Marcelo recusa ser arrastado para a “luta na lama” com Costa

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Estela Silva / LUSA

Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República tem-se mantido maioritariamente em silêncio mediante as críticas de António Costa, que o culpa pela crise política.

Nas últimas semanas, António Costa tem descalçado as luvas contra o Presidente da República, tendo várias vezes criticado a sua decisão de dissolver a Assembleia da República e culpando-o pela crise política “irresponsável”.

Marcelo Rebelo de Sousa, por sua vez, tem optado por uma resposta mais recatada. “Foi ele que se quis ir embora. Não fui eu que disse: vá-se embora. O primeiro-ministro vai estar em funções ainda uns meses, diz o que pensa, e o Presidente respeita o pensamento do primeiro-ministro mas não coment”, respondeu.

O chefe de Estado até afirmou que Costa seria o seu favorito para continuar na liderança dos socialistas e defende que o primeiro-ministro seria uma boa escolha para a presidência do Conselho Europeu.

De acordo com fontes da Presidência ouvidas pelo Expresso, há duas razões que explicam a recusa de Marcelo de ser puxado para a “luta na lama” com António Costa — é importante manter alguma cordialidade dado ter de trabalhar com Costa até Março e porque “responder ao PM seria entrar na campanha do PS”.

“António Costa sai daqui a quatro meses, o Presidente da República tem dois anos e meio pela frente, e a partir de março irá trabalhar com o próximo primeiro-ministro”, refere a fonte. Ou seja, não vale a pena entrar em picardias com Costa quando está prestes a ser iniciado um novo ciclo.

A sugestão do PS de que Mário Centeno fosse o substituto de Costa na liderança do Governo até ao fim da legislatura é também considerada ridícula. “Um Governo liderado por Centeno após a demissão de António Costa, sem eleições, e com Pedro Nuno Santos à solta, durava seis meses. E quem defendeu que a saída de um primeiro-ministro deve dar eleições foi o PS, quando Durão saiu e Santana o substituiu”, refere a fonte.

Marcelo apoia ainda uma coligação pré-eleitoral do PSD, CDS e Iniciativa Liberal e considera imprudente a decisão dos liberais de ir a votos sozinhos. A aposta de Luís Montenegro deve ser o voto útil.

“As pessoas vão ter de perceber que, se facilitarem e dispersarem o voto, até podem ter uma maioria de direita mas o indigitado será o outro”, refere um ‘barão’ do PSD. Este cenário foi, inclusive, o que já aconteceu com Cavaco Silva e António Costa, na primeira geringonça. Marcelo não discorda.

Marcelo vê em Pedro Nuno uma vantagem para o PSD, podendo afastar eleitores moderados do PS. Num cenário de vitória do PS sem maioria, existe a possibilidade de uma maioria de direita derrubar o Governo socialista. No entanto, Montenegro prometeu demitir-se nessa situação, o que poderia levar a direita a uma nova crise.

Até Março, Marcelo espera atuar mais nos bastidores, prevendo que o próprio Costa reduza o seu protagonismo com o avanço da campanha eleitoral. O foco desloca-se agora para a disputa entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, marcando o início de um novo ciclo político em Portugal.

Adriana Peixoto, ZAP //

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