Manto sagrado reencontrado 335 anos depois. Indígenas do Brasil sabiam bem onde estava

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Ricardo Stuckert / PR

Lula da Silva perante o manto sagrado dos Tupinambás

O indígenas brasileiros Tupinambás estão em festa, depois do reencontro com um manto sagrado, que foi levado para a Europa, há 335 anos. Há, no entanto, ainda outros dez exemplares que permanecem em museus do Velho Continente.

O povo indígena Tupinambá celebrou o regresso de um manto sagrado – um dos seus maiores símbolos espirituais – que está de volta ao Brasil depois de mais de três séculos na Europa.

“O seu regresso é o início de uma nova história de conquista para os povos indígenas”, afirmou o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, durante a apresentação oficial no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Além de Lula da Silva e da primeira-dama, Rosángela ‘Janja’ da Silva, o evento contou com a presença de membros da etnia Tupinambá, da ministra dos Povos Indígenas, Sónia Guajajara, e de representantes de governos regionais.

Para os Tupinambá, a chegada do manto a solo brasileiro é de “extrema importância” e, por isso, cerca de 170 indígenas marcaram presença no museu no Rio de Janeiro.

O manto tem sido homenageado desde o fim-de-semana com cantos, rezas, vigílias, fogueiras e conferências.

Estava na Dinamarca. E os outros?

O manto ancestral foi repatriado da Dinamarca, onde se estava desde 1689.

A imponente peça, com 1,20 metro de altura e 80 centímetros de largura, foi confecionada principalmente com penas da íbis-vermelha – ave também conhecida como garça-vermelha ou guará -, mas também com penas de papagaios e araras azuis e amarelas.

A origem remonta ao século XVI e foi trazido para a Europa pelos holandeses por volta de 1644.

O manto é um símbolo de poder espiritual, que representa a identidade da etnia Tupinambá e a ligação à sua ancestralidade.

Era utilizado exclusivamente em cerimónias rituais pelos mais sábios do povo Tupinambá e é o único do género que regressou a solo brasileiro.

Outros dez exemplares ainda estão em museus europeus.

Acredita-se que vários foram enviados para a Europa por missionários jesuítas e outros foram obtidos como espólio de guerra ou comercializados com os indígenas.

Tupinambá ainda não estão contentes

Além de haver ainda outros dez mantos na Europa, os Tupinambás estão descontentes porque não podem ter o manto nas suas terras.

Desde o dia 4 de julho, quando desembarcou no Brasil, o manto tem sido mantido em condições específicas de conservação no Museu Nacional, onde vai permanecer.

Lideranças da etnia denunciaram que o processo não foi transparente e que lhes foi negado o direito de receber o manto no dia em que desembarcou no Brasil.

No mesmo evento, onde marcou presença o presidente Lula da Silva, crescentaram que vão continuar a lutar até ser devolvido à terra à qual pertence.

“O nosso património não está a ser tratado com o devido respeito porque nós somos os verdadeiros herdeiros do manto sagrado”, disse, citada pela Lusa, a cacica Yakuy Tupinambá.

ZAP // Lusa

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