Os advogados do vingativo milionário Peter Thiel apresentaram, esta semana, uma ação para contestar uma previdência cautelar que o impede de comprar os ativos do já “adormecido” Gawker. Em causa, estão os arquivos de 14 anos do site.
Os advogados de Peter Thiel opuseram-se ao processo de venda do site de notícias Gawker, argumentando que o milionário foi injustamente excluído da licitação. Segundo o BuzzFeed, os advogados alegam que o milionário foi impedido pelo administrador de insolvência, William Holden, de receber informações sobre uma potencial venda
“À luz da recusa do Administrador de permitir que o Sr. Thiel participe no processo de venda, o conselho do Sr. Thiel solicitou que o Administrador concordasse em suspender o processo de venda, de modo que a venda não fosse consumada até as questões relativas ao bloqueio do Sr. Thiel como licitante sejam resolvidas”, lê-se na declaração.
A venda do Gawker – que inclui o domínio e os 14 anos de arquivos – é um dos últimos capítulos de uma saga que começou com o processo judicial de invasão de privacidade do ex-wrestler, Hulk Hogan.
Em 2012, o Gawker publicou uma sex tape que envolvia o antigo lutador de wrestling. O vídeo caseiro, de 1 minuto e 41 segundos, mostrava cenas de relações sexuais de Hogan com a mulher do seu então melhor amigo.
Hogan processou a publicação online por violação da privacidade, e a empresa foi condenada a pagar, no total, cerca de 140 milhões de dólares. Incapaz de pagar o montante, a Gawker Media entrou em falência e vendeu a maioria dos sites à Univision.
Entretanto, veio a descobrir-se que o processo apresentado por Hogan contra a Gawker tinha sido financiado por Peter Thiel, co-fundador do Pay Pal e investidor no Facebook. Thiel terá procurado apoiar casos contra a Gawker depois de o site ter publicado, em 2007, um artigo, ainda acessível, em que afirmava que o milionário era homossexual.
Na altura, Peter Thiel mostrou-se a favor da liberdade de expressão, afirmando que é capaz de suportar uma imprensa livre. No entanto, perante a violação de privacidade, definiu o site como sendo um “sociopata valente” que faz um “uso ridículo e inapropriado” da vida sexual de pessoas privadas.
O assunto despertou acesa discussão entre os que, de um lado, consideram que está em causa o direito à privacidade, e os que, do outro, defendem que estamos perante uma ameaça à liberdade de expressão.
Há quem veja na “intervenção monetária” de Peter Thiel muito mais do que apenas uma vingança, um problema de privacidade ou de liberdade dos media. O desenlace do processo parece por em causa a igualdade do direito à justiça, ao mostrar que quem tem poder financeiro tem garantia de acesso ao poder judicial.
Na comunicação social, alastraram-se rumores de que Thiel poderia, hipoteticamente, comprar o Gawker com o único objetivo de remover os conteúdos do site que mancharam o seu nome, dado que o milionário nunca manifestou publicamente o interesse nos ativos do site.
Quem comprar o Gawker, comprará também os 14 anos de arquivos e terá o direito de fazer com eles o que quiser, incluindo excluí-los.