Pomares, olivais, vinhas e hortas. O mau tempo que se fez sentir a norte do país neste fim-de-semana arrasou várias culturas culturas agrícolas, deixando prejuízos estimados na ordem dos milhões de euros.
Depois da tempestade neste domingo, a Associação Distrital de Agricultores de Castelo Branco (ADACB) reivindicou a declaração de estado de calamidade pública e exigiu a adoção de medidas urgentes de apoio aos agricultores afetados pelo mau tempo.
“É necessário que o Ministério da Agricultura avalie a situação e que seja declarado estado de calamidade pública para a adoção de medidas urgentes que ajudem os agricultores nesta tragédia”, refere em comunicado enviado à agência Lusa esta estrutura com sede no Fundão, distrito de Castelo Branco.
Os agricultores frisam que se registou uma tempestade, “como não há memória nesta época do ano”, que fustigou a região e destruiu a produção agrícola.
“Vento, chuva e granizo intensos dizimaram as culturas de primavera/verão deste ano, nomeadamente os pomares (cereja, pêssego, pereira, macieira, ameixeira, damasqueiro, figueiras) olival, vinha e hortas. As culturas de outono/inverno, como aveia, azevém, trigo e feno, e os cereais de primavera/verão (milho e sorgo) foram também seriamente afetados”, apontam na mesma nota.
A informação salienta que “a violência do temporal foi tão grande” que “os pomares, olival e vinha serão afetados na produção do próximo ano”.
Os presidentes das Câmaras do Fundão e da Covilhã, Paulo Fernandes e Vítor Pereira, respetivamente, também já apelaram publicamente ao Governo para que adote medidas de apoio aos agricultores afetados pela tempestade.
Produção de cereja praticamente destruída no Fundão
No concelho do Fundão, um dos mais afetados pela forte tempestade, a produção de cereja está praticamente toda destruída e as restantes fileiras produtivas também registam “danos estruturais graves”, sendo que o primeiro balanço da autarquia aponta para prejuízos de “pelo menos 20 milhões de euros”, como apontou Paulo Fernandes.
Por sua vez, o autarca Vítor Pereira fala numa “situação de calamidade” que no concelho afetou a produção de forma diferente, com prejuízos globais a rondar os 30 a 40%, mas com casos em que as perdas ultrapassam os 90%.
Entretanto, o autarca da Covilhã já falou telefonicamente com a ministra da Agricultura a quem deu conta dos “graves problemas”. Apresentou ainda um pedido formal de reunião, tendo sugerido um encontro conjunto com os autarcas da Cova da Beira.
O semanário Expresso, que ouviu produtores da Beira Interior, frisa que uma hora de devastação no passado domingo vai arrasar a agricultura pelo menos durante dois anos.
A Cova da Beira foi atingida por uma tempestade “como não há memória”, disse ao jornal Filipe Costa, dirigente da Cerfundão, a organização de produtores de cereja. “Os registos das estações meteorológicas registaram 40 mm de chuva numa hora, acompanhada de saraivada e vento forte”, explicou, antes de dar conta dos estragos.
“A produção de cereja está perdida e as árvores vão levar dois anos para recuperarem. (…) Terão que ser podadas e muitos destes pomares podem não romper na próxima Primavera”, lamentou o responsável.
Produção da maçã de Armamar destruída
A produção da maçã de Armamar, também foi fortemente afetada pela tempestade de domingo. Cerca de 80% da área de produção de maçã em Armamar foi destruída no fim de semana com o mau tempo, num prejuízo superior a oito milhões de euros.
“Cerca de 80% da área de produção de maçã foi afetada e está praticamente destruída. Talvez 20% da produção possa ter ainda algum valor comercial, mas todo o restante foi completamente destruído”, adiantou o presidente da Câmara Municipal, João Paulo Fonseca, em declarações à agência Lusa.
Segundo o autarca, “as contas ainda estão a ser feitas, está a ser feito um levantamento exaustivo e pormenorizado”, mas, do que já falou com os técnicos da associação de fruticultores, o presidente da Câmara contabilizou mais de oito milhões de euros.
“Estamos a falar de cerca de 1.100 hectares afetados, se tivermos em conta que a média é de cerca de 40 toneladas por hectare, estamos a falar na ordem das 45 mil toneladas. Isto dará um prejuízo na ordem dos 8,300 ME, embora as contas ainda não estejam afinadas”.
João Paulo Fonseca explicou que o mau tempo “afetou mais o sul do concelho, na área da maçã”, uma vez que este fruto “é o grande pilar económico do concelho, a par do vinho do Douro”, que se produz mais a norte.
“Isto prejudica diretamente os fruticultores, mas vai afetar e prejudicar toda uma economia local, que tem uma relação muito direta com aquilo que são os rendimentos vindos deste setor frutícola”, alertou o autarca.
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Vinhas também foram afetadas
Também a Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI) disse revelou que o mau tempo do fim de semana causou “muitos prejuízos” em vinhas da região, mas sublinhou que “ainda é cedo” para avaliar as consequências para a produção.
presidente da CVRBI, Rodolfo Queirós, disse à agência Lusa que “os principais focos de preocupação” estão no Fundão, junto à Serra da Gardunha, onde houve “muitos prejuízos” causados pelo granizo, e também na zona da Covilhã.
No concelho de Belmonte, segundo o responsável, “ventos muito fortes” causaram também “muitos prejuízos” em algumas produções de vinha.
Na zona mais a norte da área da CVRBI, no distrito da Guarda, nomeadamente em Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Franca das Naves (Trancoso), há alguns estragos de granizo, mas “mais localizados”, disse.
Rodolfo Queirós adiantou que existem também alguns relatos que dão conta de danos, por granizo, em zonas próximas da vila de Almeida e em áreas situadas entre Vila Franca das Naves e Mêda. Devido ao mau tempo, o responsável admite que alguns produtores possam ter “prejuízos avultados”, sem adiantar valores.
ZAP // Lusa