Ministros “devem e podem ter intervenção política”. Adão e Silva rejeita ser condicionado

José Sena Goulão / Lusa

O novo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva

Ministro da Cultura voltou a reforçar que a limitação da intervenção política dos ministros é “uma ideia que não acompanha”.

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, afirmou esta terça-feira, em Melgaço, que ninguém pode “condicionar ou limitar” a possibilidade de um membro do Governo ter intervenção política.

Questionado pelos jornalistas sobre as reações às críticas que teceu sobre a forma como decorreram os trabalhos da comissão parlamentar de inquérito à TAP, Pedro Adão e Silva acrescentou que os ministros “têm responsabilidades políticas e devem e podem ter intervenção política”.

“Essa ideia de que os ministros estão limitados naquilo que é a intervenção política é uma ideia que eu não acompanho. Os ministros têm responsabilidades políticas e devem e podem ter intervenção política e, portanto, eu não sei como é que se construiu essa ideia de que está reservado o conjunto de comentários e matérias que podem ser mencionadas por um membro do Governo”, referiu.

Pedro Adão e Silva falava sobre a polémica em torno da entrevista que deu à TSF e ao Jornal de Notícias, no passado domingo, em que considerou ter havido deputados a agir como “procuradores do cinema americano de série B da década de 80” na comissão de inquérito à TAP.

O Ministro da Cultura não recuou nas críticas à comissão de inquérito à TAP e voltou a falar, esta segunda-feira, do caso, dizendo que não vai “suspender o espírito crítico”.

Adão e Silva lembra que diz o que quer: “Ofender a Assembleia? Eu não vejo porquê. O Governo responde perante a Assembleia, mas não está escrito em nenhum lado que os ministros devem suspender o seu espírito crítico em relação ao funcionamento do Parlamento”.

Na sequência da entrevista, o presidente da comissão de inquérito à TAP, António Lacerda Sales, considerou que as declarações do ministro foram uma “falta de respeito” e uma “caracterização muito injusta” do trabalho dos deputados, pedindo que se retrate.

No programa da TSF e da CNN Portugal O Princípio da Incerteza, a deputada socialista Alexandra Leitão também criticou os comentários de Adão e Silva. “Foram declarações infelizes para um ministro da República. Não sei se se referia apenas aos deputados da oposição ou também aos deputados do seu partido”, aponta.

“Acho que são declarações que um ministro da República não faria se não tivesse maioria absoluta, o que também nos deve levar a pensar. E diria mesmo que muitas das circunstâncias mais complexas que aconteceram na comissão, enfim, foram proporcionadas por eventos que aconteceram no quadro do próprio Governo”, frisa.

Os partidos da oposição também criticaram as declarações, como o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, hoje, no encerramento das jornadas parlamentares do seu partido, que lembrou os custos da TAP, e na segunda-feira, o PCP, que considerou inadequadas as afirmações de Adão e Silva sobre a comissão de inquérito, o BE, que criticou os “comentários insultuosos”, e o líder do PSD, Luís Montenegro, que acusou o ministro da Cultura de “arrogância e pedantismo intelectual”.

A ex-Ministra refere ainda que declarações como as de Adão e Silva “contribuíram muito pouco para a saúde das instituições democráticas” e diz que se revê “inteiramente” na resposta de Lacerda e Sales.

Pedro Adão e Silva, por seu lado, reiterou “que talvez haja um hábito de que os membros do Governo estão limitados politicamente”. “Não sei onde é que vem essa ideia. Os membros do Governo são responsáveis políticos que têm de ter intervenção política. E foi assim que eu fiz isso”, afirmou o ministro da Cultura.

Adão e Silva sublinhou que “não vale a pena ter uma leitura estática” daquilo que disse sobre a comissão de inquérito. “Eu tenho uma preocupação, de que dei conta, aliás, em vários momentos nas últimas semanas, sobre as consequências para o funcionamento da democracia, daquilo que é a relação entre o que se passa nas instituições políticas e, em particular, no Parlamento, no contexto desta comissão parlamentar de inquérito, e a realidade mediática de hoje, que é muito diferente daquela que existia há não muito tempo. Acho que merece reflexão, e foi sobre isso que falei”, explicou.

Disse ainda que “uma das responsabilidades políticas é também ser capaz de dizer coisas com clareza e sem conversas redondas”. “Ninguém vai condicionar nem limitar aquilo que é a possibilidade de um membro do governo ter intervenção política”, rematou.

ZAP // Lusa

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