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Máfias já usam call centers para vender droga na Europa

A apreensão de um envelope utilizado para enviar encomendas, no final do ano passado, é o exemplo de uma das novas formas de tráfico de droga na Europa.

Quando os inspetores da Polícia Judiciária inspecionaram o envelope, encontraram largas centenas de comprimidos de MDMA – mais conhecida como ecstasy – e uma embalagem com o equivalente a mil doses individuais da mesma substância em pó.

Esta apreensão, que levou à detenção de duas pessoas, é o exemplo de uma das novas formas de tráfico de droga que estão a desenvolver-se na Europa.

E se esta tendência já está implantada em Portugal, como confirmou ao Diário de Notícias o responsável pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ, Artur Vaz, há uma que ainda não chegou ao nosso país: a criação de call centers para onde se pode telefonar a pedir a entrega de uma determinada quantidade em local combinado.

É a entrega “mais rápida em qualquer lugar, a qualquer hora”, como lhe chama o Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência num documento em que analisa as “Mudanças recentes no mercado europeu de cocaína”.

Estas alterações passam pela possibilidade de um consumidor de cocaína – que tem na Europa o seu segundo mercado depois dos EUA – fazer a encomenda por telefone e indicar o local onde quer que lhe seja entregue.

São centrais telefónicas com sede nos Balcãs e em Espanha e ligações a outros países onde estão os correios que transportam e entregam a droga. Ou então enviam os estupefacientes como encomenda postal.

O relatório adianta que as autoridades francesas também já detetaram serviços destes em Paris e no Reino Unido, onde se estima que existam mais de mil linhas telefónicas para este tipo de serviço.

Redes sociais como Twitter, Facebook, WhatsApp e Telegram também são utilizadas para estes contactos, o que torna as investigações das autoridades difíceis.

Dificuldades agravadas com o aumento da utilização pelas redes criminosas da Dark Web – redes encriptadas a que só se acede com software e configurações específicas. Em Portugal, “não temos call centers, mas há utilização da Dark Web, não só para a cocaína”, adianta Artur Vaz.

Os elevados proveitos do tráfico de cocaína – a produção tem batido recordes nos últimos anos, principalmente na Colômbia – faz que existam cada vez mais redes criminosas a entrar no negócio.

Há cada vez mais redes organizadas envolvidas – incluindo as famílias da máfia italiana, Ndrangheta e a Camorra. Estas têm uma especificidade: criaram as próprias redes de tráfico na América do Sul.

Há, porém, grupos ingleses, holandeses, irlandeses e espanhóis que procuram criar as suas rotas indo comprar a cocaína aos produtores e depois transportam-na para a Europa, onde aproveitam a livre circulação de pessoas e bens para transportar a droga.

Uma concorrência que está a provocar um aumento da violência, pois o mercado está altamente competitivo.

Portugal a perder importância

Neste cenário de presença forte de grupos do centro da Europa, Portugal está a deixar de ter importância no tráfico, com esse poder a transferir-se para Amesterdão. Antuérpia, Algeciras, Le Havre (França) e Hamburgo (Alemanha).

“Somos um ponto de trânsito que está a perder relevância, também devido ao trabalho das polícias”, frisa o diretor da UNCTE. Em Portugal, a principal droga traficada “é o haxixe”. Há ainda problemas com as drogas sintéticas e as novas substâncias psicoativas.

Uma das formas de tráfico detetadas em Portugal – além do aumento “das encomendas postais” – passa pela utilização de veleiros no verão e pelos contentores que chegam em navios e onde a droga está “disfarçada” entre produtos legais. Há ainda as ligações aéreas com o Brasil, um ponto importante de origem dos correios humanos que a transportam para a Europa.

“O que tem aumentado é o uso da Internet. Temos tido situações de encomendas que vêm do estrangeiro e depois são entregues por empresas de distribuição”, rematou.

ZAP //

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