A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, afirmou esta quarta-feira que só soube que a antiga secretário de Estado Carla Alves tinha uma conta bancária arrestada após esta ter tomado posse e através da comunicação social.
Durante uma audição no Parlamento, a pedido do Chega, do PSD, da Iniciativa Liberal (IL) e do PAN, a governante indicou, citada pelo Jornal de Notícias, que se trata de “uma situação ultrapassada”, explicando que que Rui Martinho tinha solicitado por diversas vezes para sair do Governo, devido a problemas de saúde.
Ao analisar o currículo de Carla Alves considerou que esta tinha o “perfil” adequado para assumir o cargo de secretária de Estado da Agricultura, lembrando que este já tinha sido verificado em 2018 para a Direção-Regional, passando na altura pelo crivo da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP) e pelo Tribunal Constitucional.
“Escolhi alguém que tecnicamente me pudesse ajudar a dar continuidade às políticas e claramente o currículo, o conhecimento, de Carla Alves davam essa garantia. E dentro do ministério, nas confederações, entre os outros partidos, os agricultores, todos eram favoráveis a esta pessoa”, acrescentou, citada pelo Público.
“Perguntei se tinha condições para assegurar o lugar, por viver, por exemplo, em Trás-os-Montes, e questionei se tinha algum processo. Disse que não tinha nenhum, que havia um processo, sim, mas que envolvia o marido, quando era autarca e que não tinha implicações come ela”, relatou a ministra.
Após a tomada de posse, soube “por um órgão de Comunicação Social que falava das contas arrestadas”. “Perguntei, uma vez mais, e o que nos foi dito é que era um processo do marido e que havia uma conta, onde o casal depositava os salários, e que essa conta tinha tudo declarado”, esclareceu Maria do Céu Antunes.
“Chegou-se à conclusão de que havia um processo com Américo Pereira, que diz respeito às suas funções como autarca, que é acusado pelo Ministério Público mas que o Ministério Público não acusou Carla Alves. A conta foi arrestada por ser conjunta. Em momento nenhum Carla Alves foi arguida. Em momento nenhum foi acusada”, referiu ainda a governante.
A ministra declarou ainda que foi com base nessas informações que o primeiro-ministro, António Costa, apoiou a manutenção de Carla Alves no Governo. Mas foi esta que, 26 horas depois de tomar posse, decidiu sair. “Aceitei, de imediato, respeitando a sua opção”, contou Maria do Céu Antunes.
Em 05 de janeiro, um dia após tomar posse, Carla Alves apresentou a sua demissão por entender não dispor de “condições políticas e pessoais” para iniciar funções, depois de o jornal Correio da Manhã ter noticiado o arresto de contas bancárias conjuntas que a então secretária de Estado da Agricultura tinha com o marido.
O Ministério Público acusou de vários crimes e mandou arrestar bens do advogado e antigo autarca socialista, que saiu da liderança do município em 2017, num processo de mais de 4,7 milhões de euros que tem mais três arguidos.
Ainda durante a audição no Parlamento, a governante garantiu que, desde que assumiu cargos públicos, avalia diariamente se mantém condições para desempenhar essas tarefas, vincando ser por isso que ainda se mantém em funções.
“É desde 2006 que, diariamente, faço essas perguntas e, por isso, continuo aqui e estou disponível para esclarecer estas e outras questões”, disse Maria do Céu Antunes, em resposta aos deputados.
A ministra da Agricultura foi questionada pelos deputados sobre se reunia condições para se manter no cargo, perante a polémica com Carla Alves. Maria do Céu Antunes disse que, em 2006, quando assumiu as funções de vereadora em Abrantes, analisou se reunia condições para estar no cargo.
No mesmo sentido, assegurou que fez uma avaliação pessoal quando se candidatou e recandidatou à Câmara de Abrantes, quando foi secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, bem como agora enquanto ministra da Agricultura.
“Faço este exercício com o sentimento de dar uma resposta cabal ao que entendo que é o serviço público: ir além da espuma dos dias e desenvolver políticas que façam as pessoas mais felizes”, concluiu.