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LMM: Costa parte derrotado, PC matou a geringonça, batota no CDS

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António Cotrim / Lusa

O conselheiro de Estado e antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes

No seu habitual espaço de comentário de domingo à noite na SIC, Luís Marques Mendes considera que evitar a atual crise “era impossível” e que o PCP, com a cumplicidade do BE, quis, “na prática, aprovar uma Moção de Censura”.

Segundo Luís Marques Mendes, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “tentou evitar a crise, mas não conseguiu — como ninguém conseguiria. Tal como aconteceu com Mário Soares, em 1987″, quando o PS e o PRD apresentaram a moção de censura que fez cair o primeiro governo de Cavaco Silva e lhe abriu as portas à primeira maioria absoluta em Portugal.

Evitar a crise era impossível“, considerou este domingo o comentador no seu habitual espaço na SIC Notícias, no qual sustentou que “o PCP, com a cumplicidade do BE”, quis, na prática, aprovar uma Moção de Censura.

O objectivo final não era chumbar o OE. Era derrubar o Governo. A prova é que as grandes divergências são em matérias que nada têm ver com o OE. “Quando assim é, não há nada a fazer. É a vontade dos partidos”, conclui Marques Mendes.

O ex-ministro diz que “há seis anos o PCP deu abertura para a criação da geringonça, e seis anos depois, matou-a. O Bloco de Esquerda foi cúmplice activo desta morte política. Mas o autor moral e material foi o PCP” — que, considera Marques Mendes, quer voltar à rua e à sua natureza de partido de protesto.

Mas, diz Marques Mendes, “é impossível o Bloco e o PCP não serem penalizados. É uma verdade de La Palisse. São os grandes responsáveis por uma crise que é má para o país, acho que é má para eles próprios e má para as pessoas mais pobres, mais vulneráveis da sociedade”.

“Acho que deviam ter pensado nisso. Falam muito dos pobres, dos vulneráveis, mas esqueceram-se deles, no momento da verdade“, conclui Marques Mendes. “Acrescentar uma crise política às crises todas que temos — económica, social e energética — é um disparate“.

“Como é que eles vão explicar aos pensionistas, aos reformados, os mais pobres, que derrubaram um orçamento que era talvez o mais à esquerda dos últimos anos? Como é que vão explicar aos mais pobres, que iam ter um aumento extraordinário de pensões em janeiro e que agora já não vão ter porque eles chumbaram o orçamento. Como é que eles vão explicar isto?”, questiona o comentador.

Só se resolve com eleições

De acordo com Marques Mendes, uma crise política como a agora aberta “só se resolve com eleições. E o primeiro a dizer isto não foi o presidente da República, foi o primeiro-ministro”.

Em agosto do ano passado, em entrevista ao Expresso, recorda o comentador, António Costa afirmava que “se não houver acordo, é simples: não há Orçamento e há uma crise política. Aí estamos a discutir qual é a data em que o Presidente terá de fazer o inevitável“. Ou seja, eleições, conclui o antigo líder do PSD.

Luís Marques Mendes não concorda com a data sugerida pelos partidos para as eleições antecipadas, e vê vários problemas na data apontada, 16 de janeiro.

“Ao propor essa data, os partidos mostram que têm medo de Paulo Rangel. Ele ainda não está eleito, ninguém sabe se será eleito, mas parece que já estão com medo dele. Se a data for 16 de janeiro, é para matar Paulo Rangel“, sublinha.

Se Rangel vencer as eleições no PSD, “só terá dois dias para fazer as listas de deputados, salienta Marques Mendes, “tem só dois dias para fazer as listas, para as aprovar e levar ao tribunal. Isto é uma impossibilidade prática”.

“Ele não está eleito, ninguém sabe se vai ser eleito, mas meio mundo já está com medo dele. Até o Chega”, diz o comentador.

O mais grave é o PS. Há 20 anos o PS teve um problema semelhante, com a saída de Guterres e a eleição de Ferro Rodrigues. Jorge Sampaio deu tempo ao PS para resolver esse problema, e ninguém o acusou de favorecer o PS. É uma questão de cultura democrática, não há democracia sem partidos“, aponta o comentador.

PS em situação difícil. Tudo pode acontecer

Marques Mendes acredita que o PS é o mais provável vencedor das próximas legislativas, mas considera que “tudo pode acontecer”. Já há sinais de preocupação no Partido Socialista, “preocupações muito legítimas”, diz.

O Partido Socialista “tentou evitar a crise, fez-se de vítima, pode ir buscar votos ao PCP e ao BE. Mas, ao chegarmos a Janeiro, com os debates, entrevistas e campanha, acho que tudo pode acontecer”, diz o comentador.

O PS pode ganhar mas também pode perder. É tudo muito incerto. E pode vir ao de cima, em grande medida, o fantasma da Câmara de Lisboa. Ninguém pensou na derrota de Medina, e ela aconteceu”.

Segundo o Conselheiro de Estado, a situação do PS nestas eleições é muito difícil — primeiro, porque “uma grande parte do país está cansada do Governo. Há um grande cansaço do estilo, da arrogância, de vários Ministros, da degradação em muitos sectores, da falta de resultados noutros”.

É normal. São seis anos de governo. A vontade de mudança é grande — como aconteceu no fim do cavaquismo e no fim do guterrismo”, recorda.

Em segundo lugar, diz Marques Mendes, “António Costa parte um pouco derrotado para estas eleições. Ele próprio o confessou no debate do orçamento. Ele defendeu a geringonça, apostou numa solução e a solução falhou. Isto tem consequências”.

Além disso, acrescenta, António Costa pode vir a apostar numa maioria absoluta, mas “uma maioria absoluta é muito difícil. O povo de esquerda não gosta de maiorias absolutas. Nem os eleitores socialistas, e muito menos os eleitores do Bloco e do PCP”, que “mais depressa se abstêm do que dão uma maioria absoluta ao PS”.

Finalmente, considera o ex-governante, enquanto que há dois anos tinha uma solução governativa para apresentar, agora “António Costa não tem uma solução governativa clara. Uma nova geringonça é impossível, um bloco central também já foi recusado pelo PSD”.

“Então com quem é que o PS vai governar? Quem é que lhe aprova os Orçamento de Estado? Se as pessoas começarem a perceber que um voto no PS prolonga o impasse que foi criado, a vida do primeiro-ministro fica muito difícil, conclui Marques Mendes.

Um espetáculo deprimente. E fazer batota

A crise no CDS foi também abordada por Marques Mendes no seu comentário. Para o comentador, o CDS está numa crise irreversível.  “Há muito tempo que o CDS está mal. Este fim de semana pode ter sido a machadada final no partido”, o que é “uma pena, porque o CDS é um dos quatro grandes partidos fundadores da democracia” em Portugal”.

Para Marques Mendes, o Conselho Nacional do CDS, durante o qual Adolfo Mesquita Nunes, António Pires de Lima e várias outras figuras marcantes se afastaram do partido, “foi um espetáculo deprimente, uma machadada enorme no CDS“, e o que Francisco Rodrigues dos Santos fez foi “batota”.

“Há um mês, para se aproveitar de algumas vitórias autárquicas, quis antecipar eleições internas num espaço curto, o que é normal. Então agora passa para o extremo oposto, agora que se vê aflito resolve adiar as eleições. Isto não é apenas mudar de opinião, isto é batota, é querer ganhar na secretaria, isto é feio, é um bocadinho degradante”, considera Marques Mendes.

Isto faz-me um bocado de impressão, uma pessoa agarrar-se ao lugar, não ter capacidade de despredimento dos lugares, é uma coisa que me faz uma enorme confusão”, diz Marques Mendes. “Há momentos na vida em que é preferível perder com honra do que ganhar sem glória, na secretaria”.

“Vários dos quadros importantes que saíram do CDS vão acabar por se juntar ou ao PSD ou à Iniciativa Liberal. São pessoas com qualidade e políticos com talento. Muitos deles não vão deixar a vida política. Vão apenas mudar de partido”, diz Marques Mendes.

Questiúnculas à parte, bipolarização beneficia PSD

Para o ex-líder do PSD, os grandes beneficiados com a “guerra civil” no CDS vão ser o PSD e a Iniciativa Liberal. Até ao momento, diz, o PSD ainda não conseguiu capitalizar a crise política, mas pode vir a ter uma vantagem: a vantagem da bipolarização. Estas eleições vão ser muito bipolarizadas”.

“O Partido Socialista pode beneficiar com isso, com o voto útil da esquerda. Mas o PSD pode também beneficiar, e muito”, diz.

Segundo Marques Mendes, “o PSD pode crescer ao centro, com o descontentamento com o Governo, e  vai ter muito voto útil à direita”, de eleitores que verão nestas legislativas a grande oportunidade de derrotar António Costa — designadamente de votos que em circunstâncias normais poderiam ir para o Chega. “Afinal, o primeiro-ministro só pode ser o líder do PS ou o líder do PSD”, considera.

À direita, as grandes vítimas da bipolarização nas legislativas vão ser o CDS e o Chega, considera Marques Mendes. “O CDS porque está numa crise irreversível, e o Chega porque provavelmente vai crescer muito menos do que se imagina”.

Se o líder do PSD for Paulo Rangel, diz o comentador, “a vida do Chega ainda será mais difícil. , porque Rangel é mais unificador do eleitorado de centro-direita do que Rui Rio. “André Ventura já percebeu isso, e mostra medo de Rangel, ainda ontem se viu à saída de Belém, Ventura preocupado, falou logo de Paulo Rangel”.

O PSD não pode é perder tempo com questiúnculas internas, diz Marques Mendes. “Rui Rio e Paulo Rangel tinham ambos vantagem em transformar agora estas eleições internas numas primárias das eleições legislativas, deixarem-se, um e outro, de questiúnculas internas e aproveitar para falar do país e apresentarem propostas alternativas”.

Armando Batista, ZAP //

4 Comments

  1. Se Marques Mendes não pertencesse à ala Cavaquista/Passista/Santanista do PSD neoliberal, eu até me admirava deste discurso.

    Convenhamos: Todos os partidos querem as eleições a 5 de Janeiro. Vai-se agora fazer a vontade a um gajo que sonha que vai ser o novo líder do PSD mas que acaba de sofrer uma derrota retumbante em Bruxelas. Quem está com medo de Rui Rio sei eu quem é, ò anão intelectual.

  2. Este “comentador”/advogado é mesmo do pior… mesmo usando e abusando da sua posição de Conselheiro de Estado, não diz nada de jeito…
    Há dias garantia que o Orçamento seria aprovado; agora diz que era impossível evitar a atual crise!!
    Que artista!…

    Bem dizia o Belmiro que nem para porteiro da SONAE o queria…

  3. Mas se era assim tão mau para o país, porque o PSD, IL, e CDS não votaram a favor do orçamento? Só o BE e PCP é que são culpados? Porquê?

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