“Falta de maturidade política” e um “saco de gatos” ideológico. O que explica as saídas do Chega?

Filipe Farinha / Lusa

Nas últimas semanas, vários nomes importantes do Chega têm saído das estruturas autárquicas. Os especialistas apontam a amálgama ideológica e o facto do partido ainda ser jovem como as razões para as divergências internas.

Três autarcas, um secretário-geral e a vice-presidente da distrital de Braga saíram do Chega nos últimos meses e os Congressos são constantemente marcados por divergências internas, tanto que André Ventura já se demitiu e se recandidatou à liderança do partido.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo Público, estes problemas são “dores de crescimento” de um partido cuja imagem ainda está dependente de Ventura e que não tem coerência ideológica.

António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais, considera estas saídas “muito comuns” na fase inicial de um partido, especialmente num partido como o Chega, cuja base se apoia numa “desilusão” com o status-quo. O perito acredita que a falta de “coerência organizativa ideológica” explica as “expulsões e condenações públicas” que se têm notado.

Já Riccardo Marchi, investigador no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, refere que os autarcas de sentiram “abandonados” pelo partido. O especialista desvaloriza o fenómeno, no entanto, lembrando que esta “falta de maturidade política” também se nota nos conflitos internos de outros partidos mais jovens, como no PAN e no Livre.

O Chega é também um “saco de gatos” que cresceu a partir do PSD, do CDS e da abstenção e que junta pessoas sem experiência política em busca de “oportunidades e protagonismo”. Desta forma, os conflitos internos já se previam na “génese do partido”, afirma Marchi.

Os peritos acreditam que as saídas a nível autárquico não se vão repetir no parlamento. Marchi lembra que na criação das listas para as legislativas, houve um “cuidado” para que se escolhesse apenas candidatos “do círculo de André Ventura” precisamente para se evitar saídas de deputados.

“Ventura precisava de um grupo perfeitamente controlado, coeso e de total confiança, para evitar saídas ou para evitar que o PSD ‘comprasse’ deputados do Chega” e é por isso constituído “pelo grupo mais próximo de André Ventura”, considera, apesar de achar que os resultados eleitorais mostram que esse perigo de “roubo” é reduzido.

ZAP //

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