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Jorge Sampaio. Um homem bom, pai extraordinário, que nunca quis ser herói, mas foi

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Miguel A. Lopes / Lusa

Os filhos do antigo Presidente da República Jorge Sampaio, Vera e André, recordaram hoje o seu pai como “um homem bom”, que sabia que na vida e na política “nada se pode fazer sozinho”.

Coube à filha mais velha, Vera Sampaio, o primeiro discurso na cerimónia oficial no claustro do Mosteiro dos Jerónimos, numa intervenção em que quis recordar o pai com a “autenticidade e proximidade” com que falava com os filhos.

O nosso pai era um homem bom, atento e disponível, para quem as pessoas contavam acima de tudo, não as pessoas em geral, mas cada pessoa com nome e rosto”, destacou.

Jorge Sampaio, sublinhou a filha, “não gostava de arrogância” e “cultivava a amizade e a camaradagem porque sabia que, na vida e na política, nada se pode fazer sozinho”.

O filho do ex-presidente, André Sampaio, visivelmente emocionado, recordou o pai como um homem “popular sem ser populista, sempre próximo sem nunca banalizar a proximidade, que foi estadista e simultaneamente cidadão comum, que foi amado sem gostar de ser venerado”.

“Foi lutador e pacificador, sabia ouvir e sabia decidir, valorizava a convergência, mas também os momentos de divergência, foi um homem justo, corajoso, mas sem medo de chorar, foi um homem bom, um pai extraordinário”, afirmou.

O filho do antigo chefe de Estado deixou um agradecimento especial ao atual e antigos Presidentes da República, ao presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro, bem como à família do antigo chefe de Estado Mário Soares, falecido em 2017. “Foi notória a comoção quando se expressaram, mas também quando nos abraçaram”, realçaram.

Em espanhol, fez uma saudação especial ao Rei de Espanha, Filipe VI, presente nas cerimónias, dizendo que “o pai gostava muito da sua família”, agradecendo ainda as manifestações de amizade e afeto de Portugal a Timor, do Brasil, a São Tomé, da Guiné a Moçambique.

Cerca de dez minutos antes do arranque da cerimónia – que começou antes da hora prevista, as 11:00 – o momento mais solene aconteceu com a chegada da urna ao centro do claustro do Mosteiro dos Jerónimos, com todos os convidados em pé e em silêncio.

“Nunca quis ser herói, mas foi”

O atual presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, prestou hoje uma última homenagem ao antigo Presidente da República Jorge Sampaio, afirmando que “amou Portugal pela fragilidade” e “não pela força”, e que “nunca que quis ser herói, mas foi“.

O chefe de Estado falava no claustro do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, no final de uma sessão evocativa de homenagem a Jorge Sampaio, que morreu na sexta-feira, aos 81 anos.

Amou Portugal pela fragilidade e tantas vezes na fragilidade. Mais do que isso, fez dessa fragilidade, sua, nossa, de todos nós, força: sua, nossa, de todos nós”, afirmou o chefe de Estado.

“Nunca quis ser herói, mais foi, em tantos e tantos dos seus lances de vida, heroico. Daquele heroísmo discreto, mais lírico do que épico, mais doce do que impulsivo. Firme, mas doce. E também por isso o recordamos com doçura. E lhe agradecemos o amor que nunca negou a Portugal, à sua maneira de amar Portugal”, acrescentou.

Um homem chora quando precisa mesmo de chorar

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou hoje que a República deve louvar-se por ter sido presidida por um cidadão como Jorge Sampaio, um exemplo de rigor ético, honradez e vigilante defensor da democracia, nunca cedendo à demagogia e ao populismo.

O líder do executivo caracterizou Jorge Sampaio como “um exemplo de rigor ético, de sobriedade e honradez pessoal, de simpatia e empatia humana, de proximidade às pessoas, sobretudo às mais desfavorecidas, excluídas ou esquecidas”.

Jorge Sampaio “fazia isso com a autenticidade que punha em tudo e com a seriedade que nunca cedia à demagogia ou ao populismo. Nestes tempos de tantas tentações antidemocráticas, este património é fundamental”, defendeu António Costa.

O primeiro-ministro lembrou ainda as palavras que Jorge Sampaio proferiu no discurso que proferiu na Assembleia da República, em março de 1996, quando foi empossado Presidente da República: “Não há portugueses dispensáveis”.

Na perspetiva de António Costa, esta mensagem de “valorização das pessoas, de coesão nacional e de inclusão social provinha, nele, de uma convicção profundíssima”.

“E pode, neste dia, simbolizar a sua atitude humana, a sua luta democrática, a sua ação política, o seu idealismo moral – e continua também a ser uma grande mensagem para os dias do presente e para os tempos do futuro. Não há portugueses dispensáveis e, por isso, não podemos dispensar Jorge Sampaio”, frisou o primeiro-ministro.

Jorge Sampaio, na perspetiva do atual líder dos socialistas, caracterizou-se também como “um político que adorava o debate intelectual, aberto a novas ideias e às mudanças dos tempos, culto e informado do que se passava no mundo”.

“Foi um político ao mesmo tempo firme e flexível, que nunca cedeu nos valores essenciais, mas soube construir pacientemente apoios, promover acordos, consensos. O respeito que conquistou em todos os quadrantes políticos e em todos os setores da sociedade são o melhor penhor da sua excecional qualidade política e humana”, realçou.

“Sampaio era ao mesmo tempo prudente, arrojado e astuto, resiliente e perseverante. Um homem generoso e inspirador. Com a coragem de deixar a emotividade exprimir-se em lágrimas, porque um homem chora quando precisa mesmo de chorar”, concluiu.

Cortejo fúnebre calorosamente recebido pela população

O cortejo fúnebre do antigo Presidente da República Jorge Sampaio chegou ao Mosteiro dos Jerónimos às 10:35 e foi aplaudido por centenas de pessoas, que permanecem no exterior para assistir ao funeral através de um ecrã gigante.

O primeiro-ministro, António Costa, chegou ao Mosteiro dos Jerónimos pelas 10:19, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, dois minutos depois, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, cerca das 10:24.

O cortejo fúnebre de Jorge Sampaio, que tinha saído cerca das 10:00 do antigo picadeiro real, aproximou-se do Mosteiro dos Jerónimos, onde decorreu uma cerimónia evocativa, e foi aplaudido por centenas de pessoas.

À chegada ao mosteiro, a urna foi retirada por cadetes dos três ramos das Forças Armadas e recebeu novamente aplausos dos populares, desta vez mais longo e intenso.

O antigo chefe de Estado recebeu honras de Estado pelo batalhão com banda e fanfarra da GNR. As três insígnias foram transportadas por três oficiais das Forças Armadas.

A mulher de Jorge Sampaio, Maria José Ritta, e os filhos, André e Vera, juntaram-se ao Presidente da República, presidente do parlamento e primeiro-ministro enquanto o batalhão da GNR tocou a marcha fúnebre.

Iniciada a cerimónia, no exterior, a grande maioria das pessoas que aplaudiu a chegada do cortejo fúnebre aos Jerónimos continuou, apoiada nas barreiras de segurança, em silêncio, a ver a transmissão do funeral no ecrã gigante instalado perto da entrada do mosteiro.

Aplausos no último adeus

O cortejo fúnebre do ex-Presidente da República Jorge Sampaio fez a última paragem no cemitério do Alto São João, em Lisboa, às 12:38 de hoje, mais cedo do que inicialmente previsto, e foi recebido por aplausos de populares.

Algumas centenas de populares aguardaram junto ao cemitério do Alto de São João para o último adeus ao antigo chefe de Estado, tendo sido colocado algumas grades para manter o distanciamento entre as pessoas e o cortejo fúnebre.

Inicialmente previsto para as 13:30, o cortejo fúnebre chegou às 12:38 ao cemitério, onde estava formada uma guarda de honra constituída por 165 militares dos três Ramos das Forças Armadas, comandada pele capitão-de-fragata Silva Caldeira.

A guarda de honra é composta pela banda da Armada, o estandarte da Marinha, uma companhia de fuzileiros, outra de comandos e uma outra de militares do Centro de Formação e Técnica da Força Aérea na Ota.

A cerimónia fúnebre que decorre no Cemitério do Alto de São João é privada.

ZAP // Lusa

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9 Comments

  1. Perante o espalhafato das cerimónias fúnebres de Jorge Sampaio, a minha consolação é a de que, dentro de alguns anos, Jorge Sampaio estará tão esquecido como qualquer humilde português que, por coincidência, tenha morrido no mesmo dia que ele. O que é natural já que, tivesse Jorge Sampaio nunca visto a luz do dia, Portugal seria exactamente o que é hoje, no bom e no mau. Por muitos discursos que se façam, Jorge Sampaio – assim como 99,9% dos políticos – foi totalmente irrelevante do ponto de vista macro. E os livros de história do futuro dedicarão, no máximo, duas linhas a Jorge Sampaio, se não for apenas uma nota de fim de página. Entretanto todo este espalhafato teve a vantagem de reduzir o noticiário sobre a Covid 19 ou sobre a transferência do Cristiano Ronaldo. Sic transit gloria mundis…

  2. Contas bem feitas e apesar das largas centenas de milhões vindas de Bruxelas o país continua na cauda da Europa, no entanto, os políticos são postos no pedestal com direito às mais elevadas condecorações nacionais, pelos bons serviços prestados à nação.

    • Independente do bem ou do do mal que os políticos facam o protagonismo está sempre presente seja em que situações forem.
      São sempre os melhores dos melhores . O principal fica para depois.

  3. Depois de tantos anos que Portugal premanece na UE os ordenados das pessoas em Portugal não igualaram sequer os dos espanhóis que ganham muito mais do que nós com um custo de vida idêntico. Duas bancas rôtas no tempo do Soares e um décimo terceiro mês na gaveta.No Sócrates uma banca rôta com a vinda da troica. De quem é a culpa ? Dos políticos nunca é.

  4. “Não há portugueses dispensáveis” Generosidade, fraternidade e sensibilidade, tão profundamente humanas que o levaram a iludir-se a si mesmo. Há muitos portugueses – seja esta treta o que for – dispensáveis, mesmo muitos. Se dúvidas existissem, os comentários acima demonstram como Sampaio estava errado.

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