A justiça francesa acusou esta sexta-feira a ex-ministra da Saúde Agnès Buzyn de “colocar em risco a vida de outras pessoas” durante sua gestão da pandemia da covid-19, indicou o procurador-geral do Tribunal de Justiça da República (CJR).
A ex-ministra da Saúde Agnès Buzyn torna-se a primeira autoridade a ser acusada no âmbito do inquérito iniciado em julho de 2020 pelo Tribunal de Justiça da República da França, competente para apurar crimes cometidos por membros do Governo no exercício das suas funções.
Atualmente funcionária da Organização Mundial da Saúde (OMS), Buzyn terá inicialmente o estatuto de mais favorável de “testemunha assistente”, antes de uma eventual acusação, para poder beneficiar de “abstenção voluntária de contestar uma reclamação”, segundo a mesma fonte.
“Não vou deixá-los sujar a ação do governo quando temos feito tanto para preparar nosso país para uma crise de saúde global que ainda dura”, disse Buzyn ao chegar ao tribunal pela manhã com seu advogado, Eric Dezeuze.
O CJR, que registou até agora a entrada de cerca de 14.500 ações judiciais, abriu em julho de 2020 uma investigação sobre a gestão da crise por Buzyn, pelo seu sucessor, Olivier Véran, e pelo ex-primeiro-ministro Edouard Philippe.
Médica de profissão, Agnès Buzyn era responsável pela pasta da Saúde quando, em dezembro de 2019, começaram a aparecer as primeiras notícias sobre um vírus detectado na cidade chinesa de Wuhan.
No entanto, em meados de fevereiro de 2020, Buzyn deixou o cargo para ser a candidata a presidente da Câmara de Paris, após a renúncia de Benjamin Griveaux devido à divulgação de um vídeo com conteúdo sexual.
Em 24 de janeiro de 2020, Buzyn assegurava que “os riscos de disseminação do vírus eram baixos”, mas após a sua derrota nas eleições municipais, a ex-ministra admitiu os seus receios, quando era ainda ministra, acerca da epidemia que se aproximava.
“Quando deixei o ministério, chorei porque sabia que a onda do tsunami estava à nossa frente”, disse ao jornal ‘Le Monde’ a 17 de março, o primeiro dia de confinamento na França.
As suas declarações, confirmadas em junho de 2020 quando disse aos deputados franceses que tinha alertado a presidência francesa e o primeiro-ministro do potencial “perigo”, desencadearam uma onda de indignação.
Desde o início da epidemia, a França registou mais de 6,8 milhões de infecções confirmadas e a morte de 115.362 pessoas de covid-19, de acordo com dados das autoridades de saúde na quinta-feira.
ZAP // AFP