E se a física nuclear conseguisse salvar os rinocerontes? Numa tentativa de os tornar inúteis para os caçadores furtivos, cientistas sul-africanos estão a implantar isótopos radioativos nos chifres destes animais.
A caça furtiva aos rinocerontes africanos está a levar a espécie à extinção. De cerca 500 mil no início do século XX, o número destes animais à solta na natureza caiu para menos de 30 mil atualmente.
Agora, uma equipa de investigadores sul-africanos está a implantar isótopos radioativos nos chifres de rinocerontes vivos — com o intuito de envenenar quem os consumir.
Este material invulgar “torna o corno inútil… essencialmente venenoso para consumo humano”, explica James Larkin, professor e reitor de ciências da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, à Agência France Presse.
Estes isótopos radioativos são também “suficientemente fortes para despoletar os detetores de radioatividade que estão instalados em todo o mundo”, acrescentou Larkin, referindo-se aos dispositivos originalmente instalados para prevenir o terrorismo nuclear.
Além disso, explicam os investigadores no site do The Rhisotope Project, os dois pequenos chips radioativos instalados nos chifres dos paquidermes não representam qualquer risco para a saúde dos animais ou para o ambiente local, o que faz desta uma solução elegante para um problema muito real.
Os cornos de rinoceronte são extremamente procurados, especialmente para utilização na medicina tradicional, sobretudo na Ásia, apesar de não existirem provas científicas que sustentem os seus supostos efeitos terapêuticos, e podem valer mais do que ouro ou cocaína.
De acordo com um relatório citado pela AFP, 499 rinocerontes foram mortos em 2023, o que representa um aumento de 11% em relação a 2022.
Embora três espécies de rinocerontes permaneçam criticamente ameaçadas, os rinocerontes brancos em África tiveram, felizmente, uma recuperação notável depois de terem sido considerados extintos, em parte graças aos esforços de conservação. De acordo com o relatório, há 15.000 rinocerontes na África do Sul.
Os esforços anteriores de assegurar a sobrevivência dos rinocerontes africanos, incluindo envenenar ou pintar os chifres, falharam até agora. Os conservacionistas recorreram mesmo à descorna intencional dos rinocerontes desde a década de 1980 para os manter a salvo dos caçadores furtivos.
No entanto, Larkin está otimista quanto à esta derradeira tentativa, que está a ser testada em vinte rinocerontes. “Talvez seja esta a solução para acabar com a caça furtiva”, disse à AFP. “É a melhor ideia que já ouvi“.