Milhares de estudantes, ativistas ambientais e residentes das Maurícias continuam a trabalhar para tentar minimizar os danos causados pelo derrame de petróleo de um navio encalhado nos recifes de coral ao largo da ilha.
Estima-se que uma tonelada de petróleo da carga de um navio japonês de quatro toneladas já tenha escapado para o mar, segundo as autoridades.
Os trabalhadores estavam a tentar impedir mais fugas de petróleo, mas com os ventos fortes e o mar agitado, registaram-se, este domingo, novas fissuras no casco do navio.
O primeiro-ministro, Pravind Jugnauth, declarou o estado de emergência e apelou à ajuda internacional, adiantando que o derrame “representa um perigo” para o país de 1,3 milhões de pessoas, que depende fortemente do turismo e foi já fortemente prejudicado pelas restrições de viagem causadas pela pandemia de covid-19.
“Esta é a primeira vez que enfrentamos uma catástrofe deste tipo e não estamos suficientemente equipados para lidar com este problema”, disse também Sudheer Maudhoo, o ministro da Pesca do país ao New York Times, citado pelo site Live Science.
Imagens de satélite mostram uma mancha escura a alastrar nas águas turquesa perto de zonas húmidas classificadas de “muito sensíveis” do ponto de vista ambiental.
Defensores da vida selvagem e voluntários transportaram, entretanto, dezenas de tartarugas bebé e plantas raras de uma ilha perto do derrame para a ilha Maurícia, a maior do país.
“Isto já não é uma ameaça para o nosso ambiente, é um desastre ecológico completo que afetou uma das partes mais importantes das ilhas Maurícias, a Lagoa de Mahebourg”, disse Sunil Dowarkasing, um consultor ambiental e antigo membro do Parlamento.
“O povo das Maurícias, milhares e milhares, têm estado a tentar evitar tantos danos quanto possível”, disse Dowarkasing.
De acordo com este responsável, foram criadas longas jangadas flutuantes para tentar abrandar a propagação do petróleo. Estão também a ser usadas faixas de tecido cheia com folhas e palha de cana de açúcar e mantidas a flutuar com garrafas de plástico. Estudantes universitários e membros de clubes locais estão entre os voluntários.
“Estamos a trabalhar a todo o vapor. É um grande desafio, porque o petróleo não está apenas a flutuar na lagoa, está já a espalhar-se para a margem”, disse Dowarkasing, adiantando que os ventos constantes e as ondas espalharam o combustível pelo lado oriental da ilha. “Nunca vimos nada assim nas Maurícias” acrescentou.
A lagoa é uma área protegida, criada há vários anos para preservar uma zona da ilha Maurícia como há 200 anos.
“Os recifes de coral tinham começado a regenerar-se e a lagoa estava a recuperar os seus jardins de coral”, disse Dowarkasing. “Agora tudo isto pode ser novamente morto pelo derrame de petróleo”, acrescentou.
Residentes e ambientalistas questionam por que razão as autoridades não agiram mais rapidamente após o navio, o MV Wakashio, encalhar num recife de coral a 25 de julho.
“Essa é a grande questão“, disse Jean Hugues Gardenne, da Fundação Mauritian Wildlife Foundation. “Porque é que aquele navio estava há tanto tempo naquele recife de coral e nada foi feito”, insistiu.
No Japão, responsáveis da empresa proprietária do navio, a Nagashiki Shipping, e do operador do navio, Mitsui O.S.K. Lines, pediram desculpa pela fuga de petróleo.
Na sua primeira conferência de imprensa desde que o navio encalhou há duas semanas, os responsáveis disseram ter enviado peritos às Maurícias para se juntarem ao esforço de limpeza.
Os dirigentes adiantaram que o Wakashio deixou a China a 14 de julho e estava a caminho do Brasil. O navio estava a cerca de uma milha da costa sudeste da Maurícia quando encalhou, embora fosse suposto estar a 10 a 20 milhas (16 a 32 quilómetros) de distância da ilha, estando em investigação a razão pela qual o navio se desviou da rota. Depois de o navio ter encalhado, a tripulação foi evacuada com segurança.
ZAP // Lusa