“Hoje começa o fim da decadência”. Javier Milei vence presidenciais da Argentina

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Extrema-direita vence eleições na Argentina com a participação mais baixa desde o regresso à democracia após a última ditadura militar. Javier Milei é o novo presidente e garante: não há espaço para meias medidas.”

O economista ultraliberal Javier Milei é o novo Presidente da Argentina, após ter vencido este domingo a segunda volta da eleição presidencial, admitiu na noite passada o seu rival, o ministro centrista da Economia Sergio Massa.

Javier Milei, 53 anos, “é o Presidente que a maioria dos argentinos elegeu para os próximos quatro anos”, admitiu Massa, o candidato mais votado na primeira volta em 22 de outubro. Milei sucederá ao peronista Alberto Fernández (2019-2023) e governará a partir de 10 de dezembro para o período 2023-2027.

No seu discurso de vitória nas presidenciais, que “começa o fim da decadência” e a “reconstrução da Argentina”, Milei alertou que “não haverá meias medidas”.

“É uma noite histórica para a Argentina”, disse Milei a vários milhares de apoiantes na sua sede de campanha em Buenos Aires. “O modelo empobrecedor de castas acabou. Hoje [domingo] estamos a adotar o modelo de liberdade, para nos tornarmos novamente uma potência mundial”, disse Milei. “Termina uma forma de fazer política e começa outra”, acrescentou.

“Enfrentamos problemas monumentais: inflação, estagnação, ausência de empregos reais, insegurança, pobreza e miséria”, enumerou o presidente eleito. “Problemas que só terão solução se abraçarmos mais uma vez as ideias de liberdade”, acrescentou

“Não há espaço para o gradualismo, não há espaço para a tibieza ou meias medidas”, alertou Milei.

O economista estendeu no domingo à noite a mão a “todos os argentinos e líderes políticos, todos aqueles que querem aderir à nova Argentina”, mas também alertou sobre uma possível resistência social às suas reformas.

“Sabemos que há pessoas que vão resistir, que vão querer manter este sistema de privilégios para alguns, mas que empobrece a maioria. Digo-lhes isto: tudo o que está na lei é permitido, mas nada além da lei”, sublinhou.

Milei prometeu durante a campanha introduzir o dólar dos Estados Unidos como moeda nacional, para combater a inflação de três dígitos, entre outras ruturas nas políticas económicas e financeiras do país.

Outra proposta é uma redução drástica do número de ministérios, para apenas oito, o que levou o seu adversário a afirmar durante a campanha que estava em causa prestação de serviços essenciais à população, incluindo Saúde e Educação.

Apoio de Musk e Trump: “Estou muito orgulhoso de ti”

O populista libertário é declarado apoiante do ex-presidente norte-americano Donald Trump e já contou com algumas palavras de amizade suas após garantir a vitória. O ex-Presidente dos Estados Unidos disse no domingo estar orgulhoso com a vitória do economista ultraliberal.

“Parabéns a Javier Milei por uma grande eleição como presidente da Argentina. O mundo inteiro estava de olho em ti! Estou muito orgulhoso de ti”, escreveu o republicano nas redes sociais.

“Vais mudar o teu país e tornar a Argentina grande novamente!”, acrescentou Trump, que é o favorito para a nomeação como candidato republicano às eleições presidenciais dos EUA de 2024.

Horas antes, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, deu os parabéns ao presidente eleito argentino e destacou o compromisso dos Estados Unidos com os direitos humanos.

“Felicito Javier Milei pela sua eleição como presidente da Argentina e o povo argentino pela realização de eleições livres e justas”, disse o assessor do Presidente dos EUA, Joe Biden.

“Esperamos continuar a construir a nossa forte relação bilateral com base no nosso compromisso partilhado com os direitos humanos, os valores democráticos e a transparência”, acrescentou Sullivan.

Também nos Estados Unidos, o dono da X (antigo Twitter), Elon Musk, deu os parabéns a Milei e garantiu na rede social que “a Argentina tem a prosperidade pela frente”.

Em resposta a uma outra publicação, o empresário disse achar que a vitória do ultraliberal na Argentina pode ser o início de “uma tendência” de derrota para a esquerda em outras partes do mundo.

Massa termina “etapa” na política

Pouco antes do anúncio dos resultados oficiais, indicou perante os seus apoiantes, reunidos na sede de campanha em Buenos Aires, Massa admitiu que telefonou a Milei para “o felicitar e desejar boa sorte”.

“Hoje acaba uma etapa da minha vida política”, anunciou o candidato oficialista Sergio Massa perante os seus apoiantes.

“Mas saibam que sempre contarão comigo para defender os valores do trabalho, a educação pública, a indústria nacional e o federalismo como valores centrais da Argentina”, assinalou o candidato do bloco peronista.

Corrupção e dívida. Os fantasmas de Fernández

A economia da Argentina está em baixa há muito tempo e tem uma das maiores dívidas per capita da América Latina. Além disso, há uma inflação altíssima — atualmente nos 143% — salários baixos e baixo crescimento.

Nem todos estes problemas são responsabilidade exclusiva do presidente Alberto Fernández e de sua poderosa vice-presidente, Cristina Fernández de Kirchner – ambos da facção peronista de centro-esquerda.

Na verdade, o ex-presidente Mauricio Macri acumulou enormes dívidas com o FMI antes de ser derrotado em 2019. Mas é justo dizer que Fernández e Kirchner não conseguiram resolver os problemas económicos do país.

Além disso, a dupla foi atormentada por outros problemas, nomeadamente a corrupção – tanto o patrocínio político de estilo antigo quanto na corrupção moderna baseada no tráfico de drogas em todo o país.

De facto, a 6 de dezembro de 2022, Kirchner foi condenada a seis anos de prisão num escândalo sobre um esquema de propinas que viu contratos públicos irem para um amigo em troca de subornos.

Na primeira volta, em 22 de outubro, Sergio Massa obteve 36,78% dos votos, enquanto Milei, que é apoiado pelo ex-presidente Mauricio Macri e se define como um “anarco-capitalista” — uma forma extrema de liberalismo defensora de uma sociedade capitalista sem Estado — ficou com 29,99%. Para a reta final da eleição, Milei obteve o apoio da terceira classificada na primeira volta, Patricia Bullrich.

As mesas de voto para a segunda volta das eleições presidenciais argentinas encerraram às 18:00 locais (21:00 em Lisboa), com a participação em 76%, informaram fontes oficiais. 76% dos 35,8 milhões de argentinos habilitados para votar acudiram às urnas para escolher entre Massa e Milei.

A confirmar-se esta participação nos resultados finais, que serão divulgados durante a próxima semana, será a participação mais baixa desde o regresso à democracia após a última ditadura militar (1976-1983), segundo a agência EFE. O anterior mínimo data de 2007, quando se registou uma participação de 76,20%. O voto é obrigatório para cidadãos entre 18 e 70 anos e facultativo para idosos e jovens de 16 e 17 anos, bem como para aqueles que vivem no exterior.

ZAP // Lusa

5 Comments

  1. Anarco-capitalismo? Um bocado assustador! Fico curioso de ver os resultados a médio prazo. Sendo economista, Milei conhece bem a Crise dos Anos 30 e suas causas. Parece que, hoje em dia, tudo se extrema.

  2. Viva a Liberdade CrL!! Não há por que ter medo, cair no abismo seria seguir com esse peronismo maldito de esquerda. Um anarco capitalista, libertário com apoio do centro e direita do país, endireitam um país super rico como a Argentina, o desafio é grande, pois a esquerda (como sempre) o deixou na banca-rota total

  3. Extrema-direita? Não será de direita? Mas, o libertarismo é de extrema-direita? A Argentina, governada há mais de 20 anos pelos democratas, está para fechar o ano de 2023 com a inflacção a encostar aos 200% e 40% da população na pobreza. Creio que é uma boa prova para não mudar de rumo, deveria continuar no “mesmo”.
    Eleições com pouca afluência… milhões de cidadãos argentinos fugiram à fome.
    Deixa de chorar, Argentina!

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