O ministro da Saúde manifestou-se, nesta sexta-feira, a favor do uso de canábis para fins terapêuticos, desde que de modo bem controlado e sem permitir a forma fumada.
Em entrevista à Antena 1, Adalberto Campos Fernandes entende que vai ser possível introduzir com rigor a canábis como opção terapêutica agora que os diplomas do Bloco de Esquerda (BE) e do PAN vão ser debatidos na comissão parlamentar de Saúde, depois de terem passado pelo plenário do Parlamento sem serem votados.
Adalberto Campos Fernandes diz que concorda com a utilização da canábis para fins terapêuticos, mas não com a sua forma fumada, indo assim ao encontro da posição da Ordem dos Médicos.
“Concordo em termos que seja regulada pela Autoridade Nacional do Medicamento, com enquadramento científico rigoroso e com sistemas de farmacovigilância muito potentes”, destaca o ministro da Saúde.
Directora-geral de Saúde sem preconceitos
A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, também se manifesta favorável à utilização médica da canábis. “Não tenho nenhum preconceito ao uso da canábis. Antes pelo contrário. Se é efectiva, se faz bem às pessoas, se se pode regular como medicamento, estou de acordo”, diz Graça Freitas em entrevista à Rádio TSF.
“Muitos de nós ao longo da vida usam opiáceos, que à partida seriam uma droga, mas usam opiáceos de forma medicamente controlada com o objectivo de acalmar a dor, tirar sintomas incómodos, dar bem-estar às pessoas e dar qualidade de vida”, conclui.
Prescrição exclusivamente médica
A Ordem dos Médicos já reconheceu que existe forte evidência da eficácia da canábis nalguns usos terapêuticos, mas avisa que a sua prescrição deve ser exclusivamente médica, enquanto medicamento e não na forma fumada.
Um parecer do Conselho Nacional da Política do Medicamento da Ordem dos Médicos permite considerar a potencial utilização da canábis no alívio da dor crónica em adultos, como anti-vómito no tratamento do cancro, na esclerose múltipla ou no controlo da ansiedade.
A Ordem dos Médicos avisa que, pela sua potencial toxicidade, a prescrição da canábis deve ser exclusivamente médica e com regulamentação específica, como é feito com os derivados de morfina, por exemplo.
O parecer aponta para desafios concretos no uso de canábis para fins terapêuticos, sobretudo em relação ao consumo directo da planta, lembrando que “nenhum país europeu autoriza actualmente a canábis fumada para fins médicos”.
ZAP // Lusa