo alcance.

“A Ucrânia precisa do Taurus por razões estratégicas, para ganhar vantagem face à Rússia”, disse, deixando uma “dica” aos alemães: “Sim, a Alemanha tem equipamento incrível que poderia fornecer à Ucrânia.”

“Se a Rússia não for travada pela Ucrânia, a guerra pode espalhar-se“, avisou, confessando que o conflito pode chegar ao seu país — que faz fronteira com o enclave russo Kaliningrado e com o maior aliado de Putin, a Bielorrússia — caso não se entreguem mais armas aos ucranianos.

Outra ameaça cresce nos EUA

“O despertador tocou, mas nós ainda não saímos da cama”, rematou o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que se mostrou preocupado com uma eventual retirada dos EUA como “segurança privado” da Europa, venha Donald Trump a ser eleito como Presidente norte-americano.

O provável candidato presidencial republicano disse recentemente que, caso seja reeleito, encorajará a Rússia a “fazer o que diabo queiram” com os países devedores à NATO.

“Um dos presidentes de um grande país levantou-se e disse: Bem, senhor, se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, vai defender-nos?”, relatou o milionário antes de revelar a resposta: “Não, não vou proteger-vos mais. Aliás, vou encorajá-los a fazerem o que diabo queiram. Vocês têm de pagar as dívidas”.

Além de repetir que, ao tecer um acordo entre Zelenskyy e Putin — que já caracterizou como sendo “muito inteligente” no momento de invasão do país vizinho — conseguiria acabar com a guerra em 24 horas, Trump já deixou sinais de que iria travar o apoio financeiro e militar à Ucrânia, caso fosse eleito novamente presidente.

Paz global “não é um dado adquirido”

“O maior problema é que não sabemos quanto tempo nos resta. Esperamos que a Rússia possa ser travada pelos ucranianos”, confessa ainda o ministro lituano, que não é (nem perto) o primeiro a avisar a Europa da aproximação de um conflito global com a Rússia.

Desde o fim da Guerra Fria que não se via um exercício militar como o que a NATO realizou no início deste mês: 90 mil soldados de todos os 31 países-membros, mais a Suécia, que está ainda em processo de adesão.

Estamos a preparar-nos para um conflito com a Rússia e grupos terroristas“, disse o presidente do Comité Militar da NATO, Rob Bauer. “Se nos atacarem, temos de estar prontos.”

A paz global “não é um dado adquirido”, reforçou o almirante holandês.

No jornal Observador, uma investigadora em política de segurança europeia, Minna Ålander, explica que, ao longo destes dois anos de guerra na Ucrânia, a Rússia aproveitou — de forma eficiente — para criar uma economia de guerra e produção de armamento.

E, nesta altura, alerta: “Já não parece inimaginável que a Rússia se sinta empoderada para atacar a NATO, tendo em conta como o seu ataque à Ucrânia também se baseou numa má avaliação“.

Nos primeiros dias do ano a Suécia avisou que pode haver guerra no seu território. “Muitos já o disseram antes de mim, mas deixem-me fazê-lo a título oficial, de forma mais clara: pode haver guerra na Suécia“, afirmou ministro da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin.

Também a Alemanha está a desenvolver um plano secreto, de preparação para a 3.ª Guerra Mundial, com previsão de que a escalada vai ter início já este mês, fevereiro.

No fim-de-semana passado o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, disse que é contra a entrada na Ucrânia na NATO para não “provocar o início da III Guerra Mundial”. A solução seria a Ucrânia ceder território à Rússia, segundo o líder da Eslováquia.

O Governo de Moscovo está a apostar cada vez mais na defesa, no sector militar. Segundo o jornal alemão Der Spiegel, a Rússia pode mobilizar mais 400 mil tropas e está a construir novos tanques e novas armas.

Tomás Guimarães, ZAP //

4 Comments

  1. Se virem bem o gráfico (https://www.forces.net/sites/default/files/NATO%20defence%20expenditure%20estimates%20for%202023%20120224%20CREDIT%20NATO.jpg), percebem bem o que o Trump quer dizer: é que menos de metade dos países da NATO estão a cumprir com a meta de 2% de investimento, sendo que os EUA investe quase 3,5%… É normal se os EUA só ajudar quem cumpre a meta… É o mesmo que querer que nos forneçam energia eléctrica sem pagar a factura na sua totalidade, nalgum momento, o fornecimento é cortado…

  2. Infelizmente não se pode deixar de lhe dar razão, realmente se a NATO não for alimentada pelos constituintes, como é que vai lutar???

    Quanto à Russia, o que eu acho é que devia ser o inverso, devia ser a Nato a tomar medidas iniciais. Não continuar nesta coisa do dialogo que já se sabe não serve para coisa nenhum e tomar medidas sérias para a limpeza daquilo.

    Resumindo, vivemos numa época de políticos libelinha.

  3. Antonio Machado , mas isso é o que a Russia quer que a NATO se envolva para assim terem uma Razão mais forte para atacar a EUROPA e a NATO

  4. O ataque a Pearl Hrbour era conhecido dos americanos – que tiveram o cuidado de mandar retirar os porta aviões – mas era necessário para justificar a entrada do EUA na guerra. A possibilidade de um momento Pearl Harbour desencadeado pela Rússia quererá dizer que os EUA o desejam para entrar a sério na guerra? Curioso…

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