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“Preocupante”: Milei é como um adepto do Sporting que passa a ser do Benfica

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Juan Ignacio Roncoroni / EPA

Javier Milei, novo presidente da Argentina

Javier Milei levou a melhor sobre Sergio Massa. A celebridade de televisão que comentava tudo, agora, tem um “plano revolucionário”.

Javier Milei é o novo presidente da Argentina. Ainda houve surpresa na primeira volta, quando o ainda ministro da Economia Sergio Massa venceu, mas à segunda o ultraliberal ganhou.

Milei terá contado com o voto de muitos apoiantes de Patricia Bullrich, candidata de direita que foi afastada na primeira volta, mas teve uma percentagem significativa: 23,8%.

O novo presidente é um candidato “anti-sistema” e já tinha avisado que vai acabar com um “Governo de criminosos que querem hipotecar o futuro” da Argentina.

No domingo passado, no discurso de vitória, reforçou: “Hoje começa o fim da decadência e começa a reconstrução da Argentina. Não haverá meias medidas”.

Quer transformar a Argentina numa “potência mundial” mas não recebeu os parabéns de líderes de outras potências mundiais: Joe Biden, presidente dos EUA, dispensou as felicitações (deixou esse papel para um assessor e para Antony Blinken); Lula da Silva, presidente do Brasil, desejou “boa sorte” ao novo Governo mas nunca deu os parabéns a Milei.

Já Donald Trump ficou “muito orgulhoso” – refira-se que Javier Milei é um admirador do ex-presidente dos EUA.

Por cá, o Chega foi rápido a felicitar o novo líder da Argentina, o PSD está “preocupado” e a Iniciativa Liberal preferiu o silêncio.

“Ideias preocupantes”

Na reacção que teve no jornal Observador, Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, disse que o novo presidente da Argentina tem “ideias preocupantes, muitas delas parecem mesmo inexequíveis”.

Javier Milei diz que o Banco Central da Argentina deve ser abolido, quer que o dólar substitua o peso como moeda nacional, acha que a mudança climática é uma mentira, caracteriza a educação sexual como uma manobra para destruir a família, acredita que a venda de órgãos humanos deve ser legal e quer tornar mais fácil a posse de armas de fogo. Além de admirar Trump.

De origem humilde, nascido no seio de uma família de classe média-baixa argentina, era filho de um motorista de autocarro. Esforçou-se para estudar economia, entrou numa universidade política.

Mas Milei apareceu há muito pouco tempo no panorama político na Argentina.

É uma celebridade da televisão e das redes sociais que se tornou famoso porque comentava muito assuntos económicos, mas não só, em programas televisivos que juntam muitas celebridades – que comentam tudo.

Contou, por exemplo, que foi instrutor de sexo tântrico; algo que teve impacto na Argentina (mas nem se sabe se é verdade).

Também começou a falar sobre futebol. E deve ser uma das poucas pessoas que era adepta do Boca Juniors e passou a ser adepta do River Plate

“É totalmente anormal. Em Portugal, é como se alguém do Sporting passasse a torcer pelo Benfica, ou vice-versa”, comparou o investigador João Gabriel de Lima, na rádio Observador.

O membro do Observatório da Qualidade da Democracia focou-se na intenção de tirar o peso da Argentina, passando o dólar a ser a moeda do país: “É um plano revolucionário: num país sem reservas internacionais, como é que vai dolarizar sem ter dólares? Seria uma revolução e um grande caso de estudo na economia”.

João Gabriel de Lima destacou outra ideia deste presidente anarco-capitalista, que defende que o Estado não deveria participar em diversos sectores: o mercado livre de órgãos, legalizar a venda. Quem pagar mais pelo órgão, consegue o órgão que precisa, ignorando a fila e passando ao lado da decisão clínica que define as doações noutros países. “É uma ideia polémica, que quase desapareceu dos discursos quando as eleições estavam mais próximas”.

Mas há um obstáculo

No entanto, e tal como já avisou a agência de notação financeira DBRS Morningstar, a governabilidade é o “desafio-chave” do novo presidente – que terá de fazer um ajuste “doloroso” na economia de um país em crise profunda: a inflação pode chegar aos 200% no final deste ano.

Porque, no Congresso, os ultra-direitistas do partido A Liberdade Avança são minoritários. E isso “provavelmente vai obrigar Milei a adiar, se não mesmo a abandonar” as suas propostas políticas mais radicais, como fechar o banco central ou dolarizar a economia.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

4 Comments

  1. O Milei só é “preocupante” para o establishment, que teme que ele tenha sucesso. A esquerda e centro deixaram o país com 250% de inflação e uma moeda da qual ninguém sabe o valor real, só se sabe que cada dia vale menos. Reservas internacionais inferiores à quantidade de dólares que precisam ser transacionados para o mínimo funcionamento do comercio internacional. Juntemos aos 40% da população na pobreza e 10% de sem-abrigo… é um país completamente de rastos. A Elite aristocrática do establishment só o acha “preocupante” porque temem que o seu sucesso fortaleça o acordar que está a acontecer em todo o ocidente e mundo livre: O fim do establishment e do clientelismo da esquerda está à porta.

  2. Realmente, dar continuidade à política responsável pelos últimos 30 a 40 anos de governo que levou a Argentina à prosperidade, seria o mais indicado, claro.
    Ainda por cima, é “anti-sistema”, logo, “anti-democrático”.
    Argentina com quase 200 % de inflação e 40% (no mínimo) da população na pobreza, isto é, a passar fome, não deveria mudar, deveria continuar no sistema até atingir o patamar dos 90% da população na fome e na miséria. Aí, estaria subjugada para sempre… é o “sistema”.

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