O escritor Neill Lochery afirma no seu novo livro, intitulado “Lisboa”, que a importância da capital portuguesa “continua a ser um dos mistérios mais bem guardados da história do século XX”.
Neill Lochery, nascido na Escócia em 1965, especializou-se em História Moderna da Europa e Mediterrâneo, tendo desempenhado funções no British Council em Portugal nos anos 80.
“Lisboa. A cidade vista de fora. 1933-1974” narra a história dos estrangeiros ilustres e anónimos que passaram pela capital ou nela se estabeleceram, desde os anónimos refugiados da II Guerra Mundial, que procuravam fugir às tropas nazis, alguns com o visto do cônsul Aristides de Sousa Mendes, a outros mais conhecidos, nomeadamente membros da realeza, como o rei Carol da Roménia.
No período da II Guerra Mundial (1939-45), Lisboa foi uma cidade “relevante”, por ser a capital europeia mais a ocidente e de um país neutro, e “uma espécie de transposição para vida real do filme ‘Casablanca’“, escreve o autor.
“No final da guerra, a cidade viu-se amplamente esvaziada dos muitos estrangeiros que nela viviam, todavia não perdeu a sua importância estratégica”, e “o início da Guerra Fria confrontou Lisboa com um novo conjunto de desafios e oportunidades”.
Neste contexto não é alheia a importância estratégica da base açoriana das Lajes, que se tornou “vital para o empenho de Washington em estabelecer uma forte guarnição militar na Alemanha”.
Neste período, Lisboa é visitada por figuras como o presidente norte-americano Dwight Eisenhower, que “desfilou em apoteose pelas ruas”, Jacqueline Kennedy, mulher do Presidente norte-americano John Kennedy, que “adotou uma posição particularmente dura com Portugal”, nos anos de ditadura, com a eclosão da guerra colonial, os Príncipes do Mónaco, Grace e Rainier, Richard Nixon, que se tornaria presidente dos EUA em 1969, das atrizes Brigitte Bardot, Claudia Cardinale, Nadia Gray, Micheline Presler, e os duques de Windsor, que tinham sido alvo, quando estiveram em Cascais anos antes, de uma “conspiração alemã” para os raptar.
Lisboa, no período da guerra, é descrita pelo autor como uma “cidade internacional onde os Aliados e as potências do Eixo operavam às claras”, “um período de diplomacia de risco” onde, por duas vezes, se jogou a possibilidade de pôr fim ao conflito.
Uma das vezes por iniciativa italiana, “num amplo jardim privado cercado por muros altos, situado no bairro da Lapa”, e a outra, entre dois dirigentes dos serviços secretos inglês e alemão, no centro de Lisboa.
O período da guerra e o que se lhe seguiu de imediato – a década de 1950 – Lisboa, que o autor qualifica como “cidade luz”, continuou a ser visitada por personagens ilustres, quer a título particular, como a dos atores Laurence Olivier e Vivien Leigh, quer oficial, como a da Rainha Isabel II, em 1957, que “atraiu multidões à capital portuguesa”.
Neill Lochery dá conta de que Lisboa foi o cenário natural da “primeira película norte-americana filmada em formato panorâmico”. O filme, “Lisbon”, de Ray Milland, foi protagonizado por Maureen O’Hara e Claude Rains, tendo sido estreado em 1956.
Considerando que o centro de Lisboa “pouco se alterou entre 1933 e 1974” – datas que correspondem ao início da ditadura do Estado Novo, com a proclamação da Constituição corporativista, e a revolução de Abril, que lhe pôs fim, a obra conta a história da cidade “através do testemunho e do olhar daqueles que nela viveram ou a visitaram”.
Uma história “contraditória de um país cada vez mais isolado no plano diplomático, mas ao mesmo tempo mais procurado e marcado pela chega de estrangeiros abastados a Lisboa”.
ZAP/Lusa