Uma nova investigação revela que Marte pode ter tido um anel à sua volta. A nova pista está em Deimos, a mais pequena das duas luas marcianas. A sua estranha órbita está inclinada em relação ao equador do planeta, o que pode ser resultado de efeitos gravitacionais causados por um anel planetário.
O Planeta Vermelho tem duas luas que circulam em seu redor, a Fobos e a Deimos. Durante muitos anos, os cientistas supusera, que as duas luas eram asteróides capturados. Porém, um novo estudo mostra que a órbita de Deimos tornaria essa hipótese impossível. Deimo está levemente inclinada no equador marciano, em apenas 2º. Inicialmente, a diferença era tão pequena que muitos cientistas ignoraram o assunto.
“O facto de a órbita de Deimos não estar no plano do equador de Marte foi considerado sem importância e ninguém se importou em tentar explicá-la”, disse Matija Cuk, cientista do Instituto SETI e principal autor do estudo, em comunicado. “Mas quando tivémos uma grande ideia nova e olhamo-la com novos olhos, a inclinação orbital de Deimos revelou o seu grande segredo”.
O segredo veio da observação dos movimentos de Fobos, que orbita mais perto da superfície marciana e está lentamente a entrar em espiral no planeta. Eventualmente, Fobos cairá tão perto de Marte que a gravidade do planeta muito maior destruirá a lua em pedaços – formando um anel.
Os co-autores, David Minton, da Universidade Purdue, e Andrew Hesselbrock, aluno de graduação, sugerem que o futuro de Fobos não é um evento pontual. Em vez disso, depois de a lua ser separada em pedaços, eventualmente as peças transformar-se-ão noutra lua. Isto não acontecerá só com Fobos. Já aconteceu outras vezes no passado marciano.
Esta destruição e reforma das luas explicaria como aconteceu a estranha inclinação orbital de Deimos. “Esta teoria cíclica da lua marciana tem um elemento crucial que torna possível a inclinação de Deimos: uma lua recém-nascida afastar-se-ia do anel e de Marte na direção oposta à espiral interna que Fobos está a sofrer devido a interações gravitacionais com Marte”.
“Uma lua que migra para fora dos anéis pode encontrar a chamada ressonância orbital, na qual o período orbital de Deimos é três vezes maior que o da outra lua. Podemos dizer que apenas uma lua que se move para fora poderia ter afetado fortemente Deimos, o que significa que Marte deve ter tido um anel a empurrar a lua interna para fora“.
Esta lua teórica teria sido enorme, 20 vezes mais massiva do que Fobos. Teoriza-se que Fobos seja duas gerações mais jovem que esta lua, que se separou e se reformou duas vezes – da segunda vez, formou Fobos.
Além disso, a era de Fobos favorece a teoria. Deimos tem milhares de milhões de anos, mas Fobos tem apenas 200 milhões de anos.
A investigação foi apresentada na 236ª reunião da Sociedade Astronómica Americana, realizada virtualmente até 3 de junho. Um artigo foi aceite para publicação na revista científica Astrophysical Journal Letters.
Até agora, nenhuma nave espacial conseguiu chegar perto da lua marciana para testar teorias geológicas, mas isso pode mudar em breve. A Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA) planea enviar uma missão a Fobos em 2024, chamada Martian Moons Exploration (MMX).