Médicos devem ganhar tanto quanto juízes e professores catedráticos

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Federação Nacional dos Médicos / Facebook

Noel Carrilho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

O novo presidente presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Noel Carrilho, defende um aumento salarial para os médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), considerando que “é preciso valorizar o trabalho” que fazem, colocando os seus ordenados no mesmo patamar dos juízes e dos professores catedráticos.

Noel Carrilho, que é cirurgião no Hospital de Viseu, revela, numa entrevista ao Público, que a FNAM está a preparar “uma proposta de grelha remuneratória”, no sentido de melhorar os salários dos médicos.

“Temos exemplos de carreiras com responsabilidade semelhante em termos de diferenciação, como a magistratura, a dos professores catedráticos. Queremos ser valorizados pelo menos dentro desse nível. Não queremos ter que pensar em fazer outras coisas para ter outro nível de vida”, salienta o presidente da FNAM.

Alertando que “sem médicos não se faz o SNS”, Noel Carrilho refere que “é preciso valorizar o trabalho que os médicos fazem no seu hospital”, notando que há clínicos que, “com frequência”, vão “trabalhar noutro hospital contratado por uma empresa [à tarefa]” porque no local onde trabalham ganham “significativamente menos”.

Noel Carrilho diz que o ordenado de um médico varia, “consoante a categoria” e se trabalha de noite ou de dia. Mas “por 35 horas e no início de carreira, um médico ganha no fim do mês 1900 euros brutos, o que dá pouco mais de 1300 euros líquidos. Como é que se pode viver assim, por exemplo, em Lisboa?”, questiona, concluindo que “em alguns locais torna-se quase impossível viver com esta remuneração“. Por esse facto, “as zonas carenciadas” de médicos “já deixaram de ser só as clássicas, como o interior do país”, diz.

“O que um médico ganha não é nenhuma fortuna. Para a responsabilidade e diferenciação que têm é pouco e a exigência é cada vez maior. Os médicos do SNS foram também os que mais perderam na época da crise, da troika, e não recuperaram completamente”, analisa ainda Noel Carrilho.

Outra das “reivindicações” da FNAM “é a de que os médicos também tenham direito a trabalhar 35 horas por semana“, refere, salientando que “a realidade de um médico preso a um hospital de forma quase monástica e a prejudicar a sua vida pessoal e a sua saúde está ultrapassada”.

“Os médicos estão a ser obrigados a fazer horas extra”, destaca, apontando também para a necessidade de promover “uma diminuição progressiva do horário de trabalho” por considerar que a profissão é de “desgaste rápido” dada a “actividade diária de altíssima exigência”.

Sobre o excesso de pessoas nas Urgências e os problemas daí advindos, Noel Carrilho fala da importância de “reorganizar o sistema”, sublinhando que “há uma boa parte de falsas urgências que se os médicos tivessem oportunidade de ver a tempo não existiriam”.

Por outro lado, o presidente da FNAM pede “medidas mais céleres, eficazes e dissuasoras” para lidar com as agressões a médicos e outros profissionais nos hospitais. “As pessoas não podem perder o direito constitucional à saúde. É uma situação específica que tem que ser tratada de forma específica. Mas não pode continuar esta noção de impunidade”, conclui, lamentando que os profissionais do SNS se sentem “desprotegidos”.

ZAP //

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