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Mau tempo continua. Elsa faz últimos estragos antes do Fabien

Rui Manuel Farinha / Lusa

A depressão Elsa está a dar as últimas, mas ainda não deu descanso ao território português esta sexta-feira. O Porto registou as piores cheias dos últimos 13 anos, o rio Douro transbordou e há milhões de euros em estragos causados pelas condições meteorológicas.

A passagem da depressão Elsa, em deslocação de norte para sul, provocou no território português dois mortos, um desaparecido e deixou perto de 80 pessoas desalojadas, registando-se entre quarta-feira e as 12:00 de hoje cerca de 7.000 ocorrências, na sua maioria inundações e quedas de árvore.

Num balanço feito ao início da tarde, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) referiu que os distritos mais afetados são Porto, Viseu, Aveiro, Coimbra, Braga e Lisboa.

A subida do rio Douro inundou a zona histórica do Peso da Régua. Comerciantes com a ajuda de bombeiros e funcionários da câmara estão a retirar eletrodomésticos, mobílias ou roupas de todas as lojas da principal avenida da Régua, a João Franco, devido à subida do caudal do rio.

“Disseram-nos que o rio vai subir dentro de três a quatro horas, não se sabe ainda quando, mas que se prevê que ele chegue aqui à avenida e entre nas lojas. Desde que cheguei aqui de manhã a água tem estado sempre a subir”, afirmou à agência Lusa Vítor Monteiro, proprietário de uma garrafeira.

Há mais de uma década que o Douro não sobe à João Franco, uma das principais artérias da cidade de Peso da Régua, no distrito de Vila Real.

Nesta avenida, o movimento é intenso esta tarde. Comerciantes ajudados por bombeiros e ainda funcionários do município retiram tudo o que é possível dos estabelecimentos para carrinhas e carros. O município cortou ao trânsito as avenidas João Franco, da Galiza e do Douro, sendo que esta última já está parcialmente inundada pelo rio.

O comandante distrital de operações de socorro (CODIS) de Vila Real, Álvaro Ribeiro, referiu que, face aos caudais do rio e à continuidade da precipitação forte e intensa e como medida de prevenção, avisaram-se todos os proprietários dos espaços comerciais para retirarem os seus bens.

Veículos submersos

A subida das águas do rio Tua submergiu hoje duas viaturas na zona ribeirinha de Mirandela, obrigando à retirada de outros 11 veículos que estavam num parque de estacionamento, disse hoje fonte dos bombeiros locais.

Segundo fonte dos bombeiros de Mirandela, no distrito de Bragança, a subida do caudal do rio, que galgou as margens esta madrugada, provocou estragos em duas viaturas, que acabaram por ficar submersas.

A presidente da câmara de Mirandela, Júlia Rodrigues, avançou que o nível das águas do rio Tua estava já “a baixar” pelas 15:30.

“Registamos um abaixamento no caudal do rio de cerca de 120 centímetros, depois de o rio ter galgado as margens, junto à zona ribeirinha da cidade, durante a madrugada. A situação tende a normalizar, caso as condições climatéricas não se agravem“, disse a autarca.

Segundo fonte do GNR, no concelho de Bragança há estradas cortadas como a municipal 541, que liga Coelhoso a Argeselo (Vimioso), e a municipal que liga Freira a Sanseriz.

Já no concelho de Torre de Moncorvo, regista-se o corte da Estrada Municipal 662, que liga o Itinerário Principal 2 (IP2) à aldeia da Foz do Sabor.

“Inundações em habitações e estabelecimentos comerciais, limpezas de vias, quedas de árvores e movimentos de terras” são as principais ocorrências, especificou o segundo comandante de Operações e Socorro de Bragança, Rómulo Pinto.

Há ainda inundações registadas na praia fluvial da Foz do Sabor, em Torre de Moncorvo, com o registo de “prejuízos avultados”, a que se junta a perda de culturas no Vale da Vilariça.

Altice mantém plano de emergência

A Altice Portugal vai manter o gabinete de crise e o plano de emergência ativos até domingo devido “à continuidade da instabilidade da situação meteorológica”, devido ao agravamento previsto para Norte e Centro do país, anunciou hoje a empresa.

Em comunicado, a dona da Meo refere que, “quase 36 horas depois de ter aberto o gabinete de crise e acionado o plano de emergência, a Altice Portugal vai manter os mesmos ativos até domingo”.

Adianta que a “partir da ‘war room’ [centro das operações], na sede em Lisboa, a Altice Portugal continuará em contacto permanente e estreito com as autoridades que estão no terreno, nomeadamente a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), autoridades locais e forças de segurança”.

A decisão, explica, “foi tomada depois da previsão da ANEPC de continuidade da instabilidade da situação meteorológica, com agravamento no Norte e Centro do país durante as próximas 24 horas, uma vez que à depressão Elsa se seguirá agora a depressão Fabien“.

O grupo “procedeu ao reforço de equipas na zona Centro para defesa de infraestruturas, tendo agora no terreno mais de um milhar de técnicos e operacionais especializados para dar resposta às situações de afetação de serviço e clientes em todo o país”.

A Altice Portugal sublinha que, “no atual momento, seria injusto ser indiferente ao esforço hercúleo, em situação meteorológica muito adversa, com que os colaboradores da EDP têm sido confrontados”.

Gondomar: dois milhões em estragos

A Câmara de Gondomar estima que o mau tempo causou nas últimas 48 horas prejuízos de dois milhões de euros e pondera pedir ajuda ao Governo por considerar o valor “incomportável”, disse hoje o autarca local.

“Temos muitas ocorrências relativas aos rios e nível das águas, bem como de muros caídos, derrocadas e inundações que não fizeram vítimas, mas os danos que calculamos só de via pública – sem contabilizar equipamentos como escolas ou espaços privados – são da ordem dos dois milhões de euros. Isto só nas últimas 48 horas. Estamos a ponderar pedir ajuda ao Governo porque é um valor incomportável para a Câmara”, disse o socialista Marco Martins.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara de Gondomar, distrito do Porto, indicou que as margens dos rios Ferreira e Sousa transbordaram, causando inundações nas zonas do Covelo, Foz do Sousa e São Pedro da Cova.

Quanto aos rios Tinto e Torto não transbordaram “para já”, como disse Marco Martins cerca das 15:30, mas “o nível das águas já causava preocupação” nas zonas de Fânzeres e Baguim do Monte.

Quanto ao caudal do rio Douro, este no concelho de Gondomar fez com que o passadiço de Gramido esteja submerso.

“Já há peças do passadiço a flutuar”, disse o presidente da Câmara de Gondomar, acrescentando que em todo o concelho estão cortadas “cerca de 12 e 14 estradas municipais”.

ZAP // Lusa

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