Altar da discórdia. Moedas culpa Igreja pelo custo do palco da JMJ. Marcelo pede explicações

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António Cotrim / Lusa

Carlos Moedas

Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa

Autarca de Lisboa garante que a estrutura foi pensada com o intuito de uma utilização futura, para além da Jornada Mundial da Juventude. 

Desde que a notícia do preço do altar-palco para as Jornadas Mundiais da Juventude, agendadas para o início de julho em Lisboa, se tornou público que os diferentes responsáveis políticos se desdobraram em declarações na tentativa de justificar os 4,2 milhões de euros. A verba, noticiou ontem o Observador, resulta de um ajuste-direto acordado entre a Câmara de Lisboa e a Mota Engil, havendo ainda mais cerca de um milhão de euros, destinadas às fundações da estrutura .

Num primeiro momento, Carlos Moedas justificou o preço da estrutura com a possibilidade de esta vir a ser usada em eventos futuros na capital. “Queremos que esse palco, essa infraestrutura, fique para o futuro e que muitas dessas infraestruturas fiquem para o futuro. Eu sabia que isto ia ser muito caro, que era um investimento muito grande para a cidade”, justificou o autarca.

“Não podemos como cidade, como país, não acolher o Papa, respeitando aquilo que é a regra de um evento que nunca se fez em Portugal. Qualquer comparação de preço, qualquer comparação de custos não se consegue comparar, porque nunca tivemos algo desta dimensão“, disse Moedas, aludindo às comparações que muitos meios e comunicação faziam face ao preço do altar usado pelo papa Bento XVI aquando da sua visita a Portugal em 2010, que custou entre 200 e 300 mil euros.

De seguida, Carlos Moedas responsabilizou a Igreja Católica pelo preço da estrutura, em função das suas especificidades.

“As especificações daquele palco foram definidas em reuniões que tivemos com a Jornada Mundial da Juventude, com a Igreja e com a Santa Sé [Vaticano]. Nós estamos na Câmara a executar essas especificações para um palco de 1,5 milhões de pessoas”, lembrou o presidente da Câmara.

Já sobre a atribuição da obra à Mota Engil, garantiu que foram consultados “variadíssimos promotores“. “Consultámos preços que eram o dobro desse preço e fomos reduzindo o preço até encontrar aquele que fazia mais barato… isto foi feito com total transparência“, explicou. “Aquilo que eu pedi aos engenheiros e arquitetos é que, desde início, essa infraestrutura pudesse ficar para o futuro.”

Marcelo “gostaria de ouvir mais explicações”

Também o Presidente da República, que ao longo de todo o processo de preparação para o acolhimento das Jornadas se mostrou muito interventivo, se pronunciou sobre o assunto, dizendo que “gostaria de ouvir mais explicações” sobre o preço da estrutura. “Quem está a preparar esses projetos tem de dar a razão de ser desses projetos”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Precisamente, o Chefe de Estado disse querer ter mais informações sobre a “intervenção das entidades públicas” e o seu “financiamento”. “Eu gostaria de ouvir mais as explicações para depois me pronunciar”. “Por aquilo que percebi apenas é o custo de uma das componentes”, afirmou Marcelo, dizendo que gostaria de ser informado dos “custos totais“.

Mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa, embalado pela justificação de Moedas, sugeriu que a estrutura poderia ser usada, por exemplo, na Web Summit. “O presidente da Câmara avançou com ideias em termos estruturais para o futuro e aproveitamento do espaço para o futuro mas multifuncional, para outro tipo de eventos.” Para o Presidente da República, o evento tecnológico “implica estruturas relativamente permanentes”, pelo que “pode ser que seja uma solução“.

Na passada quinta-feira, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou a contratação de um empréstimo de médio e longo prazo, até ao montante de 15,3 milhões de euros, para financiar investimentos no âmbito da JMJ.

Ana Rita Moutinho //

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22 Comments

  1. Bonito de se ver, um estado laico a gastar milhões em eventos religiosos. A seguir, os muçulmanos e os judeus também vão querer algo em grande e o Estado português vai comparticipar ou não?

    • Os muçulmanos e Judeus devem ser aos milhões em Portugal, para justificar um investimento desses. De qualquer modo, palco já têm. Pelos vistos é para ficar.
      Ah, e quanto aos Mormons, também já têm uma catedral digna de destaque.
      Por isso, ninguém se pode queixar de falta de colaboração dos contribuintes portugueses que, mesmo pobres, dão sempre uma esmolinha a todos. Incluindo os esforçados e sérios políticos que temos.

      • Um Estado laico a sustentar uma Igreja rica ,isenta de pagar IMI, com toda a espécie de mordomias e privilégios, com colégios privados subsidiados pelos contribuintes. Somos a chacota dos países europeus civilizados…

  2. Bem …….não há dinheiro para o que faz tremenda falta , en termos de Serviços Públicos essenciais , mas para estes “divertimentos” que não são do interesse geral , são desviadas verbas dos nossos Impostos a descarada ! ….. Revoltante !

  3. Cuidado, cuidado… Os ladrões andam à solta e já me roubaram o suficiente.

    Especificações? Até o Papa deve de estar envergonhado por visitar um País com este…

    Façam um favor a todos…Desapareçam do mapa…

  4. Ficar aqui a reclamar e lamentar como o dinheiro dos contribuintes é mal gerido não resolve o problema… Quando é que o povo português finalmente acorda e se revolta como noutros países, nomeadamente França e Espanha? Assim vai Portugal caminhando para o abismo… Ainda bem que emigrei para um país nórdico que pelo menos aplica melhor o dinheiro dos seus contribuintes…

    • Espanha e Franca não podem ser exemplos para ninguém, Lojas destruídas e carros incendiados nao resolvem nada e deixam os contribuintes com os custos directos do prejuízo.
      Veja lá se o seguro do seu carro cobre atos de vandalismo, muita gente em Espanha descobriu que não !

      Existem formas de revolta num pais democrático, basta esperar e nas próximas eleições votar em outros partidos, temos muitos … O que não pode acontecer é ter um governo de maioria eleito por uma minoria porque aqueles que agora reclamam na altura de votar, ficaram em casa no sofá.

      Em países democráticos e com gente civilizada (como a maioria dos nórdicos) as revoluções fazem-se assim, ora tente lá organizar uma revolta como em frança e veja o que lhe vai acontecer … provavelmente nem à manifestação chega … o direito a manifestar não inclui terrorismo domestico

  5. Pelos vistos os Portugueses não foram consultados se queriam cá o papa e as despesas inerentes.
    Para além do palco etc.. quanto paga o Pais ao vaticano para o papa cá vir?

    • isto é um exemplo como os portugueses são abusados em quem se sente no direito de decidir em como “investir” nas verbas que saiem dos impostos sob coação aos portugueses. Não têm voto real na matéria, e as eleições é apenas uma forma de iludir que temos direito de voto na matéria. Na prática não temos.

  6. à muito que se sabe do evento e agora dada a urgencia faz-se uma adjudicação direta…
    Quando se avançou com a 1.ª fase da obra porque não se avançou com tudo?
    Resumindo quem sabe até aqui não á interesses e compradios…

  7. Mas eu e outros como eu não sou Católico e sou de varias Gerações Português , porque Raio tenho de pagar para o PAPA? ele que fique lá e vão lá ter com ele.Eu se quero ver um concerto pago e quem Organiza concertos é que tem de pagar as instalações, porque Raio tem de ser o meu dinheiro usado em coisas supérfluas? Isto nada acrescenta á minha vida, peçam dinheiro a FATIMA que tem lá Muito ou Façam as Jornadas em FATIMA.
    Isto é uma Vergonha Esbanjar Milhões com a Igreja que já é Podre de Rica num Pais onde se passa Fome e Miséria.

    • Tem razão ! …. subscrevo a sua indignação ! . O fato de o Estado Português ser un Estado Laico , não deveria utilizar as verbas dos Impostos de nos todos para un evento Religioso . Como o Web Summit , que iria ter un retorno na Economia , por o que consta o Contribuinte comum não sentiu na sua carteira qualquer beneficio que seja , a não ser as verbas aplicadas Anualmente no evento com dinheiros Públicos . Este País está condenado a podridão !

  8. Este Palco é muito caro, eu já aluguei estes para diversos eventos entre 100/200 metros quadrados com um pé direito de 12 metros de altura por 500 a 1000 euros, isto vai acontecer novas derrapagens, como aconteceu na Expo 98, centro cultural de Belém, 10 estádios de futebol Porto 2001. isto TÁ bonito TÁ.

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