Pela primeira vez desde o século XIV, não se celebrou o São João nas ruas do Porto. Por causa da pandemia de covid-19, os portuenses optaram por festejar em casa, apesar de o concelho não registar novos casos de infecções há 16 dias consecutivos. No Hospital de S. João já só há 15 pacientes internados.
Ao contrário da euforia do costume, com martelinhos, alho-porro e arraiais pelas ruas do Porto, desta feita o São João pareceu “um enterro”. O desabafo é feito pela jovem Jéssica Monteiro, de 23 anos, em declarações ao Expresso, queixando-se de que “é horrível”.
“O melhor é não nos armarmos em heróis”, diz, por seu turno, ao semanário António Costa, um morador das Fontaínhas, uma das zonas que costuma acolher a grande euforia da festa.
Este espírito cauteloso levou a que, pela primeira vez desde que se tem conhecimento das celebrações do São João que remontam ao Século XIV, não tenha havido festa rija. “Nem em plena pandemia da gripe espanhola, em 1918“, a festa tinha sido cancelada, como repara o Diário de Notícias (DN).
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, congratula-se com o comportamento dos residentes, salientando, numa publicação no Facebook, que “de uma forma arrepiante, a cidade deu um exemplo solidário de civismo“.
“O Porto fechou-se para festejar o São João”, escreve Rui Moreira, notando que a cidade “acredita no futuro” e que, por isso, “é capaz de sacrificar o seu presente”. “Esta não é uma cidade qualquer. Aqui, cerramos os dentes, fazemos das tripas coração“, salienta ainda num tom bairrista.
A autarquia anunciou diversas restrições para a noite de São João, nomeadamente obrigando os transportes públicos a deixar de circular mais cedo e os restaurantes e cafés a fecharem até às 23 horas. A música foi proibida a partir das 9 da noite e foram cancelados os habituais espectáculos e o fogo de artifício. Também foram proibidas as festas particulares, o consumo de bebidas alcoólicas na rua e a venda de comida e bebida.
Medidas apertadas apesar de o concelho não registar novos casos de covid-19 há 16 dias consecutivos, segundo os dados da Direcção Geral de Saúde (DGS) até terça-feira, 23 de Junho. O número de infectados com covid-19 está estagnado nos 1414 no Porto e verifica-se também um abrandamento das novas infecções em toda a região norte. O foco de preocupação virou-se, agora, para a região de Lisboa e Vale do Tejo.
Hospital de São João já está a preparar segunda vaga
Em Abril, o Porto chegou a ser o concelho do país com mais casos de covid-19. Mas, nesta altura, Lisboa já leva a dianteira com 3191 casos, seguida de Sintra com 2325 casos e de Vila Nova de Gaia com 1622 infectados.
“No Centro Hospitalar de São João, no Porto, há agora apenas 15 doentes com covid-19 internados”, conforme avança o DN. No total do país há 441 doentes internados, dos quais 72 estão em Cuidados Intensivos, de acordo com o boletim da DGS de 23 de Junho.
“Existe uma redução substantiva da procura, quer em termos do serviço de urgência, quer em termos de internamento, incluindo a medicina intensiva”, aponta fonte do Hospital de São João ao DN.
“Paralelamente, está já a ser planeada e construída a resposta para o próximo Inverno, de forma a aprendermos com a recente experiência e podermos implementar um conjunto de medidas que mitiguem a exigência e a complexidade que é esperada”, acrescenta o Hospital.
Coronavírus / Covid-19
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