Juan Ignacio Roncoroni / EPA

Julieta Makintach , a “Juíza de Deus”
O tribunal argentino declarou nesta quinta-feira que iria proceder à anulação do julgamento de sete profissionais de saúde acusados de negligência na morte do ídolo do futebol Diego Maradona.
A decisão foi tomada depois de uma das três magistradas responsáveis pelo julgamento, Julieta Makintach, se ter demitido devido às críticas de que foi alvo pela sua participação numa série documental sobre o caso, com o nome “Justiça Divina”.
O caso, que assumiu contornos de escândalo nacional, obrigou à demissão da juíza. “Não tenho outra opção”, disse Makintach.
Segundo o jornal argentino Pagina 12, a juíza foi suspensa por 90 dias, e o julgamento volta agora ao início, o que vai obrigar todas as testemunhas a prestar de novo declarações.
As gravações para a série tiveram início no rescaldo da morte de Maradona, numa altura em que começavam a surgir notícias de suspeitas de negligência médica e de maus tratos ao jogador argentino por parte dos profissionais de saúde que o acompanhavam
Na terça-feira, o procurador de Buenos Aires apresentou ao tribunal o trailer do documentário, de um minuto e meio, que intercala imagens de Maradona a marcar golos icónicos com imagens de Makintach a passear pelos corredores do tribunal em saltos altos e saia curta, e pediu que a juíza fosse afastada do caso.
O promotor pediu aos juízes que investigassem as alegações de que Makintach, a que a imprensa argentina chama “Juíza de Deus”, tinha violado a ética judicial ao permitir que uma equipa de filmagem entrasse no tribunal para filmá-la enquanto supervisionava audiências a portas fechadas para a série.
“A juíza Makintach não actuou de forma imparcial. A sua conduta causou danos tanto aos queixosos como à defesa”, afirmou o juiz Maximiliano Savarino ao declarar a anulação do julgamento. “A única pessoa responsável é a juíza afastada”.
Muerte de Diego Maradona: filtraron el tráiler del documental que estaba filmando la jueza Makintach pic.twitter.com/i0Xyb2pfvL
— Agencia El Vigía (@AgenciaElVigia) May 27, 2025
No tribunal, duas das filhas do astro do futebol, Gianinna e Dalma Maradona, começaram a chorar. A decisão coloca em causa o calendário do julgamento, que inicialmente se esperava que durasse até julho.
Segundo a CBS News, a decisão judicial implica que um tribunal superior selecione três novos juízes, através de um sorteio, dentro de um período de tempo razoável, sem especificar em concreto quando seria.
Os procuradores acusam a equipa médica de Maradona de não ter prestado cuidados adequados à estrela do futebol nas semanas que antecederam a sua morte súbita em 25 de novembro de 2020.
Maradona morreu aos 60 anos de paragem cardíaca enquanto se recuperava de uma cirurgia para um coágulo de sangue no cérebro em uma casa alugada nos arredores de Buenos Aires.
Especialistas alegaram que Maradona agonizou durante 12 horas antes da sua morte. Em lágrimas, as suas irmãs e filhas acusaram os médicos de o terem deixado sozinho em estado miserável quando deveria ter sido hospitalizado.
Os arguidos, que negam todas as acusações, foram acusados de homicídio culposo, um crime semelhante ao homicídio involuntário na medida em que implica que os arguidos estavam cientes do risco causado pela sua conduta imprudente e ignorante.
Entre eles estão Leopoldo Luque, o principal médico de Maradona na altura da sua morte, bem como o seu psicólogo, psiquiatra, coordenador médico e enfermeiros.