Lula lembra ascensão “trágica” da extrema-direita, condena invasão da Ucrânia e pede diálogo

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Tiago Petinga / EPA

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente do Brasil, Lula da Silva, salientou, durante o seu discurso na sessão de boas-vindas no Parlamento, a forma como a Revolução dos Cravos foi vista com “esperança” do outro lado do Atlântico, no Brasil, onde ainda se enfrentavam “prisões políticas e assassinatos”.

Lula citou a canção “Tanto Mar” de Chico Buarque, homenageado na segunda-feira com o Prémio Camões, como símbolo desse momento: “Eu queria estar na festa pá, com a tua gente, e colher pessoalmente uma flor do seu jardim. Sei que há léguas a nos separar, tanto mar, sei quanto é preciso navegar, navegar”.

O chefe de Estado passou depois a elencar as conquistas da sua eleição enquanto Presidente, em que, disse, “as forças democráticas brasileiras demonstraram sua solidez”, contra os “totalitarismos” que “tentaram reverter liberdades”, e foi eleito não só o primeiro chefe de Estado brasileiro operário, como a primeira vice-presidente mulher.

Declarou que, com a sua presidência, não se aceita “que o país passe fome”, que se retomou a “trajetória de forte compromisso com o crescimento sustentável”, que o Brasil irá “contribuir para a transição energética global”, reduzir desigualdades ou lutar contra o racismo e a violência de género.

Criticou as “ideologias extremistas impulsionadas pela ditadura dos algoritmos” que “propagam o ódio”. “No Brasil, vivemos a consequência trágica de demagogos e negacionistas durante a pandemia”, que levaram à morte de 700 mil pessoas. “Metade poderia ter sido evitada não fossem as fake news, a negação das vacinas e da ciência feita pela extrema-direita do meu país”.

O chefe de Estado brasileiro disse considerar “a integração resultante da UE um património democrático da humanidade”, recordando que viveu no Brasil “a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política e o diálogo”.

Lula continuou a intervenção e falou no 25 de Abril e como o movimento “permitiu que Portugal desse salto para o futuro” e fala da “vibrante democracia parlamentar” que se iniciou.

“José Afonso também embalou a nossa luta no Brasil”, continuou Lula falando do próprio processo de democratização do Brasil. E falou na “grave ameaça” que recentemente se viveu no Brasil e dos saudosos que “tentaram atrasar o relógio 50 anos”. E garantiu: “A notícia que trago é que a força democrática brasileira demonstrou a sua solidez e resiliência”.

Sobre o “aumento de tensões geopolíticas” no mundo, disse que tem recebido em Portugal “palavras de solidariedade e encorajamento nos último dias”. E que Portugal “tem muito a ensinar ao mundo”, nomeadamente com o 25 de Abril e “como uma política militar que luta pela liberdade jamais poderá vencer o povo, pode no máximo prolongar o conflito indefinidamente” tornado mais difícil “o acerto de contas” com a população.

“Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra o vento da história”, indicou Lula, defendendo o “diálogo e negociação política”. E condenou “a violação da integridade territorial da Ucrânia”, sendo aplaudido. “A guerra não poderá seguir indefinidamente”, apontou.

“É preciso falar em paz e é indispensável o caminho para o diálogo e a democracia”, afirmou Lula, que disse que a as ferramentas da governação global têm-se “mostrado insuficientes”, defendendo a reforma do conselho de Segurança da ONU.

“Continuaremos o caminho orgulhosamente juntos por um mundo mais justo”, prometeu, em relação a Portugal. E rematou com um “viva a liberdade e a democracia; e não ao fascismo político”.

Santos Silva pede desculpa e elogia coragem de Lula

Assim que Lula começou a discursar, todos os deputados do Chega levantaram-se, com cartazes na mão dizendo “Chega de corrupção” e “Lugar de ladrão é na prisão” e ainda bandeiras da Ucrânia.

Quando a bancada socialista aplaudiu o discurso de Lula, os deputados do Chega bateram com as mãos nas mesas de madeira, com o presidente da Assembleia da República a pedir que se comportassem “com urbanidade, cortesia e educação”.

“Chega de insultos, chega de envergonhar as instituições, chega de envergonhar o nome de Portugal”, pediu, visivelmente irritado, a segunda figura do Estado. Mesmo assim, todos os doze deputados do partido de André Ventura mantiveram-se de pé, empunhando cartazes.

De cada vez que os deputados da esquerda aplaudiam Lula, os do Chega batiam com a mão nas mesas, o que levou outros parlamentares a protestarem: “Schiuuu.”

No final do discurso de Lula, Augusto Santos Silva pediu “formalmente desculpa em nome do Parlamento português” pelo que aconteceu durante o seu discurso. E elogiou “a coragem e educação de que deu provas”.

Após a sessão de boas-vindas, o Presidente brasileiro desvalorizou o que aconteceu, considerando tratar-se de uma “cena de ridículo”.

Nos Passos Perdidos, em declarações aos jornalistas, disse que isto é “o que acontece quando as as pessoas não têm coisas boas para dizer”. Garantiu que o sucedido não devia acontecer num “evento de homenagem à Revolução”, mas frisou que tal atitude impactou especialmente os próprios que, disse, “quando voltarem a casa vão pensar: que papelão que nós fizemos”.

Transição portuguesa impactou “transição brasileira”

O presidente da Assembleia da República foi o primeiro a discursar na sessão de boas-vindas a Lula. Augusto Santos Silva agradeceu ao Presidente da República os “gestos de atenção fraterna” por ter honrado Marcelo Rebelo de Sousa “com o lugar e carinho especial” na sua tomada de posse e por ter retomado as cimeiras entre Portugal e o Brasil, cujos resultados “mostram o acerto de tal decisão”.

“Consigo Brasília volta a abrir-se ao mundo”, elogiou, acrescentando que Lula é o “líder político cujas políticas sociais” foram capazes de reduzir a “pobreza” e as “desigualdades” e o “estadista” que soube defender as “eleições livres”, depois de terem sido colocadas em causa, “sem hesitação”.

Salientou que a visita de Lula ocorre numa altura muito significativa para Portugal, a da revolução de Abril. “Poucos compreenderam e cantaram melhor o 25 de Abril do que Chico Buarque de Hollanda”, galardoado com o Prémio Camões de 2019, mas que devido ao “sectarismo preconceituoso” só esta segunda-feira foi entregue, referiu Santos Silva.

“A transição portuguesa dos anos 70 inspirou a brasileira dos anos 80”, afirmou, vincando que os dois países dão corpo ao “pluralismo político, direitos humanos, Estado social forte, desenvolvimento inclusivo e direito à igualdade e não discriminação”. São “países irmãos pela história e pela liberdade democrática”, insistiu.

“O traço de união mais firme está nas muitas centenas de milhares de portugueses a viver no Brasil e das centenas de milhares de brasileiros que vivem em Portugal”, apontou, falando também dos filhos de casais mistos dos dois países.

O presidente do Parlamento continuou, sublinhando que as “universidades enriquecem-se”, as “empresas têm mercado e investimento no Brasil” e que “a cooperação bilateral tem criado excelentes oportunidades de desenvolvimento mutuamente benéfico”.

“O Parlamento reafirma a íntima fraternidade com a ‘república dos sonhos’, onde tantos portugueses realizaram, realizam ou projetam o seu futuro”, afirmou o presidente da Assembleia da República.

Santos Silva apelou ainda a que Portugal e Brasil trabalhem “mais e melhor na cena internacional” porque “o mundo que ambicionamos” — “seguro e sustentável”, “regulado pelo direito internacional” ou “comprometido com direitos humanos” — “precisa de Portugal e do Brasil”. Sobretudo, num tempo de guerra na Ucrânia.

O Presidente condenou, depois, a agressão por parte da Rússia e solidarizou-se com o povo ucraniano, sinalizando que Portugal apoia a “luta pela independência” da Ucrânia e que o cravo vermelho de Abril “simboliza a liberdade por que se batem hoje os ucranianos”, uma declaração que lhe valeu palmas e uma ovação em pé por parte do PS e PSD.

O presidente da Assembleia considerou “urgentíssimo trocar as armas pelas conversações diplomáticas”, a fim de se pôr fim ao conflito, sublinhando que as políticas externas de Portugal e Brasil devem “convergir a favor da paz”.

ZAP //

17 Comments

  1. Lula é um mentiroso contumaz. O Brasil está à deriva, sem liderança efetiva, mergulhado em sucessivos escândalos. A corrupção volta a ser endêmica e o congresso toma decisões em troca de dinheiro. Aliás, dinheiro que logo se acabará, pois a economia é um barco furado, capitaneada por um incompetente. O governo somente sabe aumentar gastos públicos e sr. presidente e sua senhora, uma inútil, gastam o dinheiro, arrecadado dos brasileiros pelos altos impostos, com futilidades.

  2. Viagem psicótica do ladrão. A única ascensão que realmente preocupa é a da corrupção e das cleptocracias nos países latinos. Lugar de ladrao é na prisão

  3. Será que o agora Presidente Lula está ao corrente do que o CDC (USA) mesmo já admite, que as máscaras não tiveram o impacto que se pensava, e que as vacinas têm vários efeitos secundários, e estou a referir-me a pessoas saudáveis?

    Lula já esteve no poder e enfim, nada do outro mundo em relação a melhorar a vida de cada Brasileiro. Vejamos o que acontecerá agora.

    • Ele fez muito para ajudar os regimes ditatoriais da Venezuela e Cuba. Pouco fez pelos brasileiros a não ser dar umas migalhas aos que não querem trabalhar e desviar favores para ele e para os amigos… Parecido com o PS…

  4. Agora o meliante não quer mais que a Ucrania ceda a Crimeia para a Russia como defendeu anteriormente?
    E não acusa mais a União Europeia de promover a guerra?
    É um legítimo farsante que muda o discurso conforme o público.

    • Que valor tem um Presidente como Lula que diz agora uma coisa e amanhã diz outra? Trata-se de um pantomineiro em quem não se pode confiar.

  5. Os Partidos Políticos em Portugal , juntos na A.R , é comparável a un saco fechado com gatos assanhados dentro . Mais preocupados com carreiras Politicas Individuais que a resolução dos verdadeiros problemas do País !

  6. Lula disse o que pensava sobre a guerra na Ucrânia enquanto esteve na China só corrigiu porque o fizeram ver o que ele disse mas isso não muda o que ele pensa nem o que ele é, um corrupto condenado e um comunista defensor da Rússia.

  7. Pois, o que se passou no Parlamento Português é o mesmo que se passa neste fórum e noutros locais. Quando as emoções comandam a razão, o que sobra são os comentários e atitudes emotivas, desrespeitosas, rudes e brejeiras. E logo hoje no 25 de Abril! É quando vejo atitudes destas que valorizo as mudanças políticas ocorridas no nosso país. O que seria de nós, caso contrário?

    • Concordo totalmente. A democracia bateu mesmo no fundo quando se convida um ladrão, e ainda por cima apoiante de russos criminosos, para falar no dia da liberdade. A dele, arquitetada num sistema judicial que é o que é, ter-lhe-á sabido bem. E já em breve também o seu sócio português verá as acusações prescreverem. É um dia feliz para a democracia nacional.

  8. O povo brasileiro não é extrema-direita, extrema-esquerda, nem segue qualquer extremismo. Nem os políticos o fazem, já que por mais que briguem, sempre concordam em aumentar seus próprios salários e privilégios. O que um povo quer é viver com segurança, ter possibilidade de uma vida digna e confortável, educar-se e educar seus filhos, trabalhar e ser remunerado condignamente por isso.
    Políticos profissionais, como Lula, desacostumados do trabalho e das responsabilidades comuns a todo cidadão, já que são párias do Estado e vivem – muito bem, obrigado – às custas do dinheiro tirado dos impostos, seguem o mesmo roteiro de alimentar as divisões e as rivalidades, mas não praticam o que pregam, o que os torna tremendamente hipócritas.
    O homem que se deixa chamar de “Pai dos Pobres”, que faz discursos criticando a classe média brasileira pela mania “luxuosa” de ter dois aparelhos de tevê, duas máquinas de lavar ou dois carros, quando, segundo ele, poderia ter apenas um de cada, é o mesmo que usou dinheiro público para comprar uma cama de quase 50 mil reais e queria comprar uma mesa de 200 mil reais para a residêncdia presidencial, além de se hospedar em hoteis de luxo e gastar fortunas em refeições com champanhe e caviar, alimentos inacessíveis à maior parte dos brasileiros.
    Portanto, não há um excesso de extrema-direitas no Brasil; há, apenas milhões de pessoas inconformadas com a farra com o dinheiro público promovida por esse desgoverno capitaneado pelo sr. Lula da Silva.

  9. É claro que eu me referia aos insultos do partido CHEGA. Algum nível de corrupção acredito que seja transversal a todos os partidos, por isso, um partido que vai para o Parlamento chamar corruptos aos outros políticos é no mínimo hipócrita. Ou será que os membros do CHEGA vivem num bairro social e andam de bicicleta, de tão modestos que são? Se conseguissem formar governo, reivindicariam as mesmas regalias que os outros dirigentes, certamente.

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