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Morreu Jorge Sampaio, um “grande senhor da democracia”, aos 81 anos

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Sampaio foi Presidente da República, secretário-geral do PS e presidente da Câmara de Lisboa. No plano internacional, assumiu diversos cargos e iniciativas de âmbito humanitário.

Jorge Sampaio, Presidente da República entre 1996 e 2006, morreu esta noite, aos 81 anos, na sequência de um internamento na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide.

Militante do partido socialista desde 1978, foi também secretário-geral entre 1988 e 1992. Presidiu à Câmara de Lisboa entre 1990 e 1995. Depois de se retirar da política ativa em contexto nacional, assumiu diversos cargos de foro global, como o de Enviado Especial na Luta contra a Tuberculose e o de Alto Representante da Organização das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações.

Em 2013, fundou a Plataforma Global para os Estudantes Sírios, com o objetivo de providenciar acesso à educação e a estudos a milhares de jovens que sofreram com o conflito no país. Recentemente, aquando da tomada do Afeganistão pelos talibãs, manifestou a sua intenção de estender a iniciativa também a jovens afegãos.

No início do seu percurso, ainda estudante na Universidade de Lisboa, assumiu-se como um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, até ao 25 de Abril de 1974. Enquanto advogado, defendeu casos célebres, como a defesa dos réus do assalto ao Quartel de Beja, o caso da `Capela do Rato’, em que foram presas dezenas de pessoas que protestaram contra a guerra colonial.

Depois do 25 de Abril de 1974, militou em formações de esquerda, como o MES, onde se cruzou com Ferro Rodrigues, ex-líder do PS atual presidente do parlamento.

O “candidato sou eu próprio”

Com um vasto percurso político e dois mandatos presidenciais — nos quais conviveu com quatro primeiros-ministros —, considerados, de forma unânime, bem conseguidos, Jorge Sampaio terá no seu legado dois momentos reveladores do “sentido de Estado” que Rui Rio, hoje, nas reações à sua morte, destacou.

Em 1989, perante a sucessiva rejeição de candidatos à Câmara de Lisboa para as eleições autárquicas de 1989 (João Soares e Nuno Portas eram vistos como os nomes mais expectáveis), Sampaio, que à altura era secretário-geral do PS, jogou uma cartada inesperada e, colocando o seu próprio futuro a cheque, avançou ele próprio como candidato, para surpresa das hostes socialistas e da própria comunicação social. A frase com que fez o anúncio é icónica na política portuguesa. “O candidato sou eu próprio

Em 2001, na sequência do mau resultado do Partido Socialista nas eleições autárquicas que originou a demissão de António Guterres do cargo de primeiro-ministro, Sampaio, já como Presidente da República, convocou eleições legislativas antecipadas, as quais viriam a eleger o Partido Social Democrata, liderado por Durão Barroso.

Africa Renewal / Flickr

O ex-Presidente da República Jorge Sampaio

Três anos mais tarde, perante a saída de Barroso para assumir a função de presidente da Comissão Europeia, Jorge Sampaio enfrentou viu-se confrontado com a decisão de dissolver a Assembleia da República e convocar novas eleições legislativas ou permitir à força política com mais representação no Parlamento (o PSD, neste caso, com maioria absoluta) formar um novo Governo.

Acabaria por escolher a segunda, indigitando, consequentemente, Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro. A atitude teve também consequências no PS, com o então líder, Eduardo Ferro Rodrigues, a apresentar a candidatura.

No entanto, num volte-face poucos meses depois e contrariando o compromisso que havia feito com o então chefe do Executivo, Sampaio dissolve a Assembleia da República — uma ação considerada a “bomba atómica” dos poderes presidenciais em Portugal — e convoca novas eleições, o que acabaria com a governação da coligação do PSD e do CDS e abriu caminho à chegada de José Sócrates ao poder.

“Um grande senhor da democracia”

Após a notícia da morte de Jorge Sampaio ser conhecida, inúmeras personalidades, políticas e não só, expressaram a sua tristeza face ao sucedido e admiração pelo figura do antigo chefe de Estado.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou a luta pela “liberdade na igualdade” de Sampaio, considerando que essa foi a sua principal causa, na qual se bateu serenamente.

“Portugueses, acabei de exprimir à família do Presidente Jorge Sampaio, em dor, o pesar de todos vós. Lutando, mas serenamente, nos deixou hoje o Presidente Jorge Sampaio. Lutando serenamente, como sereno foi o seu testemunho de vida ao serviço da liberdade e da igualdade.” Marcelo Rebelo de Sousa falou ainda num homem “”sereno na sua luminosa inteligência, sereno na sua profunda sensibilidade, sereno na sua paciente, mas porfiada coragem“.

Marcelo disse ainda que Sampaio foi “um grande senhor da democracia“, mas, mais do que isso, foi um “homem bom”.

António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS, começou por referir o “sentido cívico, de militância, de militância, de convicção” com que Sampaio assumiu as funções políticas, mas também a luta contra a ditadura e pelos direitos dos refugiados sírios a prosseguir os seus estudos. “Os seus cargos políticos foram só mais uma forma de exercer a sua cidadania”, disse ainda António Costa emocionado.

“Em nome do Governo e da generalidade e da generalidade dos portugueses, curvamo-nos todos na memória de alguém que foi um exemplo, um lutador pela liberdade, pela democracia e que tanto, tanto prestigiou com a sua verticalidade ética a nossa vida política”.

Eduardo Ferro Rodrigues, em comunicado, destaca na perda de um “amigo de longa data” e nos “valores humanistas, de uma visão progressista e de um forte dever cívico”. “Se perdi hoje um amigo de longa data, com quem tive o privilégio de partilhar sucessos e insucessos nesta constante luta pela Liberdade e pela Democracia, Portugal perdeu um dos seus mais prestigiados cidadãos, que sempre serviu o seu país com distinção e honra.”

Para o presidente da Assembleia da República, Jorge Sampaio “foi um socialista dos valores humanitários e da justiça social, para quem a solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos”. “Dotado de grande inteligência, vasta cultura e de um fino sentido de humor, Jorge Sampaio manteve uma constante intervenção político-cultural, nomeadamente em artigos e textos publicados em jornais e revistas.

Do lado dos partido, Rui Rio, líder do PSD refere-se a Jorge Sampaio como um “Presidente da República com sentido de Estado, com sentido da responsabilidade e que geria muito bem a proximidade e a distância. Conseguia fazer muito bem esse equilíbrio.” Rio reconheceu ainda que “apesar de ter havido algumas divergências”, faz “um balanço excecionalmente positivo daquilo que foi a vida pública do dr. Jorge Sampaio” que “começou ainda no tempo do Estado Novo, na luta contra a ditadura”.

Numa nota divulgada esta manhã, o PCP enfatiza a luta de Sampaio contra o fascismo e o seu percurso democrático. “Deve ser reconhecido o seu percurso democrático e de resistência ao fascismo no qual releva o papel desempenhado na defesa nos tribunais plenários, nos anos da ditadura, de numerosos antifascistas.”

Já o Bloco de Esquerda ressalvou o papel de Sampaio na “união da esquerda”. “Soube sempre unir e ser exigente”, explicou. Para Catarina Martins, Jorge Sampaio foi uma “figura central da democracia portuguesa” e que, após o 25 de abril, “soube fazer pontes à esquerda que permitiram projetos novos no país que o levaram a presidente da Câmara de Lisboa e depois Presidente da República”.

O líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, por sua vez, agradeceu o papel desempenhado pelo antigo Presidente da República na libertação de Timor, na defesa dos refugiados e dos oceanos. “Apesar das mais profundas divergências políticas que o separavam do CDS-PP, não posso deixar de lamentar a sua morte e agradecer o papel que desempenhou na libertação de Timor, na defesa dos refugiados, na luta pelos oceanos e também o serviço que prestou a Portugal”, afirmou.

Todos os partidos anunciaram a suspensão das ações de pré-campanha para as próximas eleições autárquicas, que se realizarão a 26 de Setembro. Na sua declaração, António Costa anunciou que o Conselho de Ministros se reunirá de emergência nas próximas horas, de forma a aprovar os três dias de luto nacional.

Jorge Sampaio sofria de problemas cardíacos, os quais estiveram na origem de quatro cirurgias. A primeira, logo após ser eleito para o segundo mandato presidencial — o que obrigou à sua substituição pelo presidente da Assembleia da República, a segunda figura institucional do Estado —, a segunda em 1999 e as duas últimas em 2017.

Mais recentemente, o antigo Chefe de Estado começou por ser internado no Algarve, onde passava férias, mas acabaria por ser transferido para Lisboa, onde os seus problemas de saúde eram há muito seguidos e acompanhados. Após alguns dias em que a sua situação clínica se manteve estável, os últimos dias ficaram marcados por um agravamento no seu estado de saúde.

ARM, ZAP // LUSA

52 Comments

  1. Com Grande Tristeza recebi a noticia. Os meus sentidos pesamos a todos os seus familiares. Foi um GRANDE HOMEM E UM GRANDE SENHOR DESCANSE EM PAZ

  2. Dos cinco presidentes eleitos, claramente o pior. Pior mesmo que o actual e os que lhe antecederam e sucederam, que também não foram muito melhores.
    Entre o seu inestimável legado, contam-se a promoção de um golpe de Estado, a protecção de alegados pedófilos, a intransigente defesa dos superiores interesses dos amigos do partido e, segundo a comunicação social da altura, a colocação dos filhos, recém licenciados, em bons tachos (o filho, licenciado com 10, na desaparecida PT a ganhar 6.000€/mês; a filha no gabinete do Vieira da Silva, com uma avença de excepção de 14 meses x 3700€/mês, quando todos os demais já só tinham avenças de 12 meses).
    Enfim, menos um encargo para os contribuintes, que, claramente, também não lhe vão sentir muito a falta. Eu pelo menos, não!
    E, sim, votei nele uma vez. Era jovem e inconsciente e todos erramos…

      • O Paulo L tem alguma prova que possa comprovar que é Português? Ok, já sei, o BI diz que sim, mas tem algum serviço prestado ao país ou à comunidade da sua rua? O caro e os seus correlegionários não passam de números estatísticos. Como é que zeros estatísticos podem criticar um homem que toda a sua, mesmo como estudante, serviu o país? Sampaio fez da sua vida uma compromisso cívico, nunca procurou fazer carreiras política, viver à custa dos contribuintes. Sampaio, advogado brilhante, sempre perdeu dinheiro no desempenho do serviço público. E nunca procurou os cargos públicos, foram eles que o exigiram. Sampaio, mesmo como dirigente do PS foi sempre independente, nunca alinhou em caldeiradas e compadrios. Ou seja, nunca se vendeu, poucos se podem orgulhar do mesmo.
        Percebe a diferença entre o cidadão Jorge Sampaio e a inutilidade estatística do número de BI que dará pelo nome de Paulo L?
        Vamos lá ao maior serviço prestado por Sampaio à democracia, à ética e a moral cívicas. Como poderia Sampaio manter no poder um partido cujo líder se vendera pelo melhor preço, abandonando os deveres que jurara ao ser empossado? Não foi Sampaio que abriu caminho a Sócrates, foi a corrupção do PSD.
        O pós 1974, tem sido avarento na produção de referências, uma dúzia, talvez, nenhuma é de direita, deve ser azar ou coincidência.

      • Caro AS:
        Com o devido respeito, transformar alguém como o cidadão Jorge Sampaio em herói merecedor de laudas e estátuas é próprio de alguém sem memória. O facto de ser educado e respeitador (reconheço-o) e um advogado brilhante (nas suas palavras) que sempre perdeu dinheiro na política, não é aceitável.
        Na sua carreira política, pelo menos de 1989 a 2006, e especialmente enquanto Presidente da República Jorge Sampaio colocou os interesses do partido e da família acima do país (já atrás o referi, não irei repetir-me).
        O resultado da sua acção foi ter hipotecado o meu futuro e o futuro dos meus filhos, por conta das malfeitorias praticadas pelo indivíduo que ocupou o cargo de Primeiro-Ministro após a dissolução da Assembleia da República por si promovida. E isso, vai desculpar-me, laudas algumas e avençado algum me fará esquecer. Se hoje temos mais de 130% do PIB em dívida pública, e 273 mil milhões de euros de dívida pública, convém lembrar que, aquando da saída de Santana Lopes (e volto a dizê-lo, não gosto de Santana Lopes) a dívida pública rondava os 60 mil milhões. Além do brutal crescimento da dívida, a herança do Senhor Pinto de Sousa foram contas desequilibradas que obrigaram à intervenção da troika estrangeira e às medidas muito duras do governo Coelho/Portas que, de mãos atadas, (e goste-se ou não – e esse foi para mim o período mais duro da minha vida) fizeram aquilo que podiam e tinham de fazer, pese embora por muitos, ainda hoje, incompreendidos.
        O país que Costa e geringonça herdaram em 2015 era muito diferente do de 2011. E esse de 2011 era muito diferente do do final de 2004/início de 2005. E era diferente, por acção directa do ora falecido.
        Que fique claro: o maior respeito pelo ser humano falecido; mas o maior desprezo pelo político e pela sua participação no processo que conduziu à ruína do país.
        Bem-haja!

      • Sr Sykander, a dívida pública em 2005 (entrada de José Sócrates) era de 114 mil milhões e não de 60 mil milhões, Durão saíu porque “o país estava de tanga” (palavras dele). É bom relembrar o artigo de Cavaco Silva sobre “a boa e má moeda”, que precipitou a disolução da AR (precisava dum PM de esquerda para ser eleito presidente). Atirar a culpa da nomeação de Sócrates a Jorge Sampaio, resultado duma eleição libre e da decisão dos portugueses não faz nenhum sentido. Sócrates não foi nomeado por um presidente ditator, foi eleito! Sampaio é criticado por ter sido um defensor da liberdade, foi “Um grande senhor da democracia” , que não governou pelo medo matando os seus opositores como a outra Senhora.

      • Caro Senhor Xico,
        Tem razão! Erro meu. Pensei em percentagem, escrevi em Euros. Em 2005, a dívida pública era de facto, como muito bem corrigiu, 114 mil milhões de euros. Obrigado pelo reparo!

        Ainda assim, duas notas:
        1 – Volvidos 16 anos, quase triplicou (273 mil milhões em 2021). E a pergunta impõe-se: vivemos melhor em 2021 do que em 2005? Temos mais e melhores escolas? Mais e melhores hospitais? Mais e melhores estradas? Fizemos o TGV (esse elefante branco – nota de sarcarmo porque entendo ser um projecto estruturante) ou o novo aeroporto?

        2 – Deixo para reflexão vossa a notícia desta ligação: https://www.dinheirovivo.pt/economia/a-divida-publica-de-portugal-e-20-vezes-maior-do-que-em-1974-12620612.html.

        Adicionalmente:
        a) Lembro-me bem das palavras de Durão Barroso: “o país está de tanga”. Se se dizia isso em 2004, o que dizer em 2021?

        b) António Guterres (já aqui o escrevi, o PM que,não obstante os muitos erros que cometeu, mais apreciei desde que me conheço como gente) também disse, no final da noite autárquica de 2001: “demito-me porque o país caminha para o pântano”;

        c) Relativamente à exoneração de responsabilidades que faz de Sampaio pela eleição de Sócrates, vamos optar por concordar na discórdia. O acto que precipitou a eleição de Sócrates foi a dissolução de uma maioria estável na Assembleia da República. Sócrates foi eleito pelos portugueses? Pois foi! Foi até eleito com o meu voto, facto pelo qual me penitencio ainda hoje!

        d) Na verdade, a chegada de Sócrates a PM, e nunca o revelei publicamente, foi uma das razões que me levou a entregar o cartão de militante do PS, quando tinha acabado de receber um convite, que recusei, para integrar a lista do PS à Câmara Municipal do meu concelho, em lugar que desde 1993 é sempre sinónimo de eleição, e que provavelmente me teria possibilitado escapar incólume à crise de 2008-2015.

        e) Guterres foi em muitos aspectos, pouco competente, cometeu muitos erros, e é um dos primeiros responsáveis pelo estado actual (um exemplo é a criação de nova despesa com o RMG, hoje RSI, coma folga orçamental que a entrada no Euro nos deu em termos de juros da dívida pública. Mas, reconheço, era sério.

        f) Diferente é o caso de todos (do que sei Seguro é a excepção) aqueles que lhe sucederam, com o actual à cabeça. É por ter estado dentro do PS, por ter conhecido alguns dos actuais protagonistas que hoje lhe digo, dificilmente, para não dizer “jamé”, voltarei a votar PS.

        g) e, por fim, uma coisa que não posso deixar de corrigir. Se sabe história e se é uma pessoa informada (e o seu comentário sugere-o) não pode escrever que Salazar mandava assassinar os opositores. Uma coisa era prendê-los, impedi-los de participar na vida pública, desterrá-los e encarcerá-los em prisões políticas. São factos que não podem negar-se. Diferente é afirmar aquilo que afirmou. Seria até útil partilhar com todos nós a história de Cunhal que, encarcerado no Forte em Peniche, concluiu uma licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Confundir um acto isolado, de um agente da PIDE/DGS que claramente exorbitou as ordens que tinha, com a política do regime não é sério. Não confunda, p.f., Oliveira Salazar com o pai das gémeas Mortágua, ou com o recém falecido Otelo Saraiva de Carvalho.

      • Caro, se tenho provas, logo posso provar, não é necessário a redundância na pergunta, por este texto o Sr. Prova que é português, daqueles que se marimbaram nos estudos e seguem o pensamento comum, mas para que aprenda alguma coisa enquanto por aqui anda, as perguntas correctas seriam “ tem alguma prova que é Português?” ou “pode comprovar que é Português?”.

        Não posso mostrar BI porque não tenho, mas tenho o cartão de cidadão.

        Quanto ao que fiz por Portugal, enquanto militar estive destacado no exterior ao serviço do interesse nacional, ao longo da minha vida participei em 3 projectos de caracter voluntário em Portugal e desde que iniciei a minha vida professional nunca tive um dia desempregado e apenas tirei uma semana de baixa para uma operação e 5 baixas de paternidade (de dois filhos não tirei baixa porque na altura não existia). Estive 10 anos da minha profissional no exterior mas sempre optei por descontar em Portugal por conseguir estatuto de trabalhador europeu não residente (nos países em que estive).
        Portanto durante todo este tempo (28 anos) descontei para o país, e felizmente para mim, em muitos destes anos descontei quantias superiores ao que a maioria dos portugueses ganha.

        Quanto ao resto já o Sykander lhe respondeu e com o devido respeito, subscrevo.

        Agora passo-lhe o reto e pergunto, e você o que fez por este Portugal?

      • LOL, era uma pergunta retórica, não necessitava de resposta, mas obrigado por se ter dado ao trabalho e também pelo contributo/paciência no fórum

    • Nunca pensei ver alguém dizer que o Sampaio foi pior presidente do que o Cavaco!…
      Para mim, apenas o Ramalho Eanes foi melhor presidente do que o Sampaio.

      • Caro Eu! Raramente concordamos. E, neste caso também não. Cavaco foi um mau Presidente? Decerto! Foram demasiados casos? Concordo! Ainda assim, foi melhor Presidente, com sentido de Estado (podia ter puxado o tapete a Sócrates e não o fez; podia ter dissolvido o parlamento na brincadeira do irrevogável e não o fez, podia não ter dado posse ao Governo geringonça e não o fez) do que Primeiro-Ministro. Apesar de tudo, não usou a bomba atómica para deitar abaixo um governo maioritário, com argumentos que, se se tivessem tornado moda, seguramente, já teriam sido usados uma e outra vez com o actual e anterior governo. E, também no tempo do irrevogável (e sim, nos últimos anos voto à direita, mas isso não quer dizer que não pense pela minha cabeça. Irrevogável, é irrevogável. Portas, ou não usava essa palavra, ou era consequente!).
        Mas estamos de acordo num ponto. Dos cinco eleitos, Eanes foi o melhor. Foi o Presidente necessário, num tempo difícil. Quanto ao resto, com o respeito habitual, temos visões diferentes. Bem-haja!

      • O Sampaio sempre me pareceu uma pessoa honesta e íntegra e a sua participação na questão de Timor sempre me fez ter o Sampaio em grande conta.

        Não concordamos relativamente ao Cavaco (muito manhoso e intriguista) e não percebo como poderia ele não ter dado posse ao governo da geringonça se eles tinham o apoio maioritário no Parlamento…

        Bem-haja!

      • Não gosto de Cavaco e até subscrevo as suas palavras em relação à pessoa. Acrescentaria mais alguns mimos, mas não trariam nada de útil à discussão. Mas poderia não ter dado posse. Mesmo com a alteração de 1982, a CRP continua a admitir a possibilidade de um governo de iniciativa presidencial. PS, PCP e BE não tinham um acordo parlamentar total, nem havia a garantia total de uma estabilidade efectiva até ao final da legislatura. Num tal cenário o presidente poderia tê-lo exigido e, na sua falta, nomeado um governo de iniciativa presidencial.
        Na noite eleitoral de 2015, disse a um amigo que Costa iria aproveitar a oportunidade, com PCP e BE. E, foi o que aconteceu. Mas, naquela altura exigia-se estabilidade. Ela não ficou garantida com a geringonça e, leitura minha, Cavaco não quis ter o mesmo rótulo com que acabou Sampaio. Além de, como também é público, ser visceral o ódio e o desprezo que Cavaco nutre por Passos Coelho (não esquecer que conviveram como Presidente do PSD e Presidente da JSD…)
        Cumprimentos

    • Grata, Gostei da sua exposição, a qual por ser verdadeira e irrefutável, dado que o que refere está em diversas publicações, não agrada aos democratas que por aqui expressam/impõem uma visão do tipo Norte-coreana.

      • Grato! É justamente isso: verdadeira e irrefutável. Só refuta o irrefutável, quem não tem memória. E, um povo sem memória está condenado a repetir os erros passados. Não sou perfeito, não sei tudo. Mas tenho memória e não sofro de partidarite. E, acrescento: engano-me muitas vezes. Votei em Sampaio, como votei em Sócrates uma vez. Enganei-me. Engano que espero não repetir (e que já não repeti com Costa).

      • E o importante é isso e mostra a nossa verdadeira instrução e liberdade…., a de pensamento, somente escrava da Verdade e da Justiça. Todos nos enganamos…, a questão é que nem todos têm a coragem de o reconhecer e muito menos a corrigir.
        Bom fim-de-semana.

      • Há um Senhor que foi Primeiro Ministro e Presidente da República que disse um dia “nunca me engano e raramente tenho dúvidas” (embora também tenha dito, e com muita razão “não há almoços grátis”). Eu, pelo contrário, engano-me muitas vezes e a dúvida é o meu estado permanente!.
        Obrigado e igualmente!

  3. Subscrevo as palavras de Sykander e Carlos Sousa.
    Abriu as portas à corrupção “socratiana”, que sofremos até aos dias actuais com o kostinha.
    Soube bem defender a sua imagem com acções “de beneficência” em lugares politicamente correctos.
    Tudo da mesma cepa do PS no seu melhor… que nunca é o melhor para o País, mas sim para eles e suas famílias.
    Fará falta à família, mas aos portugueses não xuxas não faz falta nenhuma. Não é porque morreu que passa a ser um herói… como sucedeu com o assassino Otelo…

    • Subscrevo na íntegra.
      Lá porque morreu (paz à sua alma – mas todos temos de morrer um dia e há quem morra bem mais cedo e sem ter vivido o que este cidadão viveu), não vamos agora estar com discursos laudatórios apenas porque é politicamente correcto.
      Surpresa, ou não, no meio disto tudo são as palavras de Durão Barroso que parece ter esquecido que o falecido lhe mentiu descaradamente. Mas, enfim, o cherne, além de ser o mais nobre dos peixes, é também um hábil político ainda com aspirações internas. Percebe-se, mas não aceito.
      Por fim, convinha que os Senhores jornalistas se dessem ao cuidado de obter uma reacção de Santana Lopes (note-se que não gosto de Santana Lopes, mas foi objectivamente prejudicado pelas acções deste cavalheiro). Na verdade, por bem menos do que os sucessivos escândalos que têm abalado este governo/governantes (do MAI ao MNE, Defesa, etc.) foi puxado o tapete ao Santana Lopes, abrindo, como bem refere portas ao Senhor Pinto de Sousa, cuja factura perdurará até ao tempo dos nossos netos.

      • Quem abriu as portas ao Sócrates foi o Durão ao fugiu para Bruxelas, abandonado o compromisso que tinha assumido com os portugueses!

      • Peço desculpa, caro Eu! Não posso concordar. Durão Barroso, independentemente das motivações (que admito sejam discutíveis para a opção que tomou – na altura pensei como o Senhor, hoje penso de maneira diferente) que o levaram a ir para Bruxelas, negociou com Sampaio uma transição de poder sem eleições. É verdade que todos esperavam que o testemunho fosse passado a Manuela Ferreira Leite e que Santana Lopes era (e ainda é!) uma figura controversa. Foi Sampaio quem não cumpriu.
        Os factos que motivaram a dissolução da AR são muito menos graves do que outros ocorridos recentemente.

      • Não precisas de pedir desculpa por discordar da minha opinião!
        Admito que não me lembro desses pormenores mas o Santana como PM estava a ser uma desgraça e, como não foi ele quem se submeteu ao sufrágio popular, pouca legitimidade tinha e, se começou fazer dispatates, parece-me natural a intervenção do PR Sampaio…
        É a ideia que tenho, embora admita que não sei muito sobre esse caso em particular.

  4. O problema de Sampaio, como de outros “lutadores anti-fascistas” é que o seu ódio ao Estado Novo era de tal ordem que, para o derrotar, ignorou-se o interesse nacional fundamental. Foi o caso da chamada “descolonização”. Para dar cabo do Estado Novo aceitou-se um processo altamente destrutivo e lesivo dos interesses dos habitantes do antigo Ultramar, quando teria sido perfeitamente possível conciliar a democratização de Portugal com uma descolonização que não tivesse levado a terríveis guerras civis em Angola e em Moçambique. Mas Sampaio e muitos dos outros acharam que para chegar à democracia valia tudo. Esquecendo que mesmo sem o 25 de Abril a liberalização e democratização do regime era inevitável. Talvez demorasse mais uns quatro ou cinco anos, mas ter-se-ia chegado lá com muito menos sofrimento. Mas para isso era preciso paciência e inteligência, coisas que havia em doses insuficientes na oposição da altura.

    • Em 74 já não havia nada a fazer relativamente à descolonização (teria que ter começado uma década antes) porque Portugal já não era tido nem achado nem tinha qualquer poder negocial nas colónias.
      O mal já estava feito e ninguém queria saber da opinião de Portugal para NADA!

  5. Quanto a mim uma pessoa educada, a opção de estar a bem com todos para mais quando se é político nem sempre resultará da melhor forma, ossos do ofício!

  6. Descanse eternamente…
    Foi um Presidente da República que falhou no momento errado. No dia em que o Sr. Durão Barroso “deu de frosques” Sua Exa. O Sr. Dr. Jorge Sampaio “só tinha uma hipótese”, que era pedir eleições! Porquê? Porque o Governo tem que ser demitido se o Primeiro Ministro ficar fisicamente impedido de exercer o cargo, (o que foi o caso pois não é possível fisicamente estar em Bruxelas e estar em Lisboa ao mesmo tempo), e com a demissão do Governo é dissolvida a A.R. e convocadas novas eleições. Se assim não fosse para que servem as moções de censura? Não é para deitar o Governo abaixo e convocar novas eleições?? Como o Sr. Dr. Jorge Sampaio não percebia nada de ciências exactas, pensou que só poderia demitir o Governo se o Primeiro Ministro ficasse “encravadinho” tipo o Sr. Oliveira Salazar… Não Sr. Dr. Jorge Sampaio! Ficar fisicamente impedido também é não poder estar em dois lugares ao mesmo tempo, é fisicamente impossível!!

  7. Santana agora já podes falar. Desabafa homem. Toma lá o microfone.Os tempos passaram a revolta ficou. Na Figueira ergue a bandeira da vitória e salva a tua honra. Foste sempre um político de combates.
    Os figueirenses estão à tua espera e vão receber-te com pompa e circunstância.As sondagens já te dão maioria absoluta .Os figueirenses vão-te dar tudo e dar à tua imagem o esplendor de outros tempos. Votem neste grande homem que é o Santana Lopes.É o homem que desafiou o seu partido dividido e enfraquecido para seguir novos caminhos e novas lutas.

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