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Maternidade Alfredo da Costa recusa grávidas de risco por falta de pessoal médico

Juntas / Wikimedia

A Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, está a encaminhar grávidas de risco para outros hospitais devido à falta de pessoal médico. A falta de profissionais obriga algumas parturientes a recuperar do parto nas urgências.

Correio da Manhã noticiava que esta quinta-feira à noite a MAC estava a recusar o atendimento de doentes urgentes, depois de o responsável do serviço de urgência da maternidade ter alertado o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Instituto Nacional de Emergência (INEM) para não encaminhar para aquela unidade grávidas de risco.

Questionado pela Lusa, o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) confirmou que, “na noite passada, por doença súbita de um especialista que integrava a equipa de urgência na MAC foi pedido ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) o não encaminhamento de doentes de risco para aquela unidade”.

“O atendimento normal da urgência nunca esteve em causa e não houve necessidade de transferir utentes para qualquer outra unidade hospitalar. A situação encontra-se resolvida”, lê-se no esclarecimento do CHLC.

O jornal refere que, de acordo com os médicos, na origem do problema está a não contratação de pessoal clínico, levando a que os serviços da maternidade entrem em rutura quando algum profissional falta devido a doença ou outro motivo.

“Não nos fecham por fora, mas estão a fechar-nos por dentro”, declarou à agência Lusa Ana Cristina Ranha, enfermeira e dirigente sindical na MAC, referindo-se à falta de profissionais que se acentuou nos últimos tempos e que deverá piorar no próximo mês de outubro.

A enfermeira afirma que a situação na MAC está “caótica“: “Estamos a entrar em momento caos, com muita gente cheia de vontade de sair”.

A enfermeira explicou que a falta de pessoal não é de hoje, mas agravou-se com a transferência de profissionais dos hospitais para os centros de saúde, mediante os concursos internos entretanto abertos.

“O concurso mais recente na Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo deverá levar da MAC cerca de 30 enfermeiros, profissionais que concorrem porque lhe oferecem outro tipo de condições”, disse.

Esta transferência “vai agravar ainda mais a situação. Alguns [enfermeiros] já estão ausentes”.

Ana Cristina Ranha, que trabalha na neonatalogia – o maior serviço da MAC – acrescentou que nesta unidade vão sair 10 enfermeiros e que, atualmente, as equipas que permanentemente deveriam ter 12 profissionais só têm 10.

A enfermeira tem receio do impacto desta redução que se aproxima: “Ou vamos assumir os cuidados com elementos a menos, correndo mais riscos, ou temos de fazer turnos extraordinários com maior frequência”.

Em qualquer das soluções, sublinhou, os profissionais irão sujeitar-se a mais situações de stress.

A falta de enfermeiros na MAC também tem obrigado a que algumas parturientes recuperem do parto no espaço das urgências, onde não usufruem da devida privacidade, além de contribuírem para entupir este serviço.

Isto porque atualmente apenas está aberta uma das duas salas de puerpério que já estiveram a funcionar em simultâneo. Nos dias em que a única sala, com capacidade para 30 mulheres e respetivos filhos, está cheia, as puérperas são encaminhadas para as urgências.

No caso dos médicos, o panorama também não é animador. Uma fonte da MAC disse à Lusa que é elevado o número de médicos com mais de 50 anos a fazer urgência, quando a lei os dispensa da urgência noturna a partir desta idade.

A mesma fonte lamentou que os internos que ali são formados não tenham depois a possibilidade de continuar a trabalhar na MAC, impedindo a resolução, em parte, do problema de falta de pessoal clínico.

A Lusa questionou o CHLC sobre a falta de médicos e enfermeiros na instituição, mas ainda aguarda uma resposta.

Cunha Ribeiro, presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, disse à Lusa desconhecer a falta de médicos e enfermeiros na MAC.

ZAP

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