Quem é JD Vance, o vice de Trump que o comparou a Hitler

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Gage Skidmore / Flickr

JD Vance, Senador do Ohio e candidato de Trump para vice-presidente

Depois de ser um crítico aguerrido de Donald Trump em 2016, JD Vance é agora o seu candidato a vice-presidente no confronto com Joe Biden.

Depois de vários meses de especulação, está confirmado: o Senador do Ohio JD Vance vai ser mesmo o número dois de Donald Trump na sua tentativa de voltar à Casa Branca.

Nascido a 2 de Agosto de 1984, James David Bowman nasceu em Middletown, no Ohio, num contexto familiar complicado — o pai abandonou a família quando ainda era pequeno e a mãe era viciada em drogas. Segundo o seu livro de memórias “Hillbilly Elegy”, publicado em 2016, foram os seus avós que o criaram.

O Senador também se identifica com as suas raízes familiares no território de Appalachia, que inclui algumas das áreas mais pobres de todo o país. Na sua biografia, que conta uma história típica do sonho americano, JD Vance retratou-se como um contraponto das “elites” e como um homem que conhece as dificuldades da classe trabalhadora, sem esconder os seus valores conservadores.

Serviu na marinha norte-americana e combateu na guerra do Iraque, tendo depois estudado Direito na Universidade de Yale e começado a sua carreira como um investidor de capital de risco na Califórnia. Transformou-se num nome conhecido quando publicou a biografia em 2016, que se tornou um best-seller.

Os rumores de que se iria aventurar pela política foram confirmados em 2022, quando entrou na corrida para substituir o Senador Republicano Rob Portman, que decidiu não concorrer para a reeleição.

Inicialmente a sua campanha demorou a ganhar tração, especialmente tendo em conta os seus comentários anteriores sobre Donald Trump — mais sobre isso a seguir —,  mas, no final, JD Vance pediu desculpa pelas suas declarações e garantiu o apoio do ex-Presidente, que lheu deu o empurrão final para assegurar a vitória.

As suas políticas

Enquanto Senador, JD Vance tem ganhado destaque como uma das principais vozes opositoras ao apoio incondicional dos Estados Unidos à Ucrânia, considerando que o envolvimento de Washington no conflito ucraniano “não tinha nenhuma conclusão óbvia ou mesmo um objetivo que estejamos perto de alcançar”.

Os seus votos no Senado têm-se alinhado com as políticas típicas dos Republicanos. Sobre a questão da imigração, afirmou recentemente na Conferência Nacional do Conservadorismo que “a verdadeira ameaça à democracia americana é que os eleitores continuem a votar por menos imigração e os nossos políticos continuem a recompensar-nos com mais.”

Tamém houve espaço para ataques à esquerda, que está a deixar “sob cerco” a “ideia básica que devemos ser capazes de construir uma vida boa para as nossas famílias no país a que chamamos de lar”. JD Vance também é bastante conservador nas suas visões sobre o divórcio, tendo já caracterizado o divórcio sem culpa como “um dos grandes truques da revolução sexual na população americana”.

Relativamente ao aborto, começou por apoiar uma proibição federal a partir das 15 semanas de gestação, mas recentemente mudou de opinião e passou a concordar com Trump, achando que a decisão deve caber a cada estado.

Sobre o conflito no Médio Oriente, JD Vance é um defensor ferrenho de Israel e apoiou uma proposta para cortar o financiamento a universidades que sejam palco de protestos pró-Palestina. O Senador defende ainda cortes para as faculdades que empreguem imigrantes ilegais.

Alinhado com a retórica anti-China de Trump, também apoiou uma lei que isolaria o Governo de Pequim dos mercados de capitais norte-americanos caso os chineses não seguiam as regras da Organização Mundial do Comércio.

Trump é o “Hitler da América”

Talvez o facto mais surpreendente nesta escolha é o grande historial de críticas duras de JD Vance a Donald Trump, tendo até já dito que nunca gostou de Trump e que quem vota nele “é um idiota”.

Em Fevereiro de 2016, Vance enviou uma mensagem ao seu ex-colega de quarto da faculdade de direito, Josh McLaurin, onde afirmava que estava indeciso entre “pensar que Trump é um idiota cínico como Nixon, o que não seria tão mau (e pode até ser útil) ou que ele é o Hitler da América”.

Numa coluna de opinião em 2016, o agora número dois de Trump comparou-o a “heroína cultural” que promete “soluções simples para problemas complexos”. “Ele nunca dá detalhes sobre como esses planos vão funcionar, porque ele não consegue. As promessas de Trump são a agulha na veia coletiva da América”, comentou.

Na antecipação do confronto com Hillary Clinton, Vance chegou a ponderar votar na candidata Democrata, mas acabou por confessar que votou num terceiro partido por não “aguentar com Trump”. “Acho que ele está a levar a classe trabalhadora branca por um caminho muito negro“, apontou. Desde então, o Senador já mudou de tom e disse ter votado em Trump em 2020.

Num tweet agora apagado, Vance também descreveu Trump como “repreensível”. “Trump deixa pessoas com quem eu me importo com medo. Imigrantes, muçulmanos, etc. Por causa disto, acho-o repreensível. Deus quer algo melhor de nós”, escreveu.

A escolha para suceder a Pence

Depois de a relação com o seu anterior vice-presidente ter acabado mal após Mike Pence ter recusado ajudar Trump na sua tentativa de reverter os resultados da eleição de 2020 — tendo Trump até alegadamente concordado com os cânticos dos seus apoiantes que queriam enforcar Pence —, o candidato presidencial passou vários meses a afinar a nova escolha para o seu número dois.

Apesar de a vitória de Trump no Ohio estar praticamente garantida, com o agregadorde sondagens FiveThirtyEight a dar-lhe uma vantagem de quase 10 pontos sobre Biden, o ex-Presidente espera que as raízes trabalhadoras de Vance o ajudem a conquistar o eleitorado nos estados do “rust belt” — uma região industrializada decisiva e que garantiu a vitória de Trump sobre Hillary Clinton em 2016 e a de Biden sobre Trump em 2020.

Vance também contou com o apoio de conselheiros próximos de Trump, incluindo o seu filho mais velho, Donald Trump Jr., e Steve Bannon, o estratega que foi o cérebro da sua campanha de 2016. O ex-comentador da Fox News Tucker Carlson também considera que o Senador do Ohio é a melhor escolha para concorrer com Trump.

A relação entre os dois cresceu na primavera e no verão através de aparições conjuntas em eventos de campanha e de angariação de fundos a portas fechadas na Califórnia, onde Vance também ajudou Trump a conquistar o apoio financeiro de empresários do ramo tecnológico.

Segundo a CNN, a última reunião antes da decisão final ocorreu no clube Mar-a-Lago de Trump no sábado, poucas horas antes de o ex-Presidente viajar para o comício na Pensilvânia onde sobreviveu à tentativa de assassinato. Uma fonte familiarizada com a discussão descreveu o tempo que passaram juntos como “a entrevista final antes de conseguir o emprego”.

Adriana Peixoto, ZAP //

5 Comments

  1. A noticia só o seria de facto, se esperássemos dos políticos, honestidade e coerência. Como não é o caso, é uma não-noticia.

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  2. lol nao batas nos Srs. da ZAP, neste caso é notícia, e mais uma e para as estatísticas. mais uma vez os politicos demonstram o que sao. neste caso, que vendem a mae ao diabo para terem uma chance de saltar para o poleiro.

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