O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Fernando Faria de Oliveira, manifestou-se favorável à nacionalização do Novo Banco (NB), embora considere difícil que possa acontecer.
“Tenho muitas dúvidas de que possa ser nacionalizado no quadro vigente. Mesmo sendo banco de transição, para ser nacionalizado tinha de ter uma resolução. Isso traz problemas. A não ser que haja uma negociação política e que, por razões de interesse nacional, seja possível um waiver” (regime de exceção) em relação à obrigação de venda do Novo Banco, explicou, em entrevista ao Jornal de Negócios publicado esta segunda-feira.
O líder dos bancários afirma não ter nada a objetar caso a nacionalização fosse feita com o Estado a assumir os custos do empréstimo para o NB, mas vê “com muita dificuldade” que possa acontecer.
Faria de Oliveira manifestou a necessidade de fortalecimento do sistema financeiro e, para que tal aconteça, será necessário encontrar uma solução para o Novo Banco e, caso este seja comprado, quem o faça terá de dar “todas as garantias reputacionais, de solidez e capacidade de gestão”.
“Que haja uma minimização de custos para o sistema e que se evite por todos os modos uma subsidiação pelos bancos concorrentes do Novo Banco”, afirmou.
Faria de Oliveira lembrou que se devem tirar conclusões da saída de bancos estrangeiros de Portugal nos últimos anos, notando que tem a ver com a “necessidade de assegurar um sistema financeiro português forte” e a necessidade de um pensamento estratégico sobre o futuro da banca, sob a égide do Governo e do Banco de Portugal.
Na entrevista ao Negócios, Faria de Oliveira afirma que a recuperação da rentabilidade dos bancos exige “trabalho interno”, bem como travar as medidas do Estado, como as propostas sobre taxas negativas nos créditos, que considera serem de “extrema defesa do consumidor, com caráter populista”.
“São propostas [do PCP e BE] que se inserem muito numa óptica extremada de defesa do consumidor, com caráter populista. Não tomam em consideração os efeitos que podem provocar, não apenas no sistema bancário, mas no próprio interesse da economia e dos cidadãos”, reitera.
Faria de Oliveira lembrou que a situação da banca “é um legado de crise soberana, de um ciclo económico ímpar muito prolongado” e do facto de terem ocorrido alguns casos no setor português que puseram em causa a sua reputação.
O líder dos bancários frisa que o nível de rentabilidade dos bancos “é baixíssimo”, em alguns casos negativo, sendo “muito difícil” atrair capital, considerando que, para que a situação seja resolvida, é necessário uma “atuação interna dos bancos”, além de “coerência das medidas a nível do Estado”, que sejam compatíveis com o “fortalecimento da solidez da banca”.
“Não faz sentido nenhum pôr em prática medidas que acabam por prejudicar seriamente, por agravamento de custos e por restrição ao crescimento das receitas, a capacidade de os bancos recuperarem rentabilidade”, explica.
Faria de Oliveira lembra também que o sistema bancário é “uma atividade económica” e não “um serviço público”, considerando que para a existência de prestação de serviços gratuitos, os bancos têm de ser “compensados como noutras atividades em que o Estado paga pela prestação de serviços que não realiza”.
O mesmo responsável considera ainda, na entrevista, que o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, tem condições para concluir o mandato, considerando que tudo depende da capacidade de serem criarem “condições de funcionamento transparente e colaborativo” entre o Governo e aquele responsável.
ZAP / Lusa