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O palheiro, um raspanete e a marcação cerrada de duas deputadas. Vieira apertado no Parlamento

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Tiago Petinga / Lusa

O presidente do Conselho de Administração da Promovalor, Luís Filipe Vieira, fala perante a Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução

Luís Filipe Vieira foi à Comissão Parlamentar de inquérito aos grandes devedores do Novo Banco dizer que foram os Bancos que lhe pediram para ir para o Benfica, para salvar o clube. Esta foi uma das declarações do dirigente, que foi encostado às cordas por Cecília Meireles e Mariana Mortágua, e que levou um puxão de orelhas de Fernando Negrão.

Na audição perante os deputados, Vieira considerou ter “a noção exacta” de só estar a ser ouvido “por ser presidente do Benfica”. E esse foi um dos primeiros momentos em que a deputada Cecília Meireles, do CDS, o confrontou sem meias medidas.

“O senhor está aqui porque se olharmos para uma lista das perdas acumuladas [do Novo Banco] e que são pagas por todos os contribuintes, é o segundo maior devedor“, com perdas de “181 milhões de euros”, realçou a deputada.

Como é que é possível eu ser o segundo?! Quer dizer, é o Luís Filipe Vieira que manda o banco abaixo! Isso até me está a assustar”, desabafou Vieira na resposta.

“É a informação que tenho”, vincou Cecília Meireles com um certo sorriso de escárnio. “Como é que foi possível é aquilo que eu também estou a tentar apurar”, acrescentou ainda.

https://twitter.com/Luis_Almeida20_/status/1391786987661758470

Momento marcante da audição foi também aquele em que Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, confrontou Vieira com um parecer interno do Fundo de Resolução que notará que o presidente do Benfica tem apenas, como património, “uma casa com destino a palheiro” que foi dada como aval pessoal no âmbito dos empréstimos conseguidos no BES pelo grupo imobiliário do dirigente, a Promovalor.

“Não é verdade”, respondeu Vieira recusando-se a revelar o valor do seu património, mesmo com Mariana Mortágua a insistir para saber porque é que não tinha pago as suas dívidas.

O dirigente desportivo foi repetindo que as dívidas foram sempre reestruturas pelo Banco. “Mas há algum problema nisso?”, questionou ainda, notando que muitos outros empresários o fazem.

“Faça três esforços para responder”

A marcar a audiência está ainda o puxão de orelhas que o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Fernando Negrão, deu a Vieira depois de o presidente do Benfica ter dito, várias vezes, que responderia a algumas das perguntas depois, por escrito.

Até na defesa da sua imagem, não podemos continuar nesta ausência de perguntas e ‘vou responder por escrito’. Peço-lhe que faça o maior esforço possível para responder de forma clara e objectiva”, apontou o deputado do PSD.

Faça três esforços para responder“, atirou ainda.

Na introdução do deputado seguinte que teria a palavra na audiência, Negrão ainda lhe pediu para prosseguir “com a paciência que é necessária”.

E quando Vieira salientou que “há outros clubes que gostava de ver” na Comissão, Negrão fez questão de lhe relembrar que os deputados estavam ali a “tratar de assuntos que não dizem respeito ao Benfica”, nem ao futebol.

No momento em que Vieira se queixou de que há “tanta gente a passear-se e com iates e aviões, e não é questionada”, Negrão voltou a confrontá-lo. “Então, mas diga nomes“, desafiou.

“Quem assinou esse contrato devia ser enforcado”

Quanto às dívidas ao Novo Banco, Vieira referiu que é “cómodo publicamente” colarem-no às perdas da instituição e “às perdas dos contribuintes portugueses”, mas tudo isso não passa de uma tentativa de alterar a realidade”, apontou.

Não tive nenhum perdão de capital, nem nenhum perdão de juros. Nem eu, Luís Filipe Vieira, nem o grupo Promovalor”, realçou perante os deputados.

“É do conhecimento público que muitos empresários tiveram perdões de capital e de juros. Não foi o meu caso”, sublinhou ainda.

“É muito cómodo para muito boa gente colocar o presidente do Benfica como grande devedor da banca que não cumpriu”, designadamente “para os poderes políticos”, para “a supervisão bancária” e “para uma certa sociedade que precisa de encontrar culpados”, vincou também.

Cumpri com tudo o que me foi pedido”, acrescentou, assegurando que a restruturação das suas dívidas foi feita “com condições vantajosas para os bancos”.

Perante os deputados, Vieira também fez questão de manifestar o desagrado com o processo de venda do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star. “Quem assinou esse contrato devia ser enforcado”, apontou.

O acordo de venda do Novo Banco foi assinado por Mário Centeno, actual Governador do Banco de Portugal e ex-ministro das Finanças.

Promovalor criada com 35 milhões de capitais próprios

Recuando ao início do seu grupo empresarial, Vieira disse que criou a Inland/Promovalor com 35 milhões de euros de capitais próprios.

“Não foi dinheiro dos bancos, foi património pessoal e das minhas empresas, fruto do meu trabalho e do trabalho de todos aqueles que me apoiaram nos mais de 30 anos que já levava como empresário”, disse aos deputados.

Vieira também referiu que manteve o apoio das instituições financeiras não “por ser presidente do SL Benfica”, mas “porque os projectos que eram apresentados mereciam uma análise positiva por parte do sistema bancário”.

Segundo Vieira, em 2011, os activos do grupo Promovalor ultrapassavam os 754 milhões de euros. Entre 2006 e 2017, o grupo pagou mais de 161 milhões de euros em encargos financeiros ao Novo Banco, assegurou.

O dirigente desportivo também reforçou que “não houve nenhum facilitismo para com o Grupo Promovalor” e que não gastou nenhum dinheiro dos financiamentos obtidos “nem em iates, nem em aviões, nem em mordomias”.

Não desviei esse dinheiro para contas pessoais, seja aqui em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo”, disse, acrescentando que o dinheiro foi aplicado nos projectos imobiliários das suas empresas.

Com a queda do BES, em 2014, a Promovalor “procurou encontrar uma forma de cumprir com as suas obrigações, em particular com o Novo Banco”, garantiu Vieira.

Aí, as soluções encontradas foram aprovadas pelo Fundo de Resolução, apontou Vieira sobre o órgão que tem cobrido as perdas do banco, com fundos públicos.

Em 2017, a Promovalor “procedeu à entrega dos seus activos para pagamento integral das suas dívidas”, referiu Vieira. Essas dívidas foram adquiridas por um Fundo maioritariamente comparticipado pelo Novo Banco, graças a um financiamento do mesmo banco.

“Rei dos frangos” recomprou dívida de Vieira

Um dos negócios abordados na Comissão Parlamentar de Inquérito foi a compra da dívida da Imosteps, outra empresa de Vieira.

O Novo Banco vendeu essa dívida, em 2019, ao fundo-abutre Davidson Kempner por 10% do seu valor. Mas a dívida acabaria por ser adquirida pelo empresário José António dos Santos, conhecido como “Rei dos Frangos” e sócio de Vieira em negócios imobiliários, além de ser o maior accionista individual da Benfica SAD.

“A dívida que o Novo Banco vendeu por quatro milhões é comprada ao Nata II [a carteira de crédito adquirida pelo fundo-abutre] pelo seu sócio por oito milhões“, apontou Mariana Mortágua na Comissão.

Portanto, o sócio de Vieira “comprou de volta a sua dívida ao Nata II por um valor superior ao qual o Nata II tinha comprado”, vincou a deputada, realçando que o empresário se mostrou “milagrosamente disponível a oferecer por aquela dívida aquilo que nenhum outro sócio estava disposto”.

“Ele pagou. Acho que fez um óptimo negócio“, destacou Vieira.

“Relação especial” com o BES e Salgado

O presidente do Benfica comentou também a sua “relação especial” com o Grupo BES, considerando que era “completamente transparente” e que “já vinha do passado”, “mas curiosamente não era com ele [Ricardo Salgado] que lidava”.

“Houve uma aproximação mais de perto quando foi o financiamento do Estádio da Luz“, apontou.

Questionado se se tinha reunido com o antigo líder do BES, Ricardo Salgado, “para discutir os seus negócios particulares e o financiamento às suas empresas”, o empresário admitiu que sim.

“Se me perguntar se eu, por vezes, num jantar ou num almoço em que fosse convidado para estar, se falava como é que estavam os negócios, como é que iam ou não iam, logicamente que falava com ele“, reconheceu.

“Mas isso não tem nada a ver com a parte da empresa e como é que ela funcionava”, referiu o líder dos encarnados.

“Ida para o Benfica foi um pedido dos Bancos”

A abrir a sua audiência no Parlamento, Vieira leu uma comunicação, onde referiu que “já era um empresário de renome e relevância na área do imobiliário em Portugal” antes de ter chegado ao Benfica.

“A minha vida não foi criada com o BES ou com a minha vinda para o SL Benfica a partir de 2001”, apontou, defendendo que já era “reconhecido e prestigiado” quando se juntou ao clube.

Vieira apresentou-se aos deputados como tendo “71 anos” e sendo “casado, pai de dois filhos e avô de cinco netos”.

“Comecei a trabalhar com 14 anos como paquete, serviço externo, e com muito trabalho consegui iniciar uma actividade por conta própria anos mais tarde”, disse na Assembleia da República, afirmando que cresceu como empresário “ao longo de mais de 42 anos”, primeiro “na área dos pneus e mais tarde no imobiliário”.

“Digo-vos isso para que seja esclarecido que quem se apresenta perante vós é uma pessoa com uma história de vida pessoal, familiar e empresarial“, referiu.

Vieira também recordou o seu percurso no Benfica até se ter tornado presidente do clube, em 2003.

“Nessa altura, os fornecedores e os bancos – todos os bancos com quem trabalhava – conheciam-me e apoiavam-me“, disse o empresário, referindo-se, em particular, ao BES e ao BCP.

“A minha ida para o SL Benfica não é apenas uma vontade e um orgulho da minha parte. Foi também um pedido de várias instituições financeiras” que estavam “interessadas na viabilização” do clube, disse o presidente da Luz no Parlamento.

“Interpretei isso como uma prova de confiança nas minhas capacidades e na minha palavra, tendo em conta a situação de extrema fragilidade que o SL Benfica atravessava no ano 2000″, prosseguiu o presidente dos encarnados.

O dirigente desportivo recordou que o clube estava “numa situação financeira muito delicada, como nunca antes tinha vivido na sua história”, classificando de “tristes acontecimentos” as “dificuldades” e “fragilidades” daquela altura.

“Os desafios que encontrei no SL Benfica obrigaram-me a uma dedicação quase exclusiva, incompatível com a gestão das minhas empresas”, disse, apontando que foi “forçado a reduzir gradualmente” o seu envolvimento na vida das mesmas e que, finalmente, optou por “profissionalizar a gestão” através da criação do grupo Inland/Promovalor.

ZAP // Lusa

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18 Comments

  1. Afinal este é mais um Que Manda Nisto Tudo. Agora percebo porque tantos ministros, secretários de estado, deputados, etc. andavam a bajular o homem e este quase que os ignorava. Veja-se Marques Mendes.

  2. “encostado às cordas por Cecília Meireles e Mariana Mortágua, e que levou um puxão de orelhas de Fernando Negrão.” Meu Deus deve ter ficado traumatizado nunca mais vai ousar desviar um cêntimo. Agora percebo porque os nossos deputados descredibilizam a policia, afinal querem ocupar o lugar deles e fechar os olhos em determinados assuntos e fazer um Big Brother noutros onde sabem que haverá muita audiência, enfim Portugal no seu melhor.

  3. Este é um cara sem vergonha tal como o 44 por isso passa por cima de toda a folha para mais sob a capa do seu clube!

  4. O FV deu um grande baile aos deputados, até o termo de enforcado usou na chamada casa da Democracia, sem qualquer reparo, talvez tenha superado o Berardo, só que neste caso era o Presidente do Benfica e toda a gente teve respeitinho, o que vale dizer que aos deputados é pouco importante os milhões de euros, o importante é os votos que o FV pode dar ou tirar aos seus Partidos, é os nomes que representa em votos, daí a diferença entre FV e o Sócrates ou Berardo, ficou assim evidente que o Benfica é uma Nação, não houve cá BE nem PCP nem nada, como se usa dizer fortes com os fracos, fracos com os fortes.

  5. Luís Filipe Vieira foi à Comissão Parlamentar de inquérito mostrar o que já sabemos, que é um boçal e que é triste verificar que uma pessoa destas esteja à frente de uma Instituição de tamanha envergadura. Mas tem a petulância de dizer que a “Ida para o Benfica foi um pedido dos Bancos”. Só quem viu a triste figura do homem a ser apertado e nem deu conta, o homem não sabia interpretar as perguntas esteve constantemente a pedir ajuda ao advogado e quando tentava falar sozinho, era o advogado que o chamava atenção. Por momentos, tive pena dele.

  6. Só é pena esta comissão parlamentar, tão preocupada com os grandes devedores do novo banco, não esteja a investigar o porquê do perdão de várias dezenas de milhões de euros por parte desta entidade bancária ao sporting.

  7. este é o exemplo do empresário portugues que vive à custa do erário público, que pede dinheiro sem contragarantias sólidas e que quando a coisa corre mal há um perdão, um esquecimento, um desleixo, um deixar andar por parte de quem devia superintender estas coisas e colocar esta malta em sentido. seguramente deve haver centenas destes casos e o povo caladinho é que com os seus impostos paga estas vigarices.

    • É um exemplo para todos. Um homem que empreendeu nos pneus e que dos pneus fez um império. O verdadeiro self tire made man!

  8. uma comissão de inquérito que não passa de entretenimento televisivo e serve apenas para ocupar o muito tempo livre que tem. Este tipo o berardo e outros da mesma laia gozam com estes tipos a dita comichão ( isso é o que menos importa), mas gozam acima de tudo com os contribuintes que andam a pagar para esta gentalha levar vida de luxo. Vergonha!!!

  9. É com esta classe de deputados que Portugal nunca mais sai do buraco. Cambada de ignorantes.
    Então, sobre o negócio da Imosteps não se debruçaram para averiguar a razão porque o NB não vendeu directamente ao Rei dos Frangos e foi VENDER AO FUNDO ABUTRE por 4 milhões o qual vai vender ao Rei dos Frangos por 8 milhões, ou seja os Contribuintes entram com as perdas de 4 milhões. Pergunta: qUE CULPA TEM O lvf.

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