Um oceano que nem sempre foi Pacífico: nas ilhas Marshall há radiação nuclear… subaquática

A explosão “Baker”, parte da Operação Crossroads, um ensaio de armas nucleares efetuado pelos militares dos Estados Unidos no Atol de Bikini, na Micronésia, em 25 de julho de 1946.

O governo americano iniciou nos anos 40 uma série de experiências nucleares no Atol de Bikini. 80 anos depois, uma “paisagem lunar” debaixo de água ainda recorda a Guerra Fria.

Foi no dia 1 de julho de 1946 que o governo americano reuniu cientistas e jornalistas para assistir à detonação da primeira bomba atómica, que explodiu no Atol de Bikini, nas ilhas Marshall, em consequência da chamada operação Crossroads.

Estava-se no pós segunda-guerra mundial, meses antes do desencadear da Guerra Fria, e meses depois da explosão da bomba atómica americana em Hiroshima.

O objetivo era testar duas bombas nucleares, uma com explosão aérea (a bomba Able) e outra submarina (a bomba Baker).

O governo de Truman quis observar o efeito destas armas em dezenas de navios de guerra, colocados no local, onde iam a bordo animais. Foi a explosão submarina que originou a — já conhecida pelos americanos — nuvem em forma de cogumelo, e também a que provocou mais estragos.

Hoje, é impossível pescar ou habitar na ilha, de onde os poucos habitantes foram evacuados antes dos testes.

Ainda assim, um estudo publicado em setembro deste ano no Journal of Maritime Archaeology, liderado por Michael L. Brennan e James P. Delgado, da SEARCH Inc., em conjunto com Arthur C. Trembanis, da Universidade de Delaware, comprova que os níveis de radiação no local têm diminuído.

Apesar disso, a destruição ainda estaria bem visível para quem se aventurasse a colocar uns óculos de mergulho.

Fotografias do local mostram peças bem preservadas de navios, como o porta-aviões USS Saratoga e o japonês Nagato, bem como objetos mais pequenos como aeronaves ou instrumentos de teste que foram lançados do convés.

Graças ao novo estudo, os cientistas elaboraram um novo mapa submarino do local, construído com a ajuda de veículos subaquáticos e uma tecnologia de side-scan sonar.

M.L. Brennan et al.

Mapa completo da paisagem da lagoa de Bikini em redor da área de atracagem da frota de testes, mostrando a cratera Baker e 12 naufrágios no fundo.

Michael L. Brennan contou à revista La Brújula Verde que o resultado desse mapa “é nada menos que uma paisagem lunar submersa”, repleta de crateras provocadas pela explosão que se estendem por vários quilómetros. A maior cratera chega a atingir os 800 metros de diâmetro.

O investigador realça ainda que este estudo abre uma nova perspetiva sobre as armas nucleares, já que se trata do único registo de atividade nuclear num meio aquático.

“O próprio fundo do mar é um testemunho da era nuclear, marcando talvez o início do Antropoceno, a época geológica definida pelo impacto humano nos sistemas da Terra”, conclui o investigador.

CBP, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.