Especialistas acreditam que a resistência ucraniano no sul do país é a única coisa a travar que a Moldova se torne a próxima Ucrânia.
Poucos dias após a invasão russa da Ucrânia, já havia o temor de que a Moldova podia ser o próximo alvo de Moscovo. Na altura, o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, avisou que Vladimir Putin podia chegar à Moldova e à Geórgia porque o objetivo do Presidente da Rússia é “semear guerras”.
Menos de um mês depois do início da guerra, a Presidente da Moldova, Maia Sandu, solicitou oficialmente a entrada do país na União Europeia, seguindo o exemplo da Ucrânia e da Geórgia.
A Moldova tornou-se um país independente após o colapso da União Soviética no início da década de 1990.
As forças pró-russas presentes numa parte do seu território conhecida como Transnístria recusaram-se a cortar os seus laços com Moscovo e declararam, com o apoio do Kremlin, uma “república” própria na região.
Apesar de não ter o reconhecimento de nenhum país, a Transnístria continua a ser controlada pelas forças rebeldes, que estão protegidas por um contingente militar russo aí permanentemente destacado.
No decurso da guerra, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, chegou mesmo a alertar a Moldova de que ameaçar a segurança das tropas russas na Transnístria poderia desencadear um confronto militar com Moscovo.
Já este mês, Volodymyr Zelenskyy denunciou que a Rússia quer controlar a Moldova “e explorar os seus recursos e as suas pessoas”. Segundo Zelenskyy, foram os serviços secretos ucranianos que intercetaram informação relativa a um plano que estaria em preparação pela Rússia para atacar e desestabilizar a Moldova.
Também Maia Sandu revelou que Moscovo tem um plano para derrubar o governo do país, colocar a nação “à disposição da Rússia” e descarrilar as suas aspirações de um dia aderir à União Europeia.
A presidente da Moldova descartou no sábado uma “ameaça militar iminente” da Rússia contra o país, mas alertou para a ‘guerra híbrida’ de Moscovo através da desinformação e pediu ajuda para combatê-la.
No entanto, há apenas uma coisa que parece impedir que a Moldova se torne a próxima a Ucrânia: a própria Ucrânia.
“A questão não é se a Federação Russa lançará uma nova ofensiva em direção ao território moldavo, mas quando isso acontecerá: no início do ano, em janeiro, fevereiro, ou mais tarde, em março, abril”, avisaram as secretas moldavas, no fim do ano passado. O cenário está em cima da mesa, mas “depende dos desdobramentos da guerra na Ucrânia”.
De acordo com Alexandru Musteata, diretor dos Serviços de Segurança e Inteligência (SIS), a invasão acontecerá através da criação de um corredor a ligar Odessa, na Ucrânia, à Transnístria.
“Podemos discutir o que se seguirá e quais as intenções [russas] em relação a Chisinau. Mas há um risco real e elevado”, avisou Musteata.
Especialistas ouvidos pelos Observador concordam que a resistência de Kiev à invasão russa tem sido uma verdadeira barreira protetora da Moldova.
“Se o sul [da Ucrânia] tivesse corrido melhor aos russos, era muito provável que as forças já estivessem na Moldávia”, explica o major-general Arnaut Moreira ao jornal online.
Lavrov garante que a Rússia não está a planear uma ocupação da Moldova e diz que é o Ocidente que “está de olho” no país.
“Agora estão a avaliar a Moldávia para esse papel [de ser a próxima Ucrânia], principalmente porque conseguiram colocar uma Presidente no comando do país, que está ansiosa para fazer parte da NATO”, disse o chefe de diplomacia russa.
Nas suas declarações no sábado, Maia Sandu referiu que agora não é o momento de mudar a política de neutralidade do país, mas “sem dúvida, a Moldova deve ser ajudada a fortalecer o setor da defesa” e “deve fazer parte da nova arquitetura de segurança europeia”.