“Retratar? Até posso elaborar mais”: Adão e Silva lembra que diz o que quer

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José Sena Goulão / LUSA

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva

Ministro da Cultura não recua nas críticas à comissão de inquérito à TAP. Governo admite estudar quota de Cultura nas notícias do serviço público

Pedro Adão e Silva lançou confusão. Quer entre deputados de vários partidos, quer dentro o próprio Partido Socialista.

O ministro da Cultura criticou o funcionamento da recente comissão parlamentar de inquérito à TAP.

“A transformação das inquirições em noites sem paragem, sem saber se se falou ao telefone às 10:00 ou às 10:05, se foi antes ou depois, em que os deputados são uma espécie de procuradores do cinema americano de série B da década de 80, e em que depois tudo isto é prolongado naquele género de comentário, como se comenta os reality shows, nos canais noticiosos à noite – se isso não contribui igualmente para a degradação das imagens e da democracia? A minha resposta é que contribui”, avisou.

A análise originou rapidamente diversas críticas. O ministro voltou a falar nesta segunda-feira e não recuou em nada do que disse. Porque não vai “suspender o espírito crítico”.

Adão e Silva lembra que diz o que quer: “Ofender a Assembleia? Eu não vejo porquê. O Governo responde perante a Assembleia, mas não está escrito em nenhum lado que os ministros devem suspender o seu espírito crítico em relação ao funcionamento do Parlamento”.

E, por isso, não se vai retratar. Pelo contrário: “Até posso elaborar mais sobre a leitura que faço do que foi a CPI”.

“Há uma reflexão a fazer sobre a relação entre estes trabalhos na CPI e a forma como se transformam num longo comentário televisivo, como se estivéssemos a falar de um reality show“, reforçou.

“Estamos a abrir portas para uma lógica de reality show que degrada todas as instituições e isso foi particularmente visível no funcionamento desta comissão parlamentar de inquérito e na sua transmissão posterior com um longo comentário televisivo”.

“Não se compreendem inquirições noite fora, apreensões de telemóveis em direto, perguntas sobre com quem está a trocar mensagens de SMS naquele momento e o tom inquisitório“, continuou, na sua análise.

O ministro, que falou com jornalistas em Vila Viçosa, ficou admirado com as reacções e críticas às suas palavras. Considera que tem um “espírito bastante democrático” mas tem noção de que “nem todos os deputados tenham espírito critico“.

E vai continuar a ter a sua opinião: “Os membros do Governo têm de estar totalmente disponíveis para serem criticados todos os dias em todos os momentos. Mas não vejo por que motivo não podem criticar e fazer reflexões críticas sobre o funcionamento de outros órgãos”.

Pedro Adão e Silva repetiu que não se inclui na lista de pessoas “que se habituaram a fazer carreira com declarações redondas, em que não dizem nada“.

Quota de cultura

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, admitiu estudar a eventual criação de uma quota de 5% por hora de notícias do setor, no serviço de informação dos canais públicos de televisão e rádio.

“Julgo que, na revisão do contrato de concessão de serviço público, é uma matéria que vale a pena refletir e espero que isso também leve a que os privados assumam maior responsabilidade naquilo que é o papel da Cultura”, afirmou.

Adão e Silva defendeu que a Cultura deve ocupar “outro lugar na comunicação social” e que “o serviço público, em particular, deve ter responsabilidades acrescidas” para esse objetivo.

“Há uma reflexão a fazer sobre a responsabilidade social da comunicação social em geral, porque, se calhar, aquilo que é fundamental fica muitas vezes marginalizado na oferta informativa”, disse.

Questionado pela agência Lusa sobre se admite a introdução de quotas deste género, o ministro, que tutela a RTP, insistiu que “é uma matéria que merece reflexão”, nomeadamente em relação ao serviço público de rádio e televisão.

“As coisas têm os seus caminhos e os primeiros passos. Para já, acho que vale a pena ter essa discussão”, frisou, assinalando que esta reivindicação tem sido feita ao Governo por várias entidades.

Lembrando que o novo contrato de concessão de serviço público de rádio e televisão se encontra em “fase de desenho”, o governante considerou que “vale a pena refletir sobre essa medida” e que “mais à frente ver-se-á”.

No sábado, o promotor de espetáculos Álvaro Covões, em declarações à agência Lusa, desafiou os responsáveis pelos canais de televisão a dedicarem à Cultura três minutos, por cada hora dos serviços informativos, de modo a estimular o conhecimento e consumo cultural dos portugueses.

“Deixava aqui um desafio. Por que é que as televisões não estabelecem – todos os canais de informação, todos os serviços de informação – três minutos de Cultura por hora? Não custa nada”, disse o promotor à Lusa, à margem da conferência de imprensa do último dia da 15.ª edição do festival Alive, que a sua promotora, a Everything is New, organizou no Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras.

O promotor revelou na semana passada, em entrevista à RTP, que a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), que junta os principais promotores de espetáculos e festivais em Portugal, propusera ao Ministério da Cultura que fosse criada uma quota de 5% por hora de notícias de Cultura, nos serviços de informação das televisões.

No passado dia 21 de junho, o promotor Luís Montez, da Música no Coração, defendeu uma quota de “cinco, seis minutos”, dedicada a temas da Cultura, nos principais e mais longos noticiários das televisões, durante a audição parlamentar da Comissão de Cultura sobre as quotas de música portuguesa nas rádios.

Estes “cinco, seis minutos”, tendo por referência noticiários de uma hora, representariam uma quota de cerca de 10%.

O promotor que organiza festivais como Santa Casa Alfama, dedicado ao fado, e o Super Bock Super Rock, entre outros, e que mantém em funcionamento canais temáticos como Rádio Amália e Rádio SBSR, citou esta quota como exemplo de outras iniciativas necessárias, no atual contexto da comunicação social, para intensificar o consumo e o conhecimento culturais.

Álvaro Covões explicou que a proposta da APEFE foi feita tendo em conta que “os hábitos culturais em Portugal são os mais baixos – não são dos [mais baixos], são os mais baixos – da Europa”.

“À semelhança do que aconteceu nas quotas de música portuguesa nas rádios, que teve um resultado fantástico, talvez fizesse sentido haver uma quota. As televisões também têm uma licença, como as rádios, portanto, achámos que fazia sentido”, afirmou.

“Sou muito contra a regulamentação, vivemos numa sociedade evoluída e os empresários, as empresas, os gestores, têm também de fazer aquilo que aprendemos na escola, que é autorregulação. Podiam dar o exemplo para a sociedade, até para tornar Portugal um país melhor”, disse.

“Se as televisões trouxerem na informação mais Cultura, se falarem mais sobre teatro, sobre literatura, sobre exposições, sobre dança, sobre ballet, sobre ópera e sobre música, se calhar nós portugueses começamos a consumir mais Cultura, ou pelo menos a conhecer mais”, defendeu.

ZAP // Lusa

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5 Comments

  1. Era tão caladinho. Há qualquer coisa com este gajo. Isto deve ser jogada de Costa. Esperemos pelo próximos capítulos para ver aonde quer chegar este ministro lambe-botas.

  2. Certamente a pedido de costa, como a voz do dono, Adão e Silva saiu com esta polémica
    no sentido de desviar atenções e tentar desvalorizar e esvaziar a CPI à TAP.
    Ora, para quem está atento ao percurso deste figurante, não surpreende.
    Quem não se lembra do seu nítido socratismo como por exemplo quando defendia na SIC
    que José Sócrates estava a ser alvo de uma campanha pública que visava o seu carácter.
    Quando atacou o telejornal da TVI de Manuela Moura Guedes porque, dizia o farsante, que
    o telejornal em causa “fazia campanhas no limite da decência e que aquilo não era
    aceitável.” Sim, fez parte da pandilha que dinamitou o telejornal que ousava questionar
    tudo o que hoje sabemos ser verdade sobre José Sócrates. Adão e Silva praticamente
    defendeu a censura quando diz que um telejornal…não era aceitável. Ora, Pedro Adão e
    Silva chegou a ajudar a escrever a moção de José Sócrates ao congresso do PS. Defendeu
    com unhas e dentes tudo o que foram as grandes opções políticas de José Sócrates e que
    Levaram o país à bancarrota.
    Foi mais um dos que eram mais próximos de Sócrates mas não viam nenhum problema na
    conduta desse sinistro cavalheiro.

  3. Sempre me surpreendeu a capacidade de Pedro Adão e Silva de defender o que lhe convém em cada momento, descartando os factos incómodos e construindo uma narrativa num tom agressivo que acaba por ser eficiente nos debates onde participa. É uma qualidade que justifica a sua presença neste governo cheio de figuras semelhantes mas que não faz necessariamente dele um bom governante.

  4. Que rico menino, quem o viu e quem o vê!!!
    Parecia que não partia um prato e é o desterro da loiça.!?
    O Kosta faz milagres dos seus ministros, ou são corruptos e broncos ou completamente ignorantes e verborreicos.
    Que bem escolhidos que eles são. O Sócrates não faria melhor, de resto, foi o professor do Kosta.

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