O ministro das Finanças do Paquistão, Ishaq Dar, transformou-se no último político paquistanês com casos pendentes com a Justiça a deixar o país a meio de um processo judicial, devido a problemas de saúde, juntando-se assim a uma longa lista de nomes importantes nesta mesma situação no Paquistão.
Ishaq Dar junta-se ao ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, operado ao coração em Londres, em pleno escândalo do “Panama Papers”, assim como a esposa, Kulsoom, diagnosticada com um cancro que serviu de pretexto para que a família do político esteja ausente de muitas das audiências dos casos de corrupção que enfrentam.
Outro político que adoeceu a meio de problemas com a justiça foi Pervez Musharraf, o ex-ditador militar que deixou o país em 2016, alegando problemas médicos quando enfrentava vários casos judiciais. Musharraf prometeu regressar, por “amor” ao seu país – algo que não fez.
A porta-voz do Ministério das Finanças paquistanês, Mehreen Liaquat, confirmou à Agência EFE que o primeiro-ministro, Shahid Khaqan Abbasi, aceitou o pedido de licença médica de Ishaq Dar, que está em Londres há um mês a tratar de problemas cardíacos.
“Imediatamente após realizar a peregrinação para Meca, no dia 28 de outubro, senti um profunda dor e peso no peito. Consultei médicos locais que me aconselharam ir a um cardiologista”, escreveu o ministro, em carta a Abbasi.
Já na capital do Reino Unido, os exames médicos mostraram uma doença coronária difusa e possível isquemia no coração, e os médicos recomendaram novos exames e que ele evitasse viagens aéreas internacionais.
O político, de 67 anos, estará de licença três meses, de acordo com a legislação do país. Caso regresse antes deste período, continuará à frente do Ministério, cargo que será entretanto ocupado pelo próprio Abbasi temporariamente.
O ministro enfrenta um caso de alegada corrupção e lavagem de dinheiro por posse de bens acima dos seus vencimentos, e foi declarado recentemente foragido pela Justiça, devido às suas consecutivas ausências do tribunal. O caso contra Ishaq Dar foi iniciado pelo Gabinete de Responsabilidade Nacional, principal órgão anti-corrupção do país.
A investigação do Supremo começou há meses atrás, na sequência do caso “Panama Papers”, que revelou supostas irregularidades nas finanças de Nawaz Sharif e Ishaq Dar, e culminou com a saída do ex-primeiro-ministro do poder.
O ministro das Finanças não é o único que adoeceu após as revelações do caso “Panama Papers”, nos quais consta que três dos filhos de Sharif têm empresas em paraísos fiscais com as quais controlam propriedades na capital britânica.
O próprio Nawaz Sharif submeteu-se a uma cirurgia no coração no dia 31 de maio de 2016, em Londres, onde passou um mês e meio, enquanto no Paquistão aconteciam vários protestos contra a sua alegada corrupção.
As desventuras médicas desta família não pararam por aí, e a esposa do antigo governante, Kulsoom Nawaz Sharif, foi diagnosticada com um cancro na garganta quando já tinha sido escolhida como candidata às eleições intercalares pelo lugar de deputado do seu marido, impedido de concorrer.
Kulsoom está a receber tratamento em Londres pela sua doença desde o dia 17 de agosto, e foi substituída pela sua filha Maryam na campanha eleitoral.
A doença de Kulsoom serviu como pretexto para que Sharif e a filha Maryam não se tenham apresentado a várias audiências no tribunal. Os seus filhos Hassan e Hussain não chegaram sequer a apresentar-se a nenhuma audiência, motivo pelo qual foram declarados foragidos pela Justiça.
Também está declarado foragido o ex-presidente Pervez Musharraf, que abandonou o país no dia 18 de março de 2016 alegando problemas de saúde quando enfrentava várias acusações judiciais, uma das quais por traição, crime pelo qual pode ser condenado a pena de morte.
“Eu amo o meu país. Voltarei em poucas semanas ou meses“, prometeu no dia da sua partida o ex-general que governou o Paquistão entre 1999 e 2008, após um golpe de Estado. Musharraf não cumpriu a promessa, e foi declarado foragido no dia 31 de agosto do ano passado.
// EFE